terça-feira, maio 10, 2022

Outra perspectiva do #Dubaiportapotty?

Algumas semanas atrás, na minha volta de Uganda, em embarcar no voo que ia para Addis Ababa deparei me com uma multidão de jovens, cerca de 100 acho, e podiam ter entre 18-20 anos. Num primeiro momento pensei que talvez estivessem participando de uma actividade religiosa. Mas olhando bem, notei que eram divididas em grupo e que cada grupo tinha um “uniforme” diferente e as camisetas tinham estampado algo tipo “working abroad international”. Fiquei mais curiosa até que no avião, uma delas ficou de se sentar ao meu lado. Ajudei a jovem a por o cinto e a indicar, em gestos, o que tinha de fazer. Era claramente a primeira vez que subia num avião. O passaporte que carregava bem apertado nas mãos era novo. Muito tímida, nem levantava a cara e continuava a ter os olhos bem baixos.

Perguntei se falasse inglês e respondeu que sim. E perguntei: “onde vão todas vocês?” Vamos a trabalhar na Arabia Saudita, respondeu ela. Arabia Saudita??? Acho que a minha expressão facial ficou assim diferente e talvez assustadora que a jovem decidiu não falar mais. Tentei criar uma conversa para saber mais mas ficou silenciosa. Estava também atenta a sua primeira experiência de avião. Mas comecei a pensar se as razões para ir tão longe seriam mesmo ligadas ao que a jovem respondeu; e como uma mãe e pai podiam deixar uma filha ir naquela tenra idade. Lembrei me que um dia antes, um amigo em Kampala, durante uma conversa, compartilhou que eles tem sérios problemas de desemprego e muitos decidem sair a procura de outras oportunidades. Tentei ligar as duas coisas, mas mais pensava mais ficava preocupada com as jovens.

 Descendo do avião tentei criar conversa com um senhor: “então todas estas jovens vão mesmo para Arabia Saudita?” E ele comentou que todos os dias, de Entebbe, saem voos cheios de jovens mulheres mas também homens para ir trabalhar na Arabia Saudita. E depois uma rápida procura on-line encontro o seguinte (Alto Comissariado das NU para Direitos Humanos). A Arábia Saudita é um país de destino para homens e mulheres submetidos ao tráfico de pessoas, especificamente trabalho forçado. Homens e mulheres da Ásia e da África viajam voluntariamente para a Arábia Saudita como empregados domésticos ou outros trabalhadores pouco qualificados, mas alguns posteriormente enfrentam condições indicativas de servidão involuntária, incluindo restrições de movimento e comunicação, retenção de passaportes e outros documentos de viagem, ameaças, abuso físico ou sexual e falta de pagamento de salários. O governo indiano não permite mais que suas cidadãs com menos de 40 anos aceitem empregos como empregadas domésticas em lares sauditas devido à alta incidência de abuso físico por parte dos empregadores. Acredita-se que muitas mulheres foram forçadas à prostituição na Arábia Saudita; outros teriam sido sequestrados e forçados à prostituição depois de fugirem de empregadores abusivos. Antes de ir em bora, apenas entreguei o meu cartão à jovem, esperando que não irá precisar de ajuda! Senti me mesmo sem chão para andar!

In Facebbok Tina Lorizzo
 

 

 

 


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