O Grupo Moçambicano da Dívida (GMD)
defendeu, (29 de Março) que o Governo não deve pagar as dívidas, no valor de
1,4 mil milhões de dólares, que o anterior executivo avalizou secretamente,
entre 2013 e 2014, considerando ilegais os encargos. “O Governo não deve pagar
as chamadas dívidas ocultas, porque são ilegais, foram contraídas sem o
conhecimento da Assembleia da República, como exigem as leis moçambicanas”,
disse Humberto Zaqueu, economista e oficial de Programas do GMD. Os
credores dos referidos empréstimos, prosseguiu Zaqueu, devem ser ressarcidos
pelos bancos que intermediaram as transacções com as três empresas
moçambicanas beneficiárias do dinheiro que receberam avales do Governo
moçambicano.
“Os investidores devem reaver o seu dinheiro junto dos bancos que
intermediaram a emissão de títulos a favor das empresas que tiveram a bênção
do Governo”, afirmou o oficial de Programas do GMD. Humberto Zaqueu acusou o
Governo, na altura chefiado por Armando Guebuza e os bancos russo VTB e suíço
Credit Suisse de “terem ludibriado” o povo moçambicano e os investidores
internacionais. “Estes empréstimos foram feitos e avalizados nas costas dos
moçambicanos e os bancos angariaram dinheiro dos investidores com base em
expectativas irrealistas”, afirmou Zaqueu. Os bancos, prosseguiu, estão na mira
dos investidores, pois estes já anunciaram que poderão levar o caso a tribunal,
porque sentem-se enganados. Na sexta-feira da semana passada, um grupo de
organizações não-governamentais (ONG), incluindo o GMD, defendeu um conjunto
de medidas que devem ser tomadas antes de o FMI retomar os empréstimos a
Moçambique, argumentando que o país não pode ficar refém de uma dívida
insustentável. “A única saída sustentável para a crise económica de Moçambique
é aplicar uma muito maior transparência e responsabilidade nos empréstimos,
garantir que qualquer ajustamento recai sobre aqueles que têm capacidade para
pagar e que Moçambique não fica apanhado numa dívida insustentável”, lê-se num
documento enviado à directora-executiva do Fundo Monetário Internacional,
Christine Lagarde. A missiva, impulsionada pela ONG britânica “Campanha para o
Jubileu da Dívida”, mas assinado por dezenas de organizações moçambicanas e
internacionais, defende um “conjunto de medidas que devem ser todas executadas
antes de o FMI retomar os empréstimos ao Governo de Moçambique” e que
incluem, entre outras, a realização de uma auditoria e de uma análise de
viabilidade económica das empresas públicas Proindicus, Ematum e MAM. As
instituições financeiras internacionais e os principais países doadores do
Orçamento do Estado moçambicano suspenderam a ajuda financeira a Moçambique,
após a descoberta em Abril do ano passado de empréstimos contraídos por
empresas públicas e avalizados pelo Governo, entre 2013 e 2014, à revelia da
Assembleia da República de Moçambique e da comunidade internacional. As chamadas
dívidas ocultas fizeram disparar a dívida de Moçambique para 11,6 mil milhões
de dólares e até Dezembro do ano passado o rácio da dívida pública era de 130%
do Produto Interno Bruto.
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