Quando se criou a Frente de Libertação de Moçambique, em 1962, contava eu 9 anos e 6 meses. Um ano antes, porém, tivera uma ténue sensação de que algo fora do comum estaria em marcha, nomeadamente com a visita de Eduardo Mondlane a Cambine, onde estudara agronomia nos anos 40. Naquele dia, o meu avô, o Rev. Jossefa Nhatitima, em casa do qual eu vivia e medrava, acordara cedo e cedo partira, de burro, para a vila missionária da Igreja Metodista Episcopal de Moçambique. Regressou no mesmo dia, à noite, e só no dia seguinte tivemos alguns sinais do que fora fazer em Cambine: receber Mondlane e dele ouvir das suas intenções. Recorreu a imagens, a mitos, sem porém nos explicar em termos substantivos o que realmente se passara. Estava radiante e falava mais do que o normal sobre a necessidade de nos concentrarmos nos estudos. Para a nossa idade, acho que teremos percebido o que se projectava para o futuro, provando-o o facto de já na fase adulta nada se ter alterado em termos factuais: a luta pela Independência. Um ano depois fundava-se a Frente de Libertação de Moçambique - FRELIMO.
E ficava-se por aqui?
Como se viu, não.
Para nós, afiliados à Igreja Metodista, o
sinal maior foi quando em Junho/Julho de 1964 é indigitado o primeiro bispo
negro para a congregação: Anglaze Zunguze. Com efeito, dois meses depois
desencadeava-se a luta armada. Tudo quanto se nos deu a perceber era que
Mondlane lutava por congregar todas as vontades, ou pelo menos um número
alargado de vontades. E tinha-o conseguido. Os anos, e sobretudo depois da implementação do liberalismo, o que se viu foi um sedimentar de uma FRELIMO feita
de interesses em detrimento das vontades. Para ser sincero, acho que há muito
se devia ter considerado a hipótese de acabar com a associação da FRELIMO a um
partido, e fundamentalmente para manter a aura de uma FRELIMO que foi de todos,
de quase todos. É que hoje por hoje, a FRELIMO é partido onde pontificam
interesses, servindo de âncora a tudo quanto não é recomendável a uma sociedade
http://xn--s-yfa.com/ futuro promissor para os nossos filhos
e netos, mesmo que a ela se filiem. Era a melhor forma de celebrar Mondlane e
sobretudo os 60 anos da fundação da Frente de Libertação de Moçambique. A gente
vê "brigadas centrais" calcorreando o país e dizendo a mesma coisa
que dizem há anos, sem substância e sem que eles próprios acreditem no que
dizem e apregoam. Só querem estar presentes na hora do corte do bolo, para
receberem a sua fatia!
(L.Loforte
in facebook)
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