quarta-feira, abril 13, 2011

Guerra não, por favor...

Moçambique viveu, durante 16 anos consecutivos, debaixo de uma guerra que destruiu literalmente as principais infra-estruturas económicas e sociais, para além de provocar milhares de mortos, deficientes físicos, feridos, deslocados internos e refugiados nos países vizinhos. Ao longo desse período, o país esteve praticamente paralisado e regrediu décadas, do ponto de vista produtivo e não só. Em Outubro de 1992, finalmente as partes beligerantes, o Governo e a Renamo, chegaram a entendimento, assinando o Acordo Geral de Paz, na capital italiana, Roma, após cerca de dois anos de negociações complexas. Foi um alívio! Consequentemente, foi posta em prática a convivência multipartidária, já prevista na Constituição então vigente.De lá para cá, a par da consolidação da paz e do aperfeiçoamento da democracia pluralista emergente, o país tem estado a esforçar-se no sentido de reerguer-se dos escombros dessa guerra, com o envolvimento dos moçambicanos e o apoio da comunidade internacional. Nesse exercício, torna-se cada vez mais claro que, afinal, é mesmo mais fácil destruir do que construir ou reconstruir, a avaliar pelo volume do trabalho que ainda é necessário realizar para apagar as marcas desse conflito armado devastador e recolocar Moçambique na rota do desenvolvimento e do bem-estar.É que ainda hoje está-se a proceder à reconstrução das infra-estruturas económicas e sociais destruídas pela guerra dos 16 anos, bem como à reintegração social de muitos compatriotas que nela estiveram directamente envolvidos, entre outras acções que visam a normalização da vida dos moçambicanos.Neste momento, as atenções estão centradas na busca das melhores formas de combater a pobreza que grassa a maioria dos cidadãos, o que passa pela entrega ao trabalho árduo e contínua mobilização de investimentos externos para a reactivação do potencial produtivo de que dispomos, tarefa que se apresenta difícil, face à actual crise económico-financeira que abala o mundo.
Entretanto, nos últimos dias ecoam vozes de figuras políticas nacionais que se manifestam com muitas saudades da guerra de triste memória, ao afirmarem, alto e em bom som, que estão dispostas a “virar o país de pernas para o ar”, como se isso fosse o que mais falta faz aos moçambicanos.Para a concretização dos seus objectivos, ameaçam desencadear, a partir da província de Sofala, manifestações violentas para desestabilizar Moçambique e destruir o que, com muito esforço e sacrifício, se conseguiu reedificar e edificar ao longo dos cerca de 19 anos de paz. São indivíduos preparados ou habilitados somente para viver permanentemente em guerra, razão pela qual sentem-se com muitas dificuldades em ambientes pacíficos, onde se privilegia o debate de ideias de cada um, sejam elas diferentes ou divergentes, e não a força das armas.Cremos que não é proibido propor a renegociação do Acordo Geral de Paz, por mais disparatada que essa proposta possa ser considerada, mas ela não deve, de forma alguma, ser feita sob ameaça de retorno à guerra para “virar o país de pernas para o ar”.Cremos ainda que não há nenhum moçambicano, verdadeiramente patriota, responsável e em pleno gozo das suas faculdades mentais, deseja ver o seu país de “pernas para o ar” e que, por isso, possa embarcar num projecto tão devastador como esse defendido por aqueles que têm muitas saudades do sofrimento do povo.Os moçambicanos querem, isso sim, a paz para nela continuarem a ter espaço de liberdade, de expressar as suas opiniões, de viajar, de estudar, de divertir-se, de trabalhar para vencer a miséria e de fazer muitas outras coisas apenas possíveis sem guerra.(DM)

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