quarta-feira, agosto 26, 2015

Dhlakama começa a fartar

População da cidade de Quelimane, província da Zambézia, centro do país, mas principalmente os que acompanharam atentamente a visita do líder do maior partido da oposição em Moçambique naquela parcela do país, consideram Afonso Dhlakama como sendo um actor de teatro que não usa a política para resolver os problemas dos moçambicanos, mas sim para entreter o povo, avançou o site Diário da Zambézia. Alguns munícipes que assistiram o último comício proferido por Afonso Dhlakama na cidade de Quelimane, em entrevista ao Diário da Zambézia, foram unânimes em dizer que não ouviram nada novo. Os mesmos, dizem que a insatisfação, começa quando Dhlakama escala a cidade de Quelimane na passada tarde de terça-feira (18), e dizia de viva voz que na reunião que teria com os desmobilizados de guerra do seu partido, cabia a eles decidirem o futuro deste país. Arnaldo Jorge um dos presentes, disse que as expectativas em torno das decisões que seriam tomadas na reunião eram enormes. 
Afonso Dhlakama em TsanganoArnaldo contou a mesma fonte que, as palavras de Dhlakama após a sua chegada foram motivos de conversa não só no mercado onde exerce a sua actividade bem como no bairro onde ele vive, “estávamos a espera, e depois ansiosos pensando o que vão decidir, aguardávamos as decisões que seriam tomadas naquela reunião nacional da perdiz”, disse. Segundo disse, para o seu descontentamento Dhlakama na abertura da referida reunião isola-se e adverte os seus homens ” aquilo que vocês decidirem eu não vou negar, mas quero adiantar se decidirem fazer a guerra eu vou dizer não, podem escolher um outro comandante em chefe, porque eu tenho dito já estou a governar”. Marchande Jorge, outro cidadão que também diz não perceber qual foi a real agenda que levou o líder da Renamo a escalar Quelimane, entende que Dhlakama está esgotado em termos políticos. Para ele, parece que o líder da Perdiz já percebeu que o povo está cansado das suas promessas daí que, uma das formas que encontrou de manter é entreter as pessoas, voltar a produzir mais mentiras que algum momento fazem com que ele minta e desminta ao mesmo tempo. Marchande, questiona como Dhlakama diz que vai governar sem o uso da força e meia volta fala do plano de abertura de um quartel-general no distrito de Morrumbala, bem como a formação de uma polícia composta pelos seus homens, que segundo ele tem como objectivo proteger a população dos males que a Frelimo causa ao povo. Na opinião de todos entrevistados pelo Diário da Zambézia, Dhlakama não devia ter vindo a Zambézia porque os zambezianos não ouviram nada, se não vamos governar.

Uma República sem republicanos

Há um certo sentido em que podemos dizer que o conflito que opõe a Renamo ao Governo é a expressão duma crise política que me parece mais profunda do que estamos preparados para aceitar. Moçambique é uma república, mas o que isso significa para cada um de nós não me parece claro. Há uma noção “cafreal” de república que se pode facilmente depreender de várias intervenções nos espaços de discussão. É herdeira do discurso político da Frelimo gloriosa e consiste numa interpretação literal do termo “República” (res publica, isto é, o que diz respeito a todos) para servir de suporte à indignação como quando reclamamos que as riquezas do país pertencem a todos – o cavalo de batalha da sociedade civil profissionalizada – ou que devem ser distribuídas de forma equitativa, o principal discurso político. Fora dessa noção não consigo vislumbrar nenhum outro entendimento. Isso incomoda-me, pois parece explicar algumas das dificuldades que temos com este conflito.
Nós temos a sorte de não precisarmos de re-inventar a roda em muitas coisas. Isso não significa, porém, que o único que nos resta seja apenas copiar fielmente o que os outros fizeram. Claro que não. Mas uma boa parte do trabalho de construção dum Estado-Nação consiste em adequar o que os outros inventaram as nossas condições. A ideia republicana foi formulada no Império Romano e, ao que me parece, aperfeiçoada pelos americanos e um pouco, talvez, pelos franceses na sua revolução. O que caracteriza a república é a definição da liberdade como não-dominação. Essa liberdade implica duas coisas. Implica, primeiro, que nenhuma pessoa livre pode estar sujeita à vontade de outrem. Se para eu ser o que quero ser preciso do aval de outra pessoa, ou duma instituição, não posso dizer que seja livre. Mesmo também quando a pessoa que me podia impedir de ser o que quero ser não o faz por benevolência não posso dizer que seja livre. Liberdade é uma vida sem restrições, nem limitações. É claro que isto não é absoluto, pois essa liberdade termina quando afecta a liberdade dos outros. A liberdade implica, segundo, que tenho o direito de interpelar criticamente aquele que me governa. Isto é, a minha participação na administração da vida pública é fundamental para a minha liberdade. A protecção deste meu direito de interpelar criticamente quem me governa dá qualidade a minha liberdade. Este é o sentido profundo de “República”. Construir uma república é adaptar estes princípios fundamentais as nossas condições. Construir o Estado-Nação em Moçambique é procurar saber que tipo de instituições precisamos de ter para protegermos esta liberdade. Talvez seja importante dizer que o republicanismo não é liberalismo. O liberalismo é apenas uma interpretação do republicanismo.
Moçambique é uma República, mas tem republicanos? Duvido. A Frelimo, pela sua história, nunca foi republicana no sentido em que expus essa noção aqui. Havia um pouco de Rousseau na sua ideia de “soberania popular”, mas devido ao Marxismo que adoptou infletiu mais para uma concepção Hobbesiana duma liberdade que é produzida por um Suserano de quem depende tudo o resto. O abandono oficial do Marxismo e a adopção duma constituição republicana democrática não alterou muita coisa. Para já essa adopção foi formal com o “copy and paste” de constituições europeias. Os que defenderam o Marxismo com convicção continuam a achar que o país estaria melhor se eles tivessem a prerrogativa de definir o que é a liberdade para cada um de nós. Os que abandonaram o Marxismo continuam convencidos de que eles é que corporizam a vontade do povo. Ainda não vi, no nosso país, nenhuma intervenção de peso da parte de juristas, cientistas políticos ou filósofos – para já não falar de políticos – que indique um compromisso mais sério com o espírito republicano. Antes pelo contrário, muitas intervenções sugerem quase sempre ou a ausência desse espírito ou então uma tremenda confusão. Muitas intervenções que leio (de juristas contra ou a favor do governo) raramente revelam um compromisso com este espírito. São, na maior parte das vezes, interpretações técnicas de leis. Acho isto muito pobre, mas sintomático.
A Renamo, também pela sua história, nunca foi republicana e está ainda mais longe de o ser do que a Frelimo. O seu credo é o despotismo disfarçado em demagogia. Há um pouco de Frelimo gloriosa na Renamo actual. Quando se presta atenção ao discurso e à prática do seu líder, mas também aos discursos e às práticas dos seus colaboradores, sobretudo no que diz respeito às funções do Estado, à atitude em relação à sociedade, etc., nota-se imediatamente que “democracia” é um termo funcional, não é um valor. Serve para produzir um mito fundador (pai da democracia) e serve para reclamar um espaço específico na arena política e económica nacional que não garante necessariamente a liberdade dos outros, mas sim a prerrogativa do chefe de conceder liberdade aos outros. Uma prova muito simples do compromisso democrático da Renamo é a sua hostilidade ao alargamento do diálogo político a outras forças, os seus constantes insultos à liderança do MDM e a instrumentalização do diálogo para ganhos políticos particulares (isto é, só para a Renamo).
Não se explica que a Renamo nunca tenha adoptado a postura de formar uma frente comum com todas as outras forças políticas para contestar o que considera ser a perversão da democracia no país. E isso não se explica porque a sua preocupação central não é a democracia, mas sim as suas prerrogativas, ou mais especificamente, as prerrogativas do seu líder. É só ver a forma como ele trata os seus próprios colaboradores e gere o seu partido para perceber que democracia tem um outro sentido naquelas hostes. E há “intelectuais” que caiem nisto, mas percebe-se. Em todo o intelectual há aquele lado romântico que nos leva a crer, contra todas as evidências, na nossa capacidade de domesticarmos um líder guerrilheiro. Alguns destes “intelectuais” padeceram do mesmo mal em relação a Samora Machel e encontraram justificação para todos os seus desmandos por causa do mesmo tipo de fascínio… Para mim não há dúvidas de que o país, nas mãos da Renamo, seria um grande retrocesso justamente porque não só não tem espírito republicano como também o seu principal credo é o despotismo. A Frelimo, pelas suas clivagens internas, não tem espaço para o despotismo, mas a cultura do poder absoluto pode, como infelizmente pareceu fazê-lo no último mandato de Guebuza, criar condições para que indivíduos com este tipo de motivação ganhem supremacia.
Em relação ao MDM não me ocorre quase nada. O partido insiste em andar a reboque da Renamo, mesmo que seja maltratado e humilhado, e para além de frases vazias de conteúdo como “Moçambique para todos” não revela muito que possa consubstanciar um espírito republicano. É o partido que está melhor posicionado para cultivar esse espírito, pois não tem as tradições militares dos outros dois e a sua luta por espaço no contexto nacional é, no fundo, a luta que todos os moçambicanos travam pela liberdade. Não está à frente de nenhum movimento cívico – apesar de se auto-intitular de “movimento” – em prol do espírito republicano e contra o espírito anti-democrático do diálogo entre a Frelimo e a Renamo. Fica à espera do que de lá sair para se posicionar. Acresce-se a este vazio de liderança cívica a extrema incoerência de algumas pessoas que se consideram intelectuais – sobretudo nos jornais ditos independentes – que confundem hostilidade à Frelimo com posição pró-democracia. Ainda há pouco li um texto de Machado da Graça, articulista do Savana – o mesmo jornal que coroou o líder da Renamo figura do ano – em que critica, com certa legitimidade, a postura do governo em relação ao diálogo político, mas não aproveita esse momento para se distanciar claramente do recurso à violência, do incitamento à sessação e à rebelião, dos insultos aos órgãos do Estado, nada. E essa omissão reforça a ideia de que os fins justificam todos os meios, um princípio diametralmente oposto à ideia republicana.

Portanto, somos uma república, mas não temos republicanos. É aqui onde me parece residir a crise política no país. É pelo menos uma pista… (Elisio Macamo in facebook)

domingo, agosto 16, 2015

Plágio!!!

O Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) publicou, há dias, o relatório de um estudo sobre plágio em cinco universidades moçambicanas, entre públicas e privadas, com o título “Plágio em 5 Universidades Moçambicanas: Amplitude, Técnicas de Detecção e Medidas de Controlo”. O referido estudo, da autoria de Peter Coughlin, teve como amostra 150 trabalhos de fim de curso (monografias de licenciatura e dissertações de mestrado), tendo concluído que nada mais, nada menos que 75 por cento dos mesmos continham plágio. Antes de nos alongarmos, talvez valha a pena dizer o que é plágio. De forma simples e segundo Thomas e Bruin (2015), plágio é um “roubo intelectual” que consiste no uso de ideias e/ou pensamentos alheios como se fossem nossos, ou seja, sem atribuição ou citação, ofendendo os mais supremos valores da academia, adiando a aprendizagem séria, a disseminação de conhecimento novo e a integridade da academia como instituição. Ele pode ser derivado da falta de rigor nas citações, o que pode induzir os leitores a pensarem que aquelas são ideias do autor. E há também o chamado self-plagiarism (auto-plágio), ou seja, um autor usar um texto seu como se fosse um novo texto, mudando-lhe, quase sempre, apenas o título), que não é menos preocupante. Numa altura em que existe um “consenso generalizado” sobre a baixa qualidade do ensino no país a todos os níveis, não deixa de ser preocupante que três em cada quatro (75 por cento) trabalhos de fim de curso nos níveis atrás referidos contenham níveis elevados de plágio. É certo que o estudo admite que pode ser que parte de situações tais tenham que ver com deficiências metodológicas dos autores desses trabalhos, mas, mesmo assim, não estamos perante uma boa notícia. A limitada observação que tenho feito ao longo dos tempos, tanto em universidades públicas como privadas, me leva a inferir que a grande lição que o estudo do IESE nos dá é no sentido de se leccionar as disciplinas de métodos e técnicas de investigação e redacção de trabalhos científicos de forma mais rigorosa, para que não tenhamos almas empurradas ao estatuto de plagiadores por mera inocência metodológica, ao que se juntaria, naturalmente, a própria negligência dos autores dos estudos tais, e porque não dos seus tutores e examinadores, que, pelo menos nas situações particularmente graves, deveriam ou ter evitado ou ter detectado situações de atropelo à ética. Entretanto, para averiguar a gravidade da situação do plágio no país, que tal se se fizesse algo similar para com as teses de doutoramento e artigos científicos sujeitos à revisão de pares da autoria dos doutores da nossa República? Se a diferença entre uma e outra situação fosse similar, confesso que não me espantaria assim tanto, considerando a dimensão potencialmente universal do problema do plágio académico. Aliás, há algumas semanas um renomado investigador doméstico denunciava um seu colega de profissão, por alegado plágio. E, ao que tudo indica, de forma reiterada!

Um trabalho recente (Abril de 2015) de dois professores sul-africanos (Adèle Thomas e Gideon de Bruin, da Universidade de Joanesburgo, intitulado “The millions we spend on stolen ideas”, revela a gravidade da situação naquele que é o país que mais se destaca, ao nível de África, no ranking das melhores universidades do continente (as cinco melhores instituições de ensino superior de África são sul-africanas). E, diferentemente do que constituiu objecto do estudo de Coughlin, Thomas e Bruin tiveram como amostra 371 artigos científicos publicados em 19 revistas científicas, em 2011, depois que aprovados em sede de revisão de pares. O que se constatou na pátria das melhores universidades do continente, com recurso às plataformas tecnológicas de detecção de plágio (Turnitin), é simplesmente alarmante: 68 porcento dos artigos submetidos ao exame continham similaridades e evidência bastante para qualificar como produto de plágio. Os que continham plágio considerado nitidamente excessivo correspondiam a 21 por cento, enquanto que 27 por cento se inseriam na categoria de níveis muito elevados de plágio. E convém sublinhar o seguinte: como que se inspirando no sagrado princípio constitucional e jurídico-penal segundo o qual a dúvida beneficia o réu, os investigadores sul-africanos fizeram o mesmo para com os autores que estivessem na fronteira entre o rigor académico e o plágio. Os dois investigadores referem, no seu estudo, que os contribuintes sul-africanos dispenderam pelo menos sete milhões de randes na recompensa à fraude: naquele país vizinho, o Governo paga 120 mil randes por cada artigo científico publicado numa revista científica, depois da relevante revisão de pares. Compete a cada universidade a que os autores estão associados a definição da margem ou parcela que é alocada a estes últimos. Se no caso de estudantes moçambicanos ainda se pode aventar a possibilidade de o plágio ter que ver com deficiências na sua formação, no caso dos investigadores sul-africanos, os doutorados sobretudo, a situação é mais de pendor ético. Naquele país, as verbas públicas disponíveis e em tantos outros países, há-de estar a propiciar situações de oportunismo. Adicionalmente, a luta pela promoção na carreira universitária, que toma as publicações científicas como um dos requisitos centrais, há-de fazer parte da triste equação do plágio académico. Domesticamente, seria interessante saber da posição do Conselho de Reitores!

Contestação ao Prosavana

A resistência ao Prosavana, o controverso programa de desenvolvimento agrícola no corredor de Nacala, norte de Moçambique, não acontece de uma forma isolada. Ela está inserida dentro de um contexto em que várias outras formas de resistência vem ocorrendo. Nos últimos tempos, revoltas populares e manifestações de repúdio aconteceram em Moçambique, desde campanhas organizadas por grupos da sociedade civil até demostrações espontâneas nas cidades moçambicanas. Se fossem persistentes, tais manifestações poderiam resultar na queda ou desestabilização do sistema. Alguns defendem que os recentes motins nalgumas cidades em Moçambique advêm da insatisfação popular pelo bloqueio, ineficiência ou descrédito dos mecanismos formais de comunicação com o estado1. É provável que isso contribua consideravelmente, porém, é preciso compreender que os moçambicanos poderão estar a contestar a ditadura do modelo. Esse modelo de desenvolvimento que, por um lado coloca o país nos melhores rankings de crescimento económico do continente- resultado de um modelo baseado no extrativismo e no destrutivismo, engrandecendo apenas os números do PIB - e por outro não reduz a pobreza e não proporciona, de forma mais ampla, desenvolvimento social e económico para as pessoas2. O ministro moçambicano da Agricultura e Segurança Alimentar, José
Pacheco, voltou a defender o Prosavana, com unhas e dentes, desta vez no parlamento (22 de Julho), como sendo a salvação para a nossa situação de insegurança alimentar. O ministro disse aos parlamentares que, contrariamente ao que pensam os movimentos sociais, grupos da sociedade civil e a oposição política, o Prosavana visa transformar os camponeses em produtores intensivosorientados para o mercado.É verdade que as condições em que trabalham os camponeses moçambicanos precisam ser melhorados, mas será verdade que eles precisam, necessariamente, ser transformados em agricultores de larga escala e entrar no circuito do agronegócio?
Para os opositores ao Prosavana isso não só é desnecessário como nunca será possível. É que o Prosavana está inserido num modelo de desenvolvimento de orientação capitalista: destruição do meio ambiente, exploração de homens e mulheres e acumulação para poucos. No entendimento dos grupos que se opõem, serão companhias agroindustriais, e não camponeses, os que se vão, efectivamente, beneficiar. Forçar produtores de escala familiar, que geralmente usam técnicas agroecológicas e sementes locais, a se tornarem “competitivos”pode ser considerado, não só como uma falácia, como também um exercício de violência. Movimento de camponeses, vários grupos da sociedade civil e alguns académicos progressistas – incluído gente ligada ao governo - aperceberam-se disso desde o início, em 2012. Por essa razão a resistência ao Prosavana é de uma magnitude incomodativa. É provável que, na história pós-colonial de Moçambique, nunca tenha havido uma resistência tão corpulenta e persistente a um modelo de desenvolvimento como está a acontecer com o Prosavana. Mesmo assim, o governo e seus aliados insistem em avançar. O director provincial da Agricultura e Segurança Alimentar em Nampula – uma das províncias abrangidas pelo Prosavana –, Pedro Dzucula, provavelmente o defensor mais tenaz do Prosavana dentro do governo, depois do ministro Pacheco, foi citado pelo jornal notícias, em Agosto de 2014, a garantir que o Prosavana vai inevitavelmente avançar. Dzucula acredita que a oposição ao Prosavana, que ele considera de subversão, é “induzida de fora do país, usando alguns segmentos da sociedade civil”, sem nunca ter apresentado provas que sustentam essas acusações. Essa abordagem amaneirada do governo,no lugar de intimidar, pode estar a atiçar a resistência ao Prosavana.  Vários activistas acusam tanto a Pedro Dzucula, como ao ministro Pacheco de terem uma abordagem ameaçadora. No dia 12 de Junho, durante uma auscultação pública
sobre o Prosavana, o ministro Pacheco não podia ter sido mais claro: “qualquer obstáculo vamos atropelar e avançar”, depois de ordenar aos participantes a terem intervenções patrióticas numa consulta pública, confundindo o seu papel de “auscultador” com o de quem dita regras. Mas o governo de Moçambique e os promotores do Prosavana também se apercebem da expansão da resistência, que se tornou internacional, e mudaram gradualmente o discurso. A linguagem usada na primeira versão do Plano Director do Prosavana, vazada para a sociedade civil em 2013 – o qual, segundo a sociedade civil, confirmava o pior é totalmente diferente da que se usou na última versão, apresentada em Junho de 2015. A última versão pode enganar se o leitor não prestar atenção nos detalhes. O diabo, dizem, está nos detalhes. A linguagem mudou, mas a essência da coisa continua. Há quem defenda que, a oposição ao Prosavana é infundada, visto que os seus “adversários” se opõem a algo que não conhecem. Na óptica dos menos sépticos, é preciso deixar o Prosavana avançar para ver, na prática, seus resultados. O risco que secorre ao deixar a “caravana passar” é que os danos ambientais que poderá causar (com o uso de agrotóxicos, contaminação das águas, destruição de florestas nativas) não se reparam e a desintegração social advinda do deslocamento de comunidade custa repor. Mas talvez isso possa ser um mal “necessário”, se no futuro as comunidades negativamente afectadas vierem a insurgir-se. Quando milhares de camponeses tenham perdido o único que lhes garante sustento, eventualmente formarão movimentos radicais de luta pela terra e dignidade, e estaremos vendo o gigante adormecido despertar. O governo precisa dialogar, e não apenas informar, com o povo. O governo, mesmo que constitucionalmente eleito, é representante do povo, e não seu dono. É problemático que, em pleno século 21 os governantes insistam em implementar programas incongruentes, agindo como se fossem eles os pastores e o povo o rebanho. Ou seja, não importa a opinião das massas, das organizações. Eles são clarividentes,visionários e sabem para onde conduzir o rebanho. São as mesmas tendências vanguardistas, características dos regimes comunistas, mas implementadas num contexto de neoliberalismo de direita. É uma enorme contradição. Esta contradição se evidencia quando, um governante acredita, sinceramente, que vai trabalhar com “pequenos e médios produtores, avicultores e criadores de gado, que num processo de transformação gradual (...) evoluirão de uma agricultura predominantemente de subsistência para uma agricultura intensiva, orientada para o mercado6”, sem explicar como será possível esse milagre de transformar milhões de pessoas em agroempresários.
* Boaventura Monjane/Jornalista e activista social.


Atum & Armas

Não há nenhum outro negócio no mundo sujeito a um sistema tão rigoroso de controlo como a movimentação de armas de guerra. Nesta era de armas de destruição maciça, agências de espionagem em todos os cantos do planeta gastam vastas somas de dinheiro e outros recursos, seguindo a trajectória de equipamentos militares que temem que se caírem em mãos erradas ou de regimes hostis, podem ser usadas contra os seus países. Deve ter sido por isso uma grande ingenuidade alguém acreditar que um negócio de armas pudesse ficar permanentemente encoberto como um investimento para a pesca de atum. Hoje, quase dois anos depois das primeiras informações terem começado a circular dando conta de que Moçambique se endividara no mercado europeu em 850 milhões de dólares, ficamos a saber, a partir dos mesmos governantes que tentaram esconder a informação, que na verdade, somente 40 porcento do volume de todo o negócio estarão provavelmente ligados à pesca de atum. Os restantes 60 porcento constituem matéria directamente ligada à defesa. E no meio de todo o manto de mentiras que foram sendo ditas durante este tempo todo, poucos estarão ainda preparados a acreditar que mesmo na componente respeitante à defesa, se trate apenas de barcos para patrulhar a longa costa moçambicana. Ninguém questiona o direito legítimo de Moçambique organizar-se para proteger os seus recursos naturais e defender-se de qualquer  agressão externa. Até porque pelos padrões de muitos países do seu nível de desenvolvimento, mesmo que todos os 850 milhões de dólares tivessem sido aplicados para despesas militares, esse valor dificilmente poderia ser considerado um escândalo. O que levanta a questão da nebulosidade com que esta transação foi tratada. Mesmo admitindo que negócios de armas decorrem geralmente em ambientes de secretismo, o seu impacto sobre as contas públicas, aliado ao facto de que a defesa nacional é uma acção legítima para a protecção do Estado, há um nível de transparência que seria necessário imprimir, para que não haja suspeitas de que indivíduos estejam a enriquecer em nome da segurança do Estado. De qualquer modo, quando em dias festivos são exibidos materiais de guerra que se sabe que até há pouco tempo não existiam, os menos distraídos ficarão a saber o que se passa na verdade. E esta não será a primeira vez que Moçambique compra armas. Há alguns sectores que defendem a pouca clareza deste negócio com o argumento de que se tudo tivesse sido feito de forma transparente, isso teria levantado objecções por parte de parceiros internacionais. Mas estes são os mesmos parceiros que insistem que Moçambique deve assumir responsabilidades pela protecção da sua costa, um corredor privilegiado do comércio mundial, para além dos avultados investimentos que companhias desses mesmos países estão a realizar nesta costa na área dos hidrocarbonetos. É importante sublinhar também que este negócio foi feito na França, com o envolvimento de bancos franceses e suíços. Pelas leis dos seus países, estes bancos devem prestar contas aos seus respectivos governos. Estes, que por sua vez obteriam, dessa forma, a mesma informação que a sua contraparte moçambicana entende que deve ser ocultada. Na ausência de uma defesa mais consentânea, surgiu também nos últimos tempos o argumento de que o questionamento a toda esta operação estará a ser feito por interesses (estrangeiros, entenda-se), que gostariam de continuar a beneficiar da incapacidade de Moçambique de controlar a sua longa costa. O facto, porém, é que não é isso que preocupa os moçambicanos. Para uma operação desta magnitude, com todos os seus efeitos sobre a economia do país no futuro, é importante que os cidadãos deste país tenham o entendimento comum de que estão a sacrificar os seus recursos para investir para um bem que é também comum. Para isso existe o parlamento. Porque quando em negóciosdo Estado se tenta sacrificar a transparência em nome de uma suposta segurança do Estado, corre-se o risco de se perder ambos.

terça-feira, agosto 11, 2015

"tuga" esqueceu-se que em Moçambique se fala português

O Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS) interditou, segunda-feira, com efeitos imediatos, o direito de exercício laboral em Moçambique ao director geral da empresa 'Custódio Construções', Lda, o português Sabino Filipe Custódio por irregularidades laborais. Sabino Custódio e' acusado de ter violado os 'Direitos Fundamentais' estabelecidos na Constituição da República e as demais leis em vigor no país. A violação dos direitos foi constatada pela Inspecção Geral do Trabalho, numa visita que realizou àquela empresa com sede em Maputo onde, além de irregularidades laborais, constatou ainda manifestação de maus tratos perpetrados aos trabalhadores moçambicanos pelo respectivo director geral. 
Segundo um comunicado de imprensa do ministério, Custódio não concedia equipamento de prevenção da sinistralidade laboral, expondo os seus trabalhadores a perigos graves contra a sua segurança e saúde, no posto de trabalho. Outras irregularidades incluem descontos salariais aos seus trabalhadores e a não canalização dos respectivos descontos ao Sistema de Segurança Social. Custódio é acusado ainda de insultar seus trabalhadores, proferindo palavras injuriosas, pondo em causa a integridade moral daqueles. A acentuada entrada de cidadãos estrangeiros em Moçambique, contratados por empresas que actuam em diversas áreas da economia nacional, com destaque para o ramo de construção civil, tem vindo a preocupar as autoridades do MITESS. Como consequência, só em Maio deste ano, as autoridades laborais moçambicanas fiscalizaram perto de 50 empresa do ramo, tendo sido detectados e suspensos imediatamente 120 cidadãos em situação ilegal, provenientes de diferentes países.

Com antigos colegas

No segundo dia da sua visita de estado à Índia, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, regressou ao Instituto Indiano de Gestão (Indian Institute of Management, IIM), uma instituição do ensino superior em Ahmedabad, a maior cidade do estado de Gujarat, onde frequentou um curso de formação de quatro meses e meio para executivos avançados em 2003.Na época, Nyusi era um executivo sénior da Empresa Pública, Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e ainda não havia qualquer indício de que um dia ele seria eleito para ocupar o cargo de Presidente de Moçambique.Para a visita de Nyusi, foram convidados os seus colegas de turma de 2003 para um reencontro, tendo comparecido 18 dos seus 36 antigos parceiros. Foi um encontro que decorreu num ambiente informal, onde tiveram a oportunidade de abraçar o Presidente, rir, brincar e lançar algumas piadas.
Muitos dos seus antigos colegas são agora figuras importantes em grandes empresas indianas, alguns dos quais com interesses em Moçambique, enquanto outros manifestaram interesse em expandir para o mercado da Africa Austral, incluindo Moçambique. Sunil Gen, que actualmente exerce o cargo de director financeiro da Videocon, um conglomerado indiano, com vários interesses, desde produtos electrónicos de consumo a petróleo e gás, disse que ele e Nyusi eram grandes amigos e lembra-se do Presidente como sendo 'intelectualmente poderoso'.'Estamos muito orgulhosos com o facto de um dos nossos colegas ser agora Presidente de Moçambique', acrescentou. Outros no grupo agradeceram Nyusi 'por trazer-nos todos juntos novamente depois de 12 anos'.
Houve também momentos mais relaxantes, como quando um antigo colega disse que “eu costumava sentar atrás do camelo, para evitar que você caísse”.
Estudantes moçambicanos continuam a frequentar instituições de ensino superior em Gujarat, e Nyusi teve um breve encontro com um grupo num hotel de Ahmedabad que contou com a participação de 21 dos 49 residentes naquele estado. Cinco do grupo são agentes da polícia moçambicana, com diplomas universitários, e que estão a frequentar um curso de mestrado em ciência forense.A chefe do grupo, Liana Cumbe, uma estudante do terceiro ano de engenharia informática assegurou ao presidente que todos os alunos estão comprometidos com o desenvolvimento de Moçambique. 'Tenho a certeza que vão sair daqui quadros bem formados”, disse ela.
Mas, quando Nyusi questionou se eles tiveram alguma dificuldade em se adaptar às condições da Índia, um dos membros do grupo admitiu que a falta de laboratórios em muitas escolas secundárias moçambicanas, significa que muitos estudantes acabaram encontrando equipamento desconhecido que tiveram que aprender a lidar em Gujarat.O grupo também manifestou a sua preocupação com as perspectivas de emprego após o seu regresso a Moçambique, e afirmaram que poderão tentar encontrar empregos com empresas indianas que operam no país.

Oportunistas preparam-se para tomar o futebol

As eleições da próxima quinta-feira (13), que deverão eleger o homem forte do fraquinho futebol moçambicano, centra-se numa discussão errada. O processo está voltado para a discussão das pessoas. 
Resultado de imagem para chang maputoChang é apontado como o pai da EMATUM. Uma desculpa fácil que ignora o essencial. Na lógica de um negócio como o da EMATUM, nos moldes que foi feito e com o secretismo que o caracteriza, Chang não é a peça chave. É óbvio que se pode questionar o seu papel na operação, mas julgá-lo peça chave na realização do processo EMATUM é mentalmente, no mínimo, estar abaixo do mais ingénuo cidadão nacional.

Resultado de imagem para waty maputoWaty é apontado como candidato da continuidade, como a extensão do malévolo Faizal Sidat. O homem responsável pela destruição do futebol nacional. O protector da Liga Desportiva de Maputo. Outra desculpa estapafúrdia. Ainda que Waty seja a continuação de Sidat afirmar que o último é a causa do nosso descalabro significa ignorar 40 anos de história e uns 20 da morte de espaços de prática desportiva que hoje, para além de mudar a estética das grandes cidades, revelam o rosto mais sórdido da lavagem de dinheiro sujo. Também temos o Enoque João, candidato considerado estrangeiro pelo facto de residir em Portugal e ser presidente da Casa Moçambique. O seu único pecado é mesmo esse.

Há também o que é considerado homem do desporto e pai do sucesso do Moçambola. Esse campeonato envolto em suspeição cujos direitos de transmissão nunca foram canalizados aos clubes. Esse bom gestor, que muita gente apoia – como expressão mais alta da nossa senilidade colectiva -, faz-se, nas suas deslocações às províncias, acompanhar-se por jornalistas da mesma estação televisiva que deve milhões à Liga Moçambicana de Futebol e aos clubes nacionais. Um gestor de topo do Desportivo de Maputo foi ao cúmulo de afirmar, nas redes sociais, que o seu clube não paga aos atletas porque espera receber o montante das transmissões televisivas, pasme-se.

Resultado de imagem para simango junior maputoOs clubes que disputam o Moçambola, sobretudo os baseados em Maputo, que mamam desenfreada e injustamente nos fartos seios do Estado, dão o rosto por Simango e só em conversas privadas falam desses montantes que serviriam para pagar algumas despesas. O problema, dirão, não é Simango, mas sim a Televisão Pública de Moçambique. Um tremendo absurdo.


Na nossa lógica o problema não reside aí. Na nossa lógica o problema reside no facto de termos espremido os manifestos eleitorais e daí, para nossa desgraça – aliás, desgraça do futebol nacional – não ter resultado sequer uma gota de suor. Ou seja, da leitura dos manifestos, pejados de erros que denunciam que foram escritos em cima do joelho, não há nenhuma ideia para alavancar o pútrido futebol moçambicano.

Resultado de imagem para enoque joao Trata-se, no nosso entender, de luta pelo poder e não da corrida para cimentar pilares, alicerçar ideias e construir referências. É uma corrida contra o progresso e que, no final, só o futebol vai perder. O futebol, pelo menos nesta luta, ri-se desalmadamente do jornalismo: o primeiro perdedor. Uns jornalistas vestem a camisola do Chang, outros de Simango e uns de Waty. Enoque é o pobre que corre sozinho, mas o seu pecado, como dos outros, é não ter nenhuma ideia. Pobre futebol moçambicano…