segunda-feira, janeiro 30, 2012

Estamos hipotecados?

Diz um ditado chinês: “Se quiseres ter riqueza a curto prazo, plante arroz. Se quiseres ter riqueza a médio prazo, plante um pomar. E se quiseres ter riqueza a longo prazo, instrua um povo!” Logo, a Educação constitui um sector chave para o crescimento de qualquer país. Nela se devem concentrar todas as atenções se quisermos efectivamente investir num futuro melhor, com um desenvolvimento humano que qualquer nação ambiciona. No entanto, a cada ano que passa fica-se com a impressão de que, em Moçambique, não se encara o sector da Educação com a seriedade que o mesmo merece.
O início titubeante do presente ano lectivo é disso um exemplo!
Há pelo menos três anos que Moçambique não tem um dia fixo para a abertura oficial do ano lectivo. O arran
que do ano escolar tem vindo a ser marcado e desmarcado, depois remarcado... de acordo com as conveniências do Ministério da Educação e da avaliação do grau de preparação de condições para o início das aulas. Mesmo assim, com uns adiamentos atrás de outros, as aulas acabam por iniciar regra geral sem que tais condições estejam criadas.
Em muitos países, o calendário escolar é sagrado. A maioria das famílias programa a sua vida em função do calendário de aulas dos seus filhos. O início das aulas é sempre num dia fixo, assim do género de terceira segunda-feira de Janeiro.
Aqui não é assim! E num país onde a carga horário escolar é relativamente baixa — nalguns níveis de ensino as crianças passam menos de quatro horas por dia na escola —, não se pode perceber como é que, cinco dias após a abertura oficial do ano lectivo, ainda haja milhares de alunos que vão às escolas apenas para dar um passeio e ver se já estarão afixadas as
listas de turmas.
Não se pode perceber como é que o ano lectivo comece sem que em muitas escolas do país haja turmas constituídas, sem que os alunos conheçam as suas salas de aula, os seus horários, sem que os professores se tenham apresentado nos seus postos de trabalho...
Não se pode perceber que durante uma semana — se a situação não se prolongar na próxima semana —, milhares de alunos não tenham tido sequer uma aula, porque as suas escolas ainda não estão organizadas, quando tiveram tempo de sobra para colocar toda a máquina a funcionar!
Não se pode perceber como é que, sistematicamente, o ano escolar arranque sem que os livros de distribuição gratuita para o ensino primário tenham chegado aos seus destinatários. E, pior, que quantidades consideráveis desses livros estejam a desaparecer ao longo do circuito de distribuição, em prejuízo dos alunos, cujos pais, muitas vezes, acabam por se ver obrigados a recorrer ao mercado informal (onde tais livros desviados aparecem à venda) para a compra do material necessário.
Não se pode perceber que os pedagogos do Ministério da Educação vejam o ensino à distância como uma solução para crianças de 12 ou 13 anos que não encontram vagas na oitava classe, sabido que nessa idade as crianças precisam mais de aulas presenciais, precisam de ir à escola, e não se limitarem a estudar em casa.
Não se pode perceber como é que professores que se mostrem incompetentes no ensino secundário sejam enviados ao primário, como que se de castigo estivessem, quando o ensino primário, que é a base da formação de um estudante, precisa justamente de professores de reconhecida competência!
Não se pode perceber como é que, um pouco por todo o país, continuem a faltar professores nas escolas, continuem a faltar vagas para as nossas crianças nos estabelecimentos de ensino, continuem a faltar escolas para as nossas crianças, continuem a faltar carteiras para as nossas crianças, continuem altas as taxas de reprovações nas nossas escolas, continuem a ser elaborados exames com questões mal colocadas, baralhando assim os examinandos; continuem a ser introduzidas novas disciplinas nas escolas sem que sejam criadas as necessárias condições para o efeito...
Julgamos que o Governo precisa de repensar seriamente na sua política de Educação, sob o risco de, se mudanças profundas não forem feitas a curto e médio prazos, corrermos o risco de hipotecar o futuro do país!
Corre-se o risco de termos lideres de fraca formação académica "alimentados " por estrangeiros num quadro de puro neocolonialismo.

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