Foi o sector que mais cresceu nos últimos anos em Moçambique
contribuindo com cerca de 9% do PIB. Foi o sector que na última
revisão salarial, aprovada pelo Governo,teve um aumento 13%, o maior de todos os sectores de
actividades. Trata-se da área de construção civil, uma das áreas mais
empregadoras no país. Nos últimos anos, as grandes cidades moçambicanas, com
maior enfoque para a capital do país, Maputo, viram o seu parque imobiliário a aumentar
de forma vertiginosa com o aparecimento de uma gama de luxuosos e pujantes
edifícios para fins habitacionais, de serviços e comerciais.
A corrida
pelo lucrativo negócio imobiliário fez com que milhares de empresários ligados
ao sector da construção civil e não só investissem milhares de dólares americanos
nesta área. É que o caso não é para menos. Um apartamento num edifício
localizado na zona nobre da cidade de Maputo, como é o caso dos
bairros de Polana Cimento ou Sommerschield, podia custar de renda entre cinco a oito mil dólares
americanos. Uma moradia localizada num desses bairros podia custar entre 10 mil
a 15 mil dólares de renda mensalmente. O mesmo verifica-se nos casos da venda
de imóveis onde um simples apartamento do tipo três podia ser transaccionado
entre 300 a 500 mil dólares americanos enquanto que uma moradia podia atingir
cerca de um milhão de dólares. Não obstante os preços serem proibitivos para a
esmagadora maioria da população moçambicana, o negócio tinham sempre clientes e
muitas vezes as aquisições eram feitas na totalidade antes do respective edifício ser
concluído.
O negócio que nos anos 2012, 2013 até aos primórdios
de 2014 parecia um el dourado, tornou-se um verdadeiro pesadelo nos últimos
meses. A contínua e cada mais preocupante desvalorização da moeda nacional, o metical,
face ao dólar americano e outras moedas de referência como é o caso de Rand
sul-africano e o Euro, está a deixar o pujante mercado imobiliário e de
construção civil
de “tangas”. A corrida pelo apetitoso sector fez com
que muitos empresários recorressem a créditos bancários para investor na área. Hoje, com
a desvalorização do metical e a fragilização do poder de compra da maioria dos
moçambicanos da classe média, está a colocar o sector imobiliário em crise. A
triste realidade por que o sector imobiliário passa neste momento foi reconhecida
por Manuel Magalhães Pereira, um dos responsáveis pelo pelouro da Construção
Civil, na Confederação das Associações Económicas (CTA). Manuel Pereira, que
também é Administrador- Delegado da Construtora de Mondego, uma empresa de
capitais moçambicanos criada em 1997, disse ao SAVANA que para responder os
apelos governamentais, no sentido de criar-se condições habitacionais para a
juventude, sobretudo da classe média, empresários ligados à área de construção
civil direccionaram seus capitais para a imobiliária na esperança de reaver o
dinheiro com venda de casas.
Conta o empresário que a corrida das imobiliárias
para construção de novos parques habitacionais, de serviços e de escritórios
ganhou fôlego nos anos 2012, 2013 e 2014, uma altura em que o dólar americano
era cotado, no mercado nacional, a um preço de 20 e 30 meticais. Segundo
Pereira, foi na base da cotação de 29, 30 e 31 meticais o dólar americano que
muitos empresários planificaram e investiram seus capitais. “Foi na base dos 29
ou 30 meticaiso dólar que os empresários fizeram os seus planos e foram à banca
pedir crédito para investir no sector. Foina base dos 20 a 30 meticais o dólar que as pessoas assumiram compromissos com as
imobiliárias para aquisição de imóveis”, disse.Sublinha a fonte que, contra todas as previsões, o
paradigma altera completamente em finais de 2014 quando o metical inicia os primeiros ensaios de
depreciação. “Podemos dizer que no início a situação era encarada com alguma normalidade. Mas depois de
algum tempo atingiu contornos insustentáveis. Hoje, o dólar que era cotado a 30 meticais, o seu
valor duplicou, já nos custa 60 meticais.
É um enorme défice que o empresário é
obrigado a “cobrir”, lamentou. Continuou a sua explanação referindo que, por
causa desta nova realidade cambial, muitos empresários imobiliários estão
altamente endividados e têm poucas alternativas de honrar seus compromissos
porque o poder de compra baixou de forma significante. Pereira recorre aos
números da sua empresa para ilustrar a queda do negócio. Sublinha que, entre
2013 e 2014, tinha em média 700 pedidos de compra de imóveis proporcionadas pela sua imobiliária por
mês. Hoje, o cenário é totalmente desolador e o número de pedidos de aquisição de casas não vai
para além de seis mensalmente. Disse que, se a situação não se inverter nos
próximos meses, o sector irá à bancarrota. “Hoje, muitas obras pararam porque não
há como dar prosseguimento, os empresários que tinham casas concluídas estão a
ter dificuldades de vender e as taxas de juro vão se multiplicando dia após
dia”, queixou-se. De acordo com o Administrador Delegado da
Construtora de Mondego, a situação torna-se muito mais dramática na medida em
que, no mercado imobiliário, os custos são calculados em dólares, mas os
pagamentos são feitos em dólares e os clientes auferem seus ordenados em meticais,
sendo que com a desvalorização da moeda nacional torna-se mais complexo.
“O nosso mercado é dominado por pessoas da classe
média que auferem seus salários em meticais e, para responder aos compromissos
que têm com as imobiliárias, tem de ir ao mercado comprar dólar porque neste sector
as transacções são feitas em dólares. Veja que, se alguém recebia em 2014 o
equivalente a cinco mil dólares em meticais, hoje, o mesmo valor equivale
apenas em 2500 dólares. Essa pessoa é obrigada a fazer novas contas para a
sobrevivência e até pode ter dificuldades de honrar seus compromissos com as imobiliárias,n aliás, isso
já é comum”, disse. Já na vertente dos empreiteiros, o nosso entrevistado
também lembrou que um empresário que contraiu dívida com a banca na ordem dos 45 milhões de meticais
em 2013, na altura equivalia a 15 milhões de dólares, mas hoje já não chega oito milhões de
dólares. Trata-se de uma situação que baralha por completo as contas dos empresários
de construção civil na medida em que, nesta área, mais de 70% do material
usado, sobretudo na vertente dos acabamentos, é importado. Muitas vezes, no
grosso das obras públicas que executamos, a cotação é feita em moeda nacional,
mas o material é adquirido em dólares porque vem de fora do país. Com esta continua
desvalorização do metical os empreiteiros ficam sufocados. Manuel Pereira disse que falta protecção aos
empreiteiros nacionais por parte das entidades governamentais perante a forte e
desigual concorrência resultante da intensa procura do mercado nacional por
parte de empresas estrangeiras. De acordo com o nosso entrevistado, ao
contrário do que se verifica com as construtoras internacionais, as empresas
moçambicanas não são facilitadas o acesso ao financiamento para a execução das
suas actividades.O nosso interlocutor referiu que este tipo de constrangimentos exclui grosso dos
empreiteiros moçambicanos na medida em que se vêem
fora das grandes obras, quer públicas ou privadas.
No país, todas as empresas
nacionais que pagam impostos e salários aos seus trabalhadores estão a ser fortemente penalizadas
e corre-se o risco de futuramente não se ter empreiteiros capazes. No entender
no nosso entrevistado, cabe ao Governo promover o´crescimento da capacidade técnica e económico-financeira
das empresas nacionais, criando cada vez mais oportunidades de negócio, através
da aprovação de regulamentos que estabeleceram condições justas e equilibradas
das partes de contratos de empreitadas de obras públicas, formando parcerias
com o sector privado no controlo da actuação dos operadores do sector. Para
além de descrever o ambiente que se vive no ramo de construção civil no seu
todo, Manuel Pereira falou daquilo que tem sido o circuito de negócios da
empresa por ele dirigida. Com um volume de negócios na ordem de 80 milhões de
dólares norte-americanos, a Construtora de Mondego é uma empresa virada essencialmente
para o ramo imobiliário e de obras públicas. Mais de 90% dos seus negócios são com o Estado moçambicano, onde se destaca a
construção de escolas, hospitais, esquadras e outro tipo de infra-estruturas
públicas. Mas também executa obras de índole privada. Segundo Pereira, a empresa já garantiu uma
solidez relevante no mercado, facto que garante confiança da parte das
instituições financeiras.“Somos uma empresa sólida, confiável e com garantias
reais, o que nos permite aceder, junto aos bancos, a créditos para
financiarmos as nossas obras”, disse.Aponta o dinamismo, a seriedade e o empenho
da sua equipa como razão de sucesso.
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