Na
semana passada quando no Hotel Polana desceu dos seus aposentos para o lobby,
Girma Wake, o antigo CEO da Ethiopian Airways, recostou-se numa poltrona e se
embrenhou no seu tablet numa busca sobre Moçambique. Quando um alto quadro
local do sector dos transportes, que ele aguardava, chegou para cumprimentá-lo,
Girma contou que, em meia hora, tinha percebido que a LAM estava sentada por
cima de uma mina de ouro. Ele nomeou 4 factores que podiam alavancar o
crescimento exponencial do sector da aviação em Moçambique: gás, animais,
praias e camarão. Mas Girma se espantou com o estado precário da
LAM.
No
dia seguinte, 1 de Agosto, na sua intervencāo num evento sobre Necessidades de
Transporte Aéreo dos Megaprojectos, o gestor etíope de 75 anos, actualmente a
trabalhar como Chairman da RuandaAir, disse aquilo que nossos governantes há
muito precisavam de ouvir de uma voz autorizada: Governo é para fazer política;
linha área é negócio. Nada de interferências, asseverou ele. Se Moçambique
quiser ver sua LAM crescer, então que o Governo deixasse seus gestores
trabalharem; Governo serve para apoiar financeiramente mas nada de meter os
dedos no cockpit da gestão operacional.
Quando
Girma entrou para a Ethiopian em 2014 depois de anos passados na extinta Gulf
Air, ele estabeleceu suas condições. A principal era a de que não
aceitaria interferências de fora e queria toda a liberdade para indicar seus
gestores. Girma Wake recordou uma coisa que muitos governantes não sabem e nem
querem aprender: companhia área é um negócio de margem zero. Ou seja, no
balanço, o saldo entre custo e receita é por regra nulo.
Para haver lucro, é
preciso fazer crescer receitas e ir baixando inversamente despesas. Isso
envolve segurança na gestão e sua proteção contra interferências que afectem o
factor de custos, aumentando-os, ou os factores de receitas, reduzindo-as. No
caso da Ethiopian, ele se comprometeu em gerir a empresa de modo a que ela
deixasse de se anichar recorrentemente na mamadeira do Estado.
Logo
que Girma terminou seu testemunho em Maputo, meia sala se encheu de murmúrios.
Nossos governantes acabavam de levar uma valente bofetada. Tudo o que ele
disse, sua receita de sucesso, é o que não está a acontecer em Moçambique. Ou
seja, a LAM e o ambiente politico que a rodeia corporizaram tudo o que encaixa
no antípodas da gestão eficiente de linha aérea. Nos últimos anos, a companhia
nacional tem seguido esse caminho nebuloso. Reduzindo a receita e aumentando os
custos. Basta comparar o número de pessoas transportadas em 2017, que reduziu
substancialmente, e a dimensão de seus recursos humanais, que tem aumentado
drasticamente.
Os
recados deixados por Wake surgem em momento exacto agora que no leme da LAM
está o competente Engenheiro Pó Jorge (na foto), que herdou uma dívida acumulada de cerca
de 200 milhões de USD e uma situação estrutural errática. Desde a saída do Eng.
José Viegas, gestores da LAM duraram pouco tempo.
Mas também houve sempre uma
nítida interferência externa nas decisões puras de gestão. É esperado que o
recado deixado por Girma não seja repelido. A LAM precisa de estabilidade
também a esse nível. Seu future é ainda
incerto mas Moçambique tem este potencial do gás quase mais à māo agora. A LAM
vai precisar de uma substancial injecção financeira para agarrá-lo. Para isso,
tem de se apetrechar. As extractivas usarão a aviação como nunca se viu (por
exemplo, um voo diário será necessário para transportar 5 mil frangos de
Joanesburgo para Palma, para dar um pequeno exemplo).
O
futuro não é ainda risonho. A abertura do espaço aéreo para a competição
externa em voos domésticos, com a entrada da FastJet e da Ethiopian, vai dar
dores de cabeça à LAM. Em condições normais, este tipo de abertura é perniciosa
para companhias de bandeira e Moçambique é talvez o único pais no mundo que se
deu a esse exagero. A LAM vai agora enfrentar a Ethiopian nas suas rotas
domésticas, correndo o risco de também perder receitas na lucrativa rota de
Joanesburgo. A Ethiopian voando na nossa espinha dorsal vai sugar boa parte das
passagens para conexões em Joanesburgo. Quando soube que a Ethiopian vinha para
cá, Girma Wake ficou boquiaberto: What!!!? What!!!? What!!!? Nos últimos anos,
desde 2012, Girma tirou a RuandaAir do marasmo e agora passa uma semana de cada
mês no Togo fazendo o mesmo. Sua idade ja não permite abraçar novos desafios
mas é provável que Pó Jorge conte receber a luz inspiradora do seu sol tutelar.
Uma mentoria de Girma sobre a LAM seria ouro sobre azul. xxxxx
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