sábado, abril 30, 2011
Não é o custo de vida que entornará o caldo
A pobreza não diminuiu apesar da paciência dos moçambicanos.
Quanto mais paciência, mais pobreza. É o que se está a ver.
Quanto mais paciência, mais ignorância.
Quanto mais paciência mais pilhagem das riquezas acontece. Estamos entregues a um grupo de gente que entre o que são e o que são os gangsters já não há praticamente diferença.
O sofrimento durante o colonialismo em África não foi resultado de acções de povos opressores. Foi, sim, fruto de intenções de um punhado de pessoas de ditas elites que agarradas ao poder e montadas na ignorância das maiorias pilharam não só as riquezas dos seus próprios territórios e dos povos a que pertenciam, como também dos territórios que ocupavam e dos povos respectivos. O que se acusava o colonialismo de fazer, hoje vemos muito pior feito pela “elite” que se guindou ao poder.
Eduardo Mondlane tentou, antes da revolta ser proclamada, resolver o problema por via do diálogo. Não deu. As elites coloniais metropolitanas estavam de tal maneira obcecadas que não foram capazes de entender que o problema estava na sua própria teimosia, arrogância e atitude avarenta. Chegou um dia que a paciência foi-se.
Só quem nunca foi da Frente de Libertação de Moçambique ou quem nunca esteve próximo deste problema poderá ignorar isso. Mesmo depois da Frente de Libertação de Moçambique ter sido reconhecida como a herdeira do poder colonial e do País se ter tornado politicamente independente, houve quem tivesse a dada altura perdido a paciência ao ponto de chegar mesmo a apelar para o “escangalhamento do aparelho de Estado”. Não foi a Renamo que indignada veio e apelou para o escangalhamento do aparelho de Estado. Foi a própria Frelimo que a determinada altura viu que algo perturbava o seu programa e escangalhou mesmo o aparelho de Estado. Uma onda radical semelhante, a existir, apelaria hoje para o escangalhamento do Partido Frelimo, como os egípcios acabaram por fazer ao partido do ditador Mubarak. Seria um completo absurdo hoje repetir-se um apelo ao escangalhamento do Aparelho de Estado, tão irresponsável isso foi no tempo em que os senhores que hoje pedem paciência só eram capazes de propor o escangalhamento de quem já tinha construído o seu futuro. Viu-se o que deu o extremismo. Viu-se quanta gente de qualidade abandonou o País por causa da necessidade de um punhado em nome de todo um povo satisfazer os seus apetites predadores. Apetites esses que como vemos agora eram estritamente pessoais não fossem hoje as diferenças sociais mais chocantes do que eram na época da administração colonial.
Na altura terá sido a imaturidade que levou ao extremo de se pedir o escangalhamento do Aparelho de Estado e levar esse objectivo até às últimas consequências. Hoje pedir o escangalhamento do Aparelho de Estado viria a propósito porque as instituições do Estado só servem para servir grupos de canibais do erário público. Mas o Estado é muito mais do que um punhado de canibais e temos de o proteger. Livrarmo-nos de quem abusa dele é no entanto urgente.
Nos países do norte de África e Médio Oriente, hoje, por razões semelhantes ao que está a levar ao extremo do sofrimento milhões de moçambicanos, talvez até por muito menos, os povos perderam a paciência e não estão propriamente a escangalhar o aparelho de Estado. Estão, sim, sem apelo a afastar desse mesmo aparelho os predadores.
No caso concreto de Moçambique acreditou-se até agora que era necessário criar-se a tal elite para cuidar do País, mas o que sucede é que estamos perante uma “elite” sem princípios, avarenta, predadora, autoritária, e convencida que é a jóia da Pérola do Indico.
Em vez de nos podermos orgulhar da elite que se dizia que depois de formada iria tomar conta do país e cuidar dos destinos da Nação, cresce nas ruas o sentimento perigoso de que não há outra saída se não escangalhá-la.
Apelamos para o bom senso que não tem existido da parte da chamada “elite” por ora existente. Sabemos que no verdadeiro sentido do termo pouco ou nada sabe o que isso é, mas é conveniente que depressa se convença de que toda a paciência tem limites e as pessoas não são de pedra. Pedimos a essa “elite” que não insista em abusar da paciência dos pobres. Da mesma forma apelamos para que os que têm tido o bom senso de não escangalhar a elite no poder continuem a dar os mesmos sinais de civismo. Apelamos para que quem está no Poder se deixe de julgar intocável porque de um dia para o outro o empurrão pode levar a um enorme trambolhão. Vermos um predador de bens públicos abusar de poderes a que ele próprio renegara dias antes, ser indiciado, pelas que fez antes e pelas que fez depois, por ilustres juízes-conselheiros seus pares e depois ser ilibado por um simples despacho do Procurador-Geral da República, como aconteceu com o Dr. Luís Mondlane o mal afamado ex-juiz presidente do Conselho Constitucional, é sinal de que já não se pode pensar em justiça através dos órgãos da justiça. Isso é muito perigoso!
Vermos o PGR mandar arquivar queixa de juízes-conselheiros encarregues da constitucionalidade do País sem mais delongas, sabendo nós que quem nomeou Luís Mondlane foi o mesmo que nomeou Augusto Paulino, mostra bem a que nível já chegaram os compromissos que estão a levar Moçambique a ser o paraíso para uns e a latrina para outros. Com estas atitudes de magistrados que não se dão ao respeito a crença de quem ainda vê nas instituições do Estado o trampolim para que a violência não seja necessária é seriamente ferida. Quando já nem nos órgãos competentes se faz justiça, estamos perante gente irresponsável a tal ponto que lhes caberá exclusivamente arcar com as responsabilidades quando a tampa da panela saltar.
Não será certamente o custo de vida demasiado elevado que irá entornar o caldo. Já vivemos com muito menos e riamo-nos do repolho e do carapau. Será a gente que tem vindo a subverter o Estado, claramente gente sem escrúpulos, perversa e arrogante, que irá levar um dia destes este povo, já incapaz de continuar a controlar a falta de paciência, a fazer aqui o que está a ser feito em muitos países africanos e no Médio Oriente. A nós resta-nos pedir para que se reflicta e se corrijam os comportamentos antes que seja tarde demais. ( C M)
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A nossa PIC
Resultou
Cerca de 400 escolas primárias, cobrindo um total de 140 mil crianças, deverão também ter acesso à água potável e saneamento adequado.
O programa inclui ainda o fortalecimento da capacidade das autoridades e das comunidades na planificação, gestão, coordenação e supervisão dos programas integrados de água, saneamento e higiene.Particular destaque é dado ao envolvimento das comunidades na gestão sustentável das infra-estruturas de água e saneamento.Desde o início do programa já foram abertas nos distritos abrangidos 1094 novas fontes de água, beneficiando mais de 991 mil pessoas e reabilitadas 400 fontes, beneficiando cerca de 200 mil pessoas. Foram também construídas cerca de 205,000 latrinas tradicionais e melhoradas, beneficiando mais de 1.086.800 pessoas. Como resultado do trabalho realizado na área de saneamento nas três províncias, o país recebeu o Prémio de AFRICASAN 2010, na categoria de serviços em reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo Governo com envolvimento da sociedade civil. Estão investidos neste programa cerca de 42,8 milhões de dólares americanos, dos quais os Países Baixos cobrem cerca de 28 milhões de dólares, o UNICEF cobre cerca de 7 milhões de dólares. O governo participa e as populações beneficiárias entram com cerca de 6 milhões de dólares. Até ao momento foram gastos 25 milhões de dólares, representando cerca de 60 por cento do investimento em quatro anos.Um comunicado de imprensa do Ministério das Obras Públicas e Habitação (MOPH) refere que na reunião de balanço a meio termo do Programa Iniciativa Um Milhão a decorrer em Gondola, província central de Manica, um total de 285 líderes comunitários das três províncias serão reconhecidos pelo seu papel.O papel das lideranças consiste, segundo o comunicado, na direcção para a construção e uso de latrinas e adopção de hábitos saudáveis de higiene, eliminando totalmente o fecalismo a céu aberto nas suas comunidades. A mesma conta com a presença do Ministro das Obras Públicas e Habitação, Cadmiel Muthemba, a governadora da Província de Manica, o Ministério da Saúde, os governos das províncias de Tete e de Sofala, do UNICEF, além de 20 administradores distritais entre outros parceiros do sector de águas e saneamento.
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