Houve em Portugal, depois do 25 de Abril, uma revista
que mudou totalmente o panorama da BD portuguesa. Chamava-se Visão. Entre os
fundadores estava um senhor chamado Machado da Graça. Depois, tal como no país
a revista conheceu voltas e reviravoltas e o Machado tornou a Moçambique. Onde
fez teatro, introduzindo a tragédia grega neste rincão, suportou revistas de
BD, fez rádio-novelas, foi repórter e cronista, sobretudo político, criou a
primeira e melhor editora de ensaio sociológico e antropológico no país, e
alimentou inúmeros suplementos, sobretudo humorísticos, como O Sacana, quatro
páginas que há anos produzia para o
semanário Savana, o primeiro jornal privado pós-período do partido único. Aí
pontuava com a coluna A Talhe de Foice, de análise/indignação política que
exasperava muitos. Era uma voz que nunca traiu o seu compromisso, incómoda e
necessária, por vezes iconoclasta, um verdadeiro besouro.
Hoje folgarão os medíocres. Imagino-o a bater às
portas do céu, Senhor Pedro, posso entrar? Ó Machado, entre, a casa é sua! E
ele, a interrogar, provocador, Ai, sim, e diga-me, e os perfilados seios de Maria já palpitam? Porque ele não resistia
a dizer uma piada, mesmo que isso lhe custasse um lugar ao sol, e era da raça do
Groucho, que não aceitava fazer parte de um clube que o aceitasse como sócio.
Morreu o Machado, vai fazer uma falta tremenda...
0 comments:
Enviar um comentário