Quando o cardeal argentino Jorge
Mario Bergoglio assomou à sacada central da Basílica de S. Pedro, minutos
depois de eleito Papa, eram elevadas as expectativas sobre o pontificado que
Francisco inaugurava nessa noite de 13 de março de 2013 e as transformações e
reformas que o líder religioso mais influente do Mundo viria a empreender.
Encontrado
"quase no fim do Mundo", nas palavras do primeiro Papa americano na
sua primeira saudação, o novo chefe da Igreja foi saudado pelos progressistas,
como o dominicano Frei Betto (Teologia da Libertação e dos movimentos sociais).Com
a Igreja mergulhada em escândalos como a pedofilia, com a sucessão de denúncias
de abuso de crianças por sacerdotes e o silenciamento dos crimes pela
hierarquia, os desmandos do Instituto das Obras da Religião (IOR, vulgo
"Banco do Vaticano") com investimentos em múltiplos negócios e até
offshore, Francisco assumia tarefa pesada.
Concretizando a política de "tolerância zero"
para com a pedofilia, o Papa assumiu que, "para a Igreja, neste domínio,
não pode haver prescrição" - "temos de punir severamente os
abusadores" - e estabeleceu normas para afastar e denunciar os autores.
Na
Cúria Romana, empreendeu a reestruturação dos órgãos de governo e administração
e finanças, incluindo o IOR, e afirmou a sua autoridade junto de instituições
como a poderosa Ordem de Malta.Reforçou também pontes com outras igrejas
(esteve nas comemorações dos 500 anos de Martinho Lutero) e com as outras
religiões monoteístas, em particular o mundo muçulmano, rejeitando a ideia de
que as guerras - "a terceira guerra em pedaços" - são religiosas.
Entre
as 29 viagens apostólicas, destacam-se as realizadas a Lampedusa para denunciar
o drama dos refugiados, e a Cuba e aos EUA, pelo significado da sua mediação no
restabelecimento das relações entre os dois países.Enquanto sobre a ordenação
sacerdotal de mulheres mantém a posição da Igreja, apesar de valorizar o seu
papel no novo dicastério para os leigos, a família e a vida, Francisco admite a
ordenação de homens casados em casos excecionais, "por exemplo nas
comunidades isoladas", apontou há dias ao diário alemão "Die
Zeit".
Em matéria de moral sexual, mantém posições recuadas
sobre contracetivos (na crise do vírus de Zica, recomendou a abstinência), mas
os setores progressistas anotam avanços no domínio da moral católica, com o
acolhimento dos homossexuais e divorciados recasados, na exortação apostólica
"Amoris Laetitia" (Alegria no amor).Trata-se do tema que levou mais
longe a oposição dos meios ultraconservadores, com quatro cardeais liderados
por Raymond Burke a exigirem publicamente "esclarecimentos" de
Francisco e o prelado norte-americano a insinuar que o Papa praticou uma
heresia e acusá-lo de dividir a Igreja.
A imprensa católica dessa corrente
minoritária não poupa o Papa a adjetivações agrestes, como "megalomania
Bergogliana" e "pontificado destrutivo". "Só um transtorno
delirante pode explicar como um homem que provoca discórdia, desordem e divisão
na Igreja como nenhum outro papa na história pode dormir tranquilamente",
escreveu no jornal "The Remnant" o presidente da Associação Americana
de Advogados, Christopher
A. Ferrera.Até 10 de março, Francisco - nome que
Jorge Mario Bergoglio adotou, como Papa, em homenagem a Francisco de Assis,
"o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e preserva a
criação" - proferiu 806 discursos, publicou 42 cartas apostólicas, duas
encíclicas ("Laudato si", sobre questões ecológicas, e "Lumen
Fidei", sobre questões da fé) e duas exortações apostólicas
("Evangelli Gaudium", sobre o anúncio do Evangelho, e "Amoris
Laetitia", sobre o amor e a família).Desde 13 de março de 2013, o papa
latino-americano realizou 29 viagens apostólicas (12 dentro de Itália e 17
fora) e tem já quatro previstas para este ano (Portugal, Índia e Bangladesh,
Colômbia, Egipto).
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