Moçambique está atravessando um momento grave da sua história por causa
fundamentalmente de ausência de uma liderança com visão patriótica e
estratégica. Uma vez no poder, todo um país se transforma, no seu entender, em
seu quintal privado Tudo se resume à manutenção do poder por todos os
meios. Tudo se resume à recusa permanente de partilhar e compartilhar o país.
Tudo se resume à existência de uma clique que se julgava que tinha abocanhado o
país. Tudo se resume à inexistência de liderança proactiva. Tudo se resume à
subestimação da realidade e a jogos de cintura de um grupo que, desde Dar es
Salaam e Argel, passando por Nachingwea, convenceu-se de que Moçambique sem
eles não é Moçambique.O preconceito político, uma elite vazia e parasita,
incapaz de dar subsídios e de contribuir de maneira concreta para que o
desenvolvimento aconteça, acreditando que ao nível da região tem os apoios
necessários para se manter no poder, mesmo contra a vontade popular, está
efectivamente cavando a sua própria sepultura.Fala-se de democracia, e alguns
dizem que são partido defensor da democracia, mas, quando se verifica e se
analisa a maneira como decorreram as últimas eleições gerais, só se pode
concluir que democracia, para esta gente, significa conceber e executar fraudes
de todo o tipo. Manter o poder, mesmo que seja através da viciação pura e
cristalina, não envergonha quem perdeu esta palavra ao longo do percurso.Os
moçambicanos não querem desenterrar fantasmas, mas também não se esquecem dos
tempos do terror monopartidário e totalitarista, dos tempos dos grupos de
vigilância, dos tempos dos campos de reeducação, dos tempos das loja do povo e
das lojas dos responsáveis, dos camaradas e dos cidadãos de segunda.Manifestações
saudosistas de gente que estava habituada a espezinhar tudo e todos, gente
habituada a elogiar o chefe, para assim o controlar, gente que efectivamente
substituiu o fascismo por outro fascismo chamado marxismo-leninismo, em nome de
uma suposta pureza ideológica, quer continuar a subjugar os moçambicanos.Mas a
dinâmica histórica é imparável, e os povos aprendem e aperfeiçoam os seus
mecanismos de defesa. Há uma manifesta vontade de mudar, que os ditadores de
ontem e os camuflados de hoje não conseguem travar.Nada se resume à organização
de congressos e à vitória da manipulação ou à distribuição do poder entre os
acólitos e melhores seguidores.As migalhas que se entregam aos que concordam e dizem “sim” ao chefe não
satisfazem a maioria dos moçambicanos e jamais serão aceites por estes.A
República é incompatível com o culto da personalidade, e o que alguns ditos
deputados fazem no parlamento envergonha e enoja. Cantam e glorificam chefes,
como se isso fosse, em si, o que significa democracia e progresso. Enoja ver
gente adulta transformada em moleque incapaz de pensar e de honrar a sua
dignidade humana intrínseca.Temos problemas em Moçambique porque há gente que
supõe que é um imperativo nacional que governem.Apressam-se a assinar contratos
em fim de mandato, porque para eles governar é governarem-se.Inauguram obras e
não se cansam de viajar como se fossem caixeiros-viajantes. E depois dizem que
isso é governar. Convenhamos que já não enxergam.Não confiam em ninguém e não
admitem nem aceitam que exista opinião diferente. Contestar, para eles, é um
pecado mortal.Inquinaram instituições e estabeleceram esquemas corruptos e
perniciosos, tudo para se manterem no poder.Não é por acaso que nem o STAE nem a CNE sabem o paradeiro dos editais.Não é
por acaso que estudar ou conseguir emprego no país obedece a esquemas.Desde o
nascimento até à morte, o moçambicano tem de submeter-se a esquemas, para que
alguma coisa se concretize. Antes era o “deixa-andar”, agora é o “refresco”
para abrir caminhos.Será ganância ou medo de perder o acumulado que move e une
gente desavinda?
Será ingenuidade ou simplesmente miopia própria de gente caduca, fósseis e
vegetais, que promove conflitos desnecessários num país que tem tudo para dar
certo?
É urgente encontrar terapia apropriada para quem sofre de egocentrismo crónico.A
música de que libertaram o país já está gasta e o disco está riscado.Temos
muito respeito pelo que os combatentes da luta anticolonial fizeram, mas não
aceitamos que eles substituam o colono na forma como procedem e como governam o
país.Uma coisa é certa, não há como coexistir com tanta fraude e roubalheira
descarada. Outra coisa bem certa é que existem falcões interessados em
restabelecer as hostilidades político-militares, de modo a segurarem-se no poder
por mais alguns anos.Existem razões fundamentadas para recear alianças
regionais de partidos que não conseguem coabitar democraticamente.Luanda,
Harare, Pretória, Maputo, quando juntas, preocupam, porque afastam a democracia
e não se importam de mais guerras na região.Tudo vale para alguns camaradas, desde que garanta que o poder não lhes fuja
das mãos (Noé Nhantumbo)
0 comments:
Enviar um comentário