quinta-feira, agosto 23, 2018

Indisposição!!!


Quando Teodado Hunguana e Teodoro Waty tomam posição oportuna contra a deriva da CNE com sua interpretação legal partidarizada e anti-democrática, surgem da escória revanchista do regime vozes acusando-os de fazerem parte de um projecto político visando colocar o Samora Júnior na Presidência da República. Até Graça Machel, que não se posicionou politicamente a favor de Samora Júnior (ela carimbou apenas seu apoio maternal natural) está a ser colocada nessa imaginada conjura.
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As vozes que colocaram a nu a incompetência desta CNE amarrada num colete de forças entre o mono-partidarismo da Frelimo e o mono-partidarismo do MDM unidos contra a Renamo (e toda a CNE, incluindo o mono-partidarismo da Renamo, contra a AJUDEM) representam os necessários contra-pesos na sociedade contra a actual tendência de se transformar a comissão eleitoral num palco contra o aprofundamento da democracia. Eles não representam qualquer movimento dentro da Frelimo, que pretende arrancar o poder a Filipe Nyusi. Há uma corrente de pensamento mais progressista na Frelimo (a corrente lite), que não pactua com os recorrentes golpes contra a transparência e recuos no nosso processo democrático, mas ela não representa um movimento organizado dentro do aparelho partidário. Se tivesse que haver um projecto de disputa de poder, com Samora Junior à cabeça, esse projecto teria de se implantar dentro do aparelho. Não é o caso.
Resultado de imagem para teodato hunguanaTeodato Hunguana tomou uma posição mais profunda que uma simples denúncia do argumento inquinado da CNE para o afastamento do Eng.Venâncio Mondlane e de Samora Junior do presente processo eleitoral. Ele fez a defesa da transparência e da participação política, valores supremos da nossa Constituição. Teodoro Waty tomou uma posição que relativiza a defesa do poder local do Estado - a defesa do prestígio da função de deputado municipal. A renúncia de Mondlane para transitar do local (Assembleia Municipal de Maputo) para o nacional (Assembleia da República) não foi uma violentação desse prestígio. Ela faz jus a uma tendência global de mobilidade política do local para o nacional. A pretensão de Samora Júnior em concorrer para a edilidade de Maputo se inscreve também nesse registo. O poder local foi sempre uma incubadora de figuras destacadas da política nacional. A democracia francesa, onde se inspira essencialmente nosso municipalismo, é um repositório tradicional dessa mobilidade. Antes de ascender a Presidência francesa em 1981, François Mitterrand foi maire de Châteua-Chinon, em Nièvre. E Jacques Chirac começou de vereador (conseiller municipal em Sainte-Féreole) para vir a suceder Mitterrand na Presidência em 1995.
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Hunguana e Teodoro Waty não fizeram mais do que defender a sociedade contra esta agressão protagonizada pelos partidos políticos. Suas posições deverão certamente inspirar os juízes do Conselho Constitucional. Embora este Conselho também seja formado a partir do mesmo substracto da representatividade parlamentar, que coloca os partidos políticos (e menos a sociedade civil profissionalizada) na dianteira de entidades relevantes para nossa democracia, é esperado que seus juízes defendam a sociedade contra os excessos dos agentes políticos. As posições de Hunguana e Waty devem ser acarinhadas porque elas defendem a sociedade e a democracia. 
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E Graça Machel? O que ela fez? Nada! Teve apenas seu impulso maternal. Quem lhe quer colocar em conspiraçōes e quejandos contra o nyusismo está a forçar demasiado a nota. Se há quem sai completamente intacta desde abalo nas estruturas da Frelimo é justamente ela.
Mas este reaccionarismo de circunstância não vai calar os críticos internos da Frelimo. O Partido precisa de moralizar sua forma de fazer política para reconquistar a simpatia das classes médias urbanas. Mas nada há que aponte para isso. Dentro de dias, o Presidente Nyusi vai estar sentado num jantar de angariação de fundos. Imaginem quem vai estar ao seu lado! Toda uma franja de empresários de rapina, que procuram a preferência nos grandes negócios do Estado. A Frelimo não encontra forma de se financiar de modo decente separando o trigo do joio e querem que os teodatos se calem?

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