O Governo da província de Sofala organizou a ida a Gorongosa de um grupo de
jornalistas baseados na Beira em que o Magazine
CRV e o jornalista Arsénio Sebastião da DW - que juntamente com o
jornalista da Lusa André Cutaeira desvendaram a existência de vala comum com
cadáveres baseando-se nos relatos colhidos - não estavam inclusos mas que por
seus próprios meios também deslocaram e juntaram-se à comitiva.
Cerca das 11:00 h desta Quarta-feira (4) os jornalistas foram recebidos e
acompanhados pelo administrador local, Manuel Jamaca, na companhia de líderes
tradicionais e levados pela Estrada Nacional Nº 7, centro nordeste da vila de
Gorongosa, até a proximidade limítrofe com o distrito de Macossa, na província
de Sofala com a província de Manica, por forma a esclarecer a existência ou não
de corpos de pessoas mortas e porque não mesmo da dita vala comum.
No local, o administrador da Gorongosa falando aos jornalistas afirmou que
“quanto a vala comum no distrito da Gorongosa respondo negativamente, não existe.
Eu estou aqui no distrito de Gorongosa, a partir deste rio Nhaduwe que limita a
província de Sofala com a província de Manica, até o rio Pungué, trabalhamos
com a população, com os lideres comunitários, que ao longo do caminho vimos,
podemos parar a qualquer passo que quisermos, até a qualquer momento, não
confirmo, não à nenhuma vala comum, vala comum não existe no distrito da
Gorongosa (…) vocês têm do direito, todo o espaço de interagir com os
camponeses nestas machambas que estão a ver aqui a minha direita, entrar por
ali, a qualquer machamba daqui para (rio) Pungué procurem qualquer camponês,
qualquer aluno, professor, qualquer líder comunitário, qualquer agente
económico, perguntem…”
Entretanto, sabido que o reportado pela imprensa sobre a suposta vala comum
indicava para um local mais adiante, o administrador de Gorongosa recusou levar
os jornalistas para a área pretendida afirmando que “são dois Governadores
aqui, não posso levar os jornalistas para a terra de Alberto Mondlane,
Governador de Manica - área que os jornalistas pretendiam alcançar, sob a
jurisdição deste, para fazer a investigação - eu fico mal com (Governo de Hena
Taipo)…”
Com isto, ficou claro que a zona pretendida pelos jornalistas pertencia a
Província de Manica.
Dispondo os jornalistas de alguns dados soltos no que diz respeito aos
locais problemáticos sobre o assunto, perguntado o Administrador se conhecia ou
sabia da existência (de ajudantes) dos regulados chamado ‘tropa’, disse que o
mesmo pertencia a Manica.
De seguida foi indagado se conhecia a zona habitacional chamada
“seventinsix’ e se a mesma pertencia a Gorongosa, tendo respondido que “o tal
“seventinsix’, o tal ‘tropa’, distrito é Macossa, tudo é província de Manica,
portanto sobre a jurisdição…”
Então quer dizer que não podemos ir para o outro lado? Questionamos ao que
respondeu, “não (não é isso) podem ir, mas têm que comunicar com os
Governadores…”
Entendemos aqui que a idéia do Governo de Sofala era a de levar a equipa de
jornalistas até ao limite da área sob sua jurisdição para comprovar que dentro
do seu território tal situação não existia, conforme apurado pela equipa criada
para a investigação e por conseguinte credibilizando esta. Inteligentemente. Não satisfazendo isto aos jornalistas, começavam as concertações entre os
mesmos, equacionando como fazer para atingir sozinhos, a pé e sem protecção
alguma cerca de 8 quilómetros de estrada, fora outros tantos para o interior da
mata até atingir a área dos garimpeiros onde supostamente jaz a tal vala comum
avançada pela imprensa. Entre o vamos e não vamos, os jornalistas dos órgãos independentes
entenderam que não fazia sentido andar a reboque da equipa governamental que
ainda os pretendia levar para outras áreas do interior, do lado de cá
(Gorongosa) e, por mais que a zona pretendida alcançar ser a província de
Manica, não deixava da ser Moçambique…
Andaram nisso cerca meia hora. Discussões, trocas de opiniões… e iam
fazendo pequenas entrevistas aos camponeses ou residentes da zona que por ai
iam transitando a pé ou de bicicleta quando, depois de tantas interpelações,
finalmente surgiu a revelação no depoimento de Doca Sabir (que entretanto
acabou acompanhado a equipa de jornalistas ao local e mais abaixo transcrita a
conversa).
Os escribas optaram uma vez mais na insistência com o simpático
Administrador da Gorongosa quanto às suas pretensões, indagando-o qual a
inconveniência de passarem para o outro lado do território?
Respondeu: “Não à inconveniência, o Governo é o mesmo, o que é preciso é
interagir com o Governo de Manica, para Manica dizer a vocês, convidar a vocês
para ir no território dele fazer o trabalho que (vos) for conveniente…”
Retorquiriam: mas no nosso entender não precisamos de ser convidados para
fazer o trabalho pretendido.
Respondeu: “Precisam de ser autorizados, não pode ser a governadora Helena
Taipo a mandar vocês a ir (por exemplo) Zambézia para fazer um trabalho de
investigação ou de apuramento da verdade sem comunicar com o homólogo da
Zambézia ou de Manica ou de Maputo ou qualquer coisa. Neste caso, estamos a vir
directamente da Beira (para) Gorongosa, para passarmos a província de Manica
fazermos um trabalho que pode levar um dia, duas horas, o Governador de Manica
tem que ser comunicado. Não à nenhuma proibição, só que é preciso haver uma
comunicação (…)”.
Os jornalistas precisavam de uma protecção dado todo o cuidado necessário
para fazer a incursão para “o outro lado” - por sinal de onde os dois primeiros
jornalistas (da Lusa e do DW) que tentaram investigar este caso saíram em
debanda e sob som de tiros - e não arredando o pé, voltaram batendo na tecla:
mas qual a inconveniência?
Em resposta manteve a sua posição, afirmando que “a senhora Governadora nos
deu a tarefa de receber-vos, fazerem a investigação livremente no território de
Gorongosa. Eu, a todo o sol, a todo o momento estou disponível… mas não posso
ir para além…”.
Não havendo como, um grupo de jornalistas de órgãos independentes como STV,
Canal de Moçambique, Miramar, Zambeze, DW e incluso Magazine CRV, decidiram por
sua conta assumir os riscos e furaram o esquema montado, percorrendo cerca de 8
quilómetros a pé até ao posto administrativo de 'Mutropa' em Macossa, na
procura da verdade. Não alinharam neste apuramento a TVM, a Rádio Moçambique, o
Diário de Moçambique, o Noticias e a Rádio Indico, que ficaram deste lado com
as autoridades governamentais.Percorrida a distância, na campainha do cidadão Don (ou Doca) Sabir,
entraram mata a dentro, cerca de 100 metros da estrada, e de facto constataram
corpos já em estado de decomposição ai abandonados. As fotografias demonstram.
No local, conversaram com o acompanhante:
Seu nome
-“Meu nome é Don (ou Doca) Sabir
Quando é que o senhor descobriu que havia corpos aqui, próximo da sua
machamba
- “Epah, apanhou muito tempo. Outro já não consegue contar mais, epah aqui
deixou todo meu coisa, machamba tudo, macaco está vir levar comer essa m####
(corpos)… tudo eu… epah não tem comida… como meu machamba estava perto… a
pessoa está vir deitar sim… (…) nem meu mulher nem caril só está comprar…
Não teria visto as pessoas que trouxeram os corpos…
-“Iii, nada, não viu”
Conseguiu identificar alguns carros
-“Nada, não viu, estes está vir de noite…
Mas quando começaram a ver os corpos não puderam identificar pelo menos a
roupa, pode ser pessoa X ou do sítio Y
-“Nada, esse não é daqui, nada…
Mas quando o senhor viu, os corpos estavam com roupas ou já assim no estado
de decomposição
-“Está acabado assim…”
Outro corpo parece duma mulher
-“Sim, é uma mulher sim”
Há outros corpos aqui próximo?
-“Há outro está ai na ponte (rio Muere)…”
Mas existe por aqui uma vala onde tem muitos corpos?
-“Ai na ponte tem sim, volta de 9…”
Fala-se que para este lado de Macossa tem um buraco grande onde se extraia
ouro e onde começaram a deitar corpos, será verdade isso?
-“Há, ai em frente mas é de muito tempo já…”
Quando diz de muito tempo, está a falar de quanto tempo mais ou menos?
-“Quase passa dois meses…”
Mas o senhor viu esses corpos?
-“Nada eu não viu, só pessoa estava a falar…”
Daqui para lá é muito longe?
-“Iii é longe já”.
Terminada esta entrevista no local onde jazem os três corpos em avançado
estado de descomposição, deveriam os jornalistas seguir mais adiante com o seu
“guia”, a cerca de mias 3 quilómetros pela estrada, até ao rio Muere onde se
encontram cerca de outros 9 corpos dentre recentes - já reportados
fotograficamente pelos colegas da Lusa e DW - e dai rumarem para a distante
localização da vala, ou seja buracão. Os jornalistas conferenciaram e optaram
por antes agradecer a Deus por tê-los protegido até ai e decidiram não
“aventurar” para os outros locais, ademais tendo havido evidências de pessoas
mortas mesmo que não em vala comum e regressaram ao ponto de partida onde
encontraram seus colegas e a equipa governamental os aguardando. Fica-se por
saber quem são os promotores do que está a acontecer. Como é que aquelas foram
parar ai. Trabalho de polícia. (MHM // Magazine CRV)
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