quinta-feira, agosto 06, 2009

Na praça do discurso

Todos os chefes de Estado , seja qual for a situação, dirigem-se ao povo em busca de apoio ao seu projecto político e, para tal têm que recorrer a pronunciamentos. Os discursos são sempre marcados por processos de sedução, de persuasão, de manipulação e de contra manipulação. Poderá o amigo internauta interrogar como esses processos manifestam-se no acto dos pronunciamentos. Que características discursivas estes têm em comum?

Por exemplo o discurso governamental, é repetido (bem ou mal) pelos diferentes actores, na esteira da continuidade aparecem em pequenos momentos dentro de um processo em curso iniciado no passado (2004), percorrendo o presente(2009) e procurando projecta-lo para o futuro (mais cinco anos de poder).
Os pronunciamentos que chegam aos ouvintes de rádio e telespectadores de televisão vindos do mais alto magistrado da nação, podem não ser fieis para uma análise detalhada na sua (ou não) empatia co
m o cidadão. São pequenos os extractos que pode induzir a uma análise subjectiva e injusta. Por essa razão uma opinião diferente é sempre bem vinda.
Em dois momentos diferentes e na mesma região visitada no decorrer da presidência aberta ( demasiado longa e humanamente desaconselhável para a sua idade) respondendo as preocupações do dia a dia do cidadão, e passo a citar:

- temos que resolver, por isso tenho junto de mim os Ministros, os meus conselheiros para ouvirem melhor e perceberem.

Num outro distrito de Manica, de bloco de apontamentos na mão afirmou:

- facto de alguns não trabalharem bem, não quer dizer que todos nós não trabalhamos.

Acontece que a situação de momento é multifacetada e a necessidade de soluções deve ser utilizada como argumentos para sustentar o líder como tal perante os que desejam uma saída para as adversidades do quotidiano.
O cenário eleitoral deste ano apresenta-se distinto do cenário de há cinco anos atrás. Um elemento de mudança fundamental é o inicio do fim do que podemos chamar “geração dos libertadores ”. Nos últimos 34 anos, o principal modelo de organização política no país foi a Frelimo. Há quem conteste, mas na pratica outros actores não se assumiram e não tem sido por falta de espaço.

Foi do seu interior que veio uma certa interpretação da sociedade surgido da derrota do fascismo e da ascensão do movimento de massas, aglutinador de grande parte dos jovens.
A ascensão eleitoral do partido nas ultimas eleições foram directamente proporcionais ao mutismo crescente da sociedade civil .
Toda a militância do partido unificou-se em torno de um projecto comum que simplificava-se numa forma propagandística chave: luta contra a pobreza absoluta.
Toda esta crença de uma geração inteira na transformação do país através da eleição do “presidente de punho de ferro” parece estar a esfumar-se.
A ofuscar as expectativas do partido enquanto ferramenta política de transformação estão os interesses da burguesia aplicando à risca uma política neoliberal impulsionada pelo organismos multilaterais externos de juros altos, provocando o aumento do desemprego, dando mais lucro a banca e concentrando o dinheiro num pequeno grupo.
Num dos encontros populares,
o Administrador do Distrito de Manica foi acusado e estar a “usar combustível, viaturas, e tractores da Administração, alguns deles avariados, na sua quinta.A fonte revelou que o actual administrativo da Saúde, empossado pelo mais alta figura do Governo naquele ponto de Moçambique, tem usado fundos públicos, depósitos de salários dos colegas em bancos privados, de modo a receber juros.

O(s) cidadão(s) são hoje mais exigentes, interpretam , debatem e opinam com mais propriedade tudo por “culpa” de um maior número de escolas implantadas e o fluxo de informação que chega a casa de cada um pela rádio e televisão.

O Chefe de Estado prometeu em caso de verdade acabar com os desmandos e que todos os todos os injustiçados poderão voltar aos seus postos de trabalho.Uma medida não totalmente populista mas também não deixa ninguém descansado, pois é quase certo que este mau exemplo pode não ser o único e até haver coragem para denunciar levará meses e anos tanto como as raras ocasiões (compreensiveis) que o Presidente da Republica disponibiliza.

É preciso entender que a burguesia está preocupada com os jogos eleitorais, enquanto aqui e ali vão surgindo ainda de pequena expressão algumas reclamações, ocupações de património privado e pequenas manifestações de teor violento, porque as necessidades dos seus autores não são ouvidas. Em suma: o discurso politico de hoje tem que ser mais organizado para responder a um cliente mais “próximo do mundo” para a felicidade e alegria de uma nação que cresce (só os apóstolos da desgraça dizem que não,) tal como o seu povo.

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