segunda-feira, agosto 31, 2020

Na perseguição

Com base em informações e colaboração internacionais, a marinha de Moçambique apreendeu sexta-feira, e ontem(30) , domingo, duas embarcações suspeitas, ao largo de Cabo Delgado, com cerca de 60 pessoas a bordo.Uma terceira terá sido afundada, e mais duas localizadas e perseguidas.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, nuvem, céu, oceano, ar livre, natureza e água

Na versão oficial, «todas as embarcações estão agora sob controlo da Marinha moçambicana». O processo de identificação individual dos detidos continua. Dois serão responsáveis de peso na rede de infiltração em CD. Quanto aos botes: parecem ser semelhantes aos barcos de borracha «inafundáveis» usados por alguns carteis de introdução de migrantes, fabricados num país asiático (como o da foto), e capazes de transportar 30 pessoas cada. Entre os detidos havia gente com camuflados militares e, alegadamente, armas.

Militarização da política

Tinha prometido que o texto de ontem seria o último a reflectir sobre a governação. Quebro a promessa por causa dum artigo assinado por Joseph Hanlon e Anastasya Eliseeva que levanta questões importantes de governação, mas também por causa da exortação feita por Guebuza na palestra de ontem sobre a importância do conhecimento baseado na pesquisa. Segundo os autores, a violência em Cabo Delgado não tem muito a ver com o Estado Islâmico. É uma guerra civil alimentada pela pobreza e desigualdade dentro dum contexto político em que as elites políticas nacionais estão apostadas em se apropriarem das riquezas nacionais para seu próprio benefício.

Acho a análise bastante pobre.

Concluding Remarks by Prof Elísio Macamo) - YouTube

Eu próprio já havia, há semanas, recorrido à ideia do Estado Islâmico como franquia para alertar para a necessidade de não se perder muito tempo e energia com estudos circulares sobre a pertinência da religião como variável que pudesse explicar a violência. Nisso, portanto, estamos de acordo. Já não concordo com os autores quando reduzem a violência totalmente à corrupção da elite política como se fosse possível estabelecer sem nenhuma dificuldade uma linha recta entre pobreza e desigualdade, dum lado, e violência. Este é um problema analítico que tem a sua origem em dois equívocos metodológicos.

O primeiro equívoco parece-me prática assente na análise social feita de forma artesanal. O pesquisador tira uma conclusão qualquer e depois junta informação que a confirma. O artigo em questão tem como base de argumentação escândalos financeiros conhecidos, suposições sobre a conduta das eleições, palpites sobre os níveis de descontentamento da população, casos comiserados semelhantes noutros países, etc. A colação desses casos todos torna plausível a conclusão tirada antes do estudo. Ao invés de usar a informação para pôr a conclusão à prova, o pesquisador usa os elementos dessa informação que podem ajudar a sustentar a sua conclusão. Chega a ser desonesto. O segundo equívoco, também recorrente na análise social artesanal, é a fraca sensibilidade para a relação que conceitos têm com a realidade. Conceitos são caixas negras. Eles encerram várias coisas dentro de si de tal modo que o recurso a um conceito para explicar seja o que for pode ser vago e não dizer absolutamente nada.

Por exemplo, quando alguém diz que a pobreza e a desigualdade alimentam a violência, ele propõe-nos três conceitos densos – pobreza, desigualdade e violência – que num primeiro momento escondem, mais do que revelam, informação. A pobreza é relativa, absoluta, situacional, geracional, rural, urbana, etc. Que tipo exacto de pobreza é responsável pela violência e como é que isso ocorre? Suponho que a relação entre pobreza e violência seja mediada pela radicalização de jovens. Ok, que tipo de jovens se radicalizam ao ponto de pegar em armas? Porque outros jovens igualmente pobres não se radicalizam, ou quando se radicalizam, não chegam ao ponto de pegar em armas? Ademais, qual é a relação exacta entre a pobreza, dum lado, e a corrupção das elites políticas? A teoria que enquadra esta análise tem que partir do princípio de que a pobreza gera violência. Porque é que, por enquanto, só há violência em Cabo Delgado? Acima de tudo, para que é necessária a corrupção das elites políticas para explicar a violência sabido que é que é possível ser pobre mesmo sem corrupção das elites políticas?

A relação que estabeleço entre governação e valorização do conhecimento baseado na pesquisa baseia-se nestas poucas perguntas que acabo de formular. Tenho acompanhado, atento, vários escritos, webinares e comentários sobre Cabo Delgado. Não sou especialista da área, nem do tema, mas aprendi metodologia e dou muito valor a ela. Há cada vez menos contribuições que me convencem. Cada especialista agarra-se à sua conclusão e junta dados para a proteger. Guebuza falava num outro contexto, mas tem razão. Temos que valorizar o conhecimento baseado na pesquisa. Isso significa que muitos têm de aprender a avaliar a produção científica para não ficarem reféns da análise social artesanal. Só num sentido metafórico é que podemos falar de “guerra civil” em Cabo Delgado. A violência que assola partes da província é sintomática duma constelação particular de factores sociais, culturais, económicos e políticos que têm como pano de fundo a fragilidade do processo de consolidação da autoridade estatal em países como os nossos. Análises 4X4 que simplificam as coisas com recurso à corrupção das elites políticas desviam a nossa atenção do essencial. Nada disto quer dizer que o aproveitamento individual que pessoas bem situadas no poder político fazem dos recursos não seja um problema. Nem que a pobreza ou desigualdade não sejam problemas. Tudo isso é problema, mas até a gente entender como se articulam para produzir o tipo de violência que produzem vai uma grande distância. Vai ser necessário trabalho científico mais sério do que tem havido.

Mas é por isto tudo que tenho criticado o governo, sobretudo a relutância do Presidente em falar abertamente sobre Cabo Delgado. Essa relutância faz parte dum quadro geral de inépcia política na abordagem dos desafios de governação. Enquanto os investigadores se perdem nas suas análises artesanais, o Presidente anda atrás de bodes expiatórios misturados com teorias de conspiração – “não nos querem ver a beneficiar dos nossos recursos” – que manifestam a sua falta de vontade – ou capacidade (?) – em abordar os desafios da governação de forma política. Cabo Delgado mostra as deficiências da nossa estrutura política. E isso vai desde a relação entre FDS e cidadão, passa pelos mecanismos locais de interpelação do poder, mas também de protecção e promoção da cidadania, até à relação entre poder central e poder local. Convocar gente abalizada para reflectir sobre isto e estimular debates na esfera pública sobre os desafios políticos que a província nos coloca é fundamental para a elaboração duma melhor abordagem. Não sei de nenhuma iniciativa do Conselho Nacional de Defesa e Segurança para reunir os vários especialistas que temos para ajudarem a reflectir sobre o assunto. Na Alemanha e na Suíça é assim que se fazem as coisas, mesmo sabendo que essas instituições dispõem elas próprias de gente abalizada.

Mali: ONU acusa exército e segurança do Estado de obstrução ao processo de  paz de 2015

Embora em minha opinião o governo nao seja directamente responsável pela violência lá em Cabo Delgado, a sua inépcia tem contribuído muito para a escalada. Dói dizer isto, mas tudo indica que o Presidente Nyusi vai legar nao só a violência de Cabo Delgado ao seu sucessor, como também o rastilho que ela representa para o resto do País. O acordo com a Total parece-me o pontapé de saída para a militarização irresponsável dum problema político. Preparemo-nos para o cenário igual ao norte do Mali. (Elisio Macamo in facebbok)

terça-feira, agosto 18, 2020

COVID19


Uma coisa não anula a outra (2)

 

O PR decretou mais um ciclo de EE, no meio forense há debates sobre a constitucionalidade ou não do acto. Mesmo não sendo jurista não resisto a perguntar-lhe. Como recebeu essa decretação? 

O Governo não tinha um instrumento legal para gerir esta situação e havia um vazio legal para poder pôr a funcionar as suas medidas restritivas. Então, aqui vamos ter que perguntar o seguinte: O que é que aqueles que aconselham o PR e o Governo andaram a fazer durante quatro meses para não criar um instrumento legal que pudesse substituir o EE e colocar o chefe de Estado, neste furacão, a dividir uma vez mais a sociedade? Não discuto se é ou não constitucional. O problema é aqueles que estão próximos do PR e pertencem ao fórum que pode produzir propostas de lei só se lembrarem de submeter à AR a modificação da lei das calamidades, simultaneamente, no momento em que o PR estava a ser coagido a renovar o EE. O erro está aí. Tinha que haver uma medida legal e este vazio obrigou o PR a decretar um EE. Não é constitucional para os juristas, mas também o que é que faria o PR nesta situação? Atropelar a CRM é um mau precedente. É preciso que haja conselheiros do governo e da presidência que tenham leituras com visão do que pode acontecer. Temos a Covid-19, mas também pode trazer outras consequências e como é que isso vai ser gerido. Daquilo que leio de juristas mais abalizados, a banalização da CRM pode levar a tentações de musculação do exercício de poder e a democracia fica mitigada.

A falta de antecipação dos conselheiros do PR e do Governo nesta matéria remete-nos ou não aos discursos dos doutores Óscar Monteiro e Rui Baltazar sobre a necessidade de nomear pessoas capazes e a altura de modo a não confundir a meritocracia e mediocracia?

 Nós sabemos que o panorama partidário modificou-se muito depois da morte de Dhlakama. A Frelimo acaba por ganhar espaços largos, o que dá fôlego enorme de poder pensar e acredito que será assim, que vai permanecer no poder durante muito tempo, porque não vejo uma Renamo que possa bater-se com a Frelimo em qualquer pleito eleitoral nos próximos tempos. A partir do momento que se tem essa percepção dentro da Frelimo aparecem os clientes. Essa história de dizer que é nossa vez, antes era restrita, agora começa a alargar-se. Como a fasquia do poder aumentou, os clientes também começam a aumentar e esta prática cultural que se esconde por detrás de “quem está connosco e quem não está connosco” é uma pergunta que se faz e esconde o clientelismo. Você não fala, não critica, é um sim senhora e tem lugar garantido. Isto vai permanecer por muito tempo. Há um drama terrível e espero que o PR Nyusi não passe por isso, porque os presidentes Joaquim Chissano e Armando Guebuza passaram pelo drama de que nos últimos dois anos dos seus mandatos as pessoas começavam a olhar para quem vem a seguir. Esta coisa é cultural dentro do partido.

Quais as consequências que isso acarreta?

O preço a pagar é a má governação do Estado e da nação. O que os doutores Monteiro e Baltazar estavam a dizer têm por detrás exactamente esta questão. Neste momento, procura-se olhar para a militância do que para a competência.

É possível erradicar?

Pode se extirpar de duas maneiras: uma vaga de fundo, em termos das bases que dizem “chega, não pode ser assim” e começar a varrer de era baixo para cima. Ou há um líder com carisma suficiente que começa a varrer de cima para baixo. Não se pode de forma nenhuma conviver com isto permanentemente.

O PR Nyusi tem carisma para tal?

A agenda do actual Presidente da República é vasta. Acho que os chefes de Estado anteriores tiveram agendas também complicadas, mas a agenda do Presidente Nyusi, do ponto de vista de política interna, é muito grande. Nessa passagem de testemunho dos antigos combatentes para esta nova geração ele herdou um país e foi terrível desde o início. Tendo uma agenda vasta, como Presidente da República, não tem fôlego suficiente de ao mesmo tempo, como presidente do partido, olhar para isso. Mas também ele teria que ter, a nível do “staff ” imediatamente a seguir a ele, o secretário- -geral, o secretariado do partido e na Comissão Política (CP) pessoas que não fossem clientes, que fossem pessoas que pudessem ajudar o líder a varrer. Não podemos continuar com aquele tipo de agendas. Ontem Guebuza era  “o filho mais querido da nação”, hoje Nyusi é isto ou aquilo, não é isto que se pretende. Ele não precisa de ser louvado pela sua CP e isso não faz sentido. Não é aquele o papel da CP. Sou membro da Frelimo e nunca escondi, mas não partilho dessas ideias. Minha relação com Dhlakama foi nessa base, porque ele dizia eu sei quem tu és. Uma CP é um estado-maior do presidente do partido que deve ajudá-lo a resolver o problema que eu disse.

Quando um presidente se deixa influenciar não é porque gosta? Por exemplo, ele não se identificou com o tractor do Francisco Mabjaia no XI congresso e enxovalhou-o.

Será que tem espaço para negar? O tractor foi um acto público. Depende da estrutura da pessoa. Neste ambiente partidário é complicado, que a Frelimo se apercebeu que é uma força hegemónica, o exercício de poder é de muitos equilíbrios e o líder quando é, ao mesmo tempo, chefe de Estado tem que gerir a agenda do Estado e de cada um dos membros do partido. Ou seja, dos interesses de cada membro do partido, pois todos eles querem ser qualquer coisa no Estado. Eu entro no partido e faço uma boa militância, porque tenho interesse em ter algum lugar no Estado. Como é que um líder pode gerir uma coisa destas? Tem que ter estas segundas linhas, como secretariado e a CP muito bem alinhados com a agenda do seu Presidente. Alinhado com o Presidente não é dizer que você é bonito. Criou-se um clima psicológico colectivo que não ajuda o líder a mexer a cabeça dele e dizer isto não está bem, não pode. Quando isso acontece é extremamente complicado, o problema não é do PR resolver esta situação, ele não tem condições de resolver todos os problemas, porque a sua agenda é carregada como chefe de Estado e o partido.

Na passada quinta-feira, assinalou-se o primeiro aniversário do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Acha que agora estão criadas as condições para se enterrar em definitivo o machado da guerra no país, no contexto governo e Renamo?

Gostaria de dizer que sim, mas não estou convencido.

 Porquê?

Estamos a lidar com duas questões, de um lado a paz e doutro a reconciliação. Em 1992, o Presidente Joaquim Chissano assinou o primeiro acordo e geriu a paz durante 20 anos. Não conseguiu gerir a reconciliação, no entanto, conseguiu esconder. Quando apareceu outro protagonista, o Presidente Armando Guebuza, não conseguiu gerir e o conflito estoirou. Agora tens um processo que foi bem conduzido, do meu ponto de vista, entre Nyusi e Dhlakama. Azar é que este último morreu. Com a sua morte, a Renamo foi ao congresso e Ossufo Momade ganha as eleições e não se apercebeu que estava perante um desafio grande de promover a coesão da Renamo por carisma, tal como Dhlakama fazia, ou por via de política de integração. Ossufo Momade dividiu o partido e perdeu o apoio dos militares. Querendo como não, Mariano Nyongo era o braço direito de Afonso Dhlakama. Aquando do cerco da casa de Dhlakama na Beira, foi Mariano Nyongo quem assinou o termo de entrega das armas e não Dhlakama. Isto significa a importância que aquele homem tinha dentro do aparato militar que havia dentro da ala militar da Renamo na Gorongosa com Dhlakama. Provavelmente, Ossufo, mal-aconselhado, não se apercebeu disto e criou um problema político terrível. Ossufo Momade diz que Nyongo é um problema do Estado, a Frelimo diz que é da Renamo.

Então, como acabar com isto de uma vez por todas?

Politicamente, o problema do Nyongo é da Renamo. Do ponto de vista de segurança do Estado, claro que é o Presidente da República. Há vozes que dizem que o Presidente da República deve se encontrar com Nyongo e eu digo não, porque ele não é problema de rebelião contra o Estado. Nyongo sempre disse que a rebelião dele é contra Ossufo. A divisão da Renamo que fez menção tem a ver com as remodelações de Ossufo ou causas tribais, tendo em conta que o epicentro é Sofala? A questão tribal seria neutralizada, se houvesse papel carismático de congregação e Ossufo não soube gerir. Não é o facto de se ter deslocado a presidência da Renamo de Sofala para Nampula que isso provocou divisão dentro da Renamo. Não houve gestão da coesão. Não há justificações daquela purga que ele fez de uma estrutura que tinha sido montada por Dhlakama de um momento para o outro. Acho que ele devia ter ido, pelo menos, até às eleições com aqueles dirigentes, porque ninguém contesta que foi eleito e é legítimo. Ele não manteve aquela estrutura de transição e substituiu um por um conforme a sua estratégia, desmontou tudo e montou uma nova máquina, então disseram vai sozinho.

Falta pouco tempo para iniciar o debate de sucessão do Presidente Filipe Nyusi. Qual é a marca da governação que vai deixar?

Primeiro, é a passagem de testemunho, uma coisa importante é que a Frelimo desse um sinal de que os antigos combatentes saíram e que vinha uma nova geração. Isto liberta-nos do peso dos antigos combatentes que parecia um fardo que tínhamos que carregar até desaparecerem na história pela lei da vida. É uma marca extremamente importante, porque trás um jovem para o poder com 50 e tal anos e trás novas ideias. Segundo, a atitude que ele teve, não sendo antigo combatente, de lidar com Dhlakama do modo como lidou, mesmo nos primeiros meses após a sua eleição. Foi criticado pela Comissão Política e pelo pre- sidente do partido de então, que era Guebuza. Foi uma atitude de muita humildade, que devia ser estudada quando se estudar a vida e obra de Nyusi durante os dois mandatos. Um chefe de Estado tem que ser humilde para dar vazão ao seu discurso de que o povo é patrão. Teve também marcas de catástrofes, problemas de corrupção. Por fim, essa coisa de dizer, que tal um terceiro mandato contra as leis que existem no país não é correcto. Guebuza tentou um terceiro mandato para fechar aquilo que não conseguiu em dois, oxalá que o Presidente Nyusi não embarque neste canto de sereia.

E como viu esses problemas de corrupção?

Não gostei de ouvir o Presidente da República, nas últimas semanas, a dizer que o combate à corrupção é irreversível. Isto é um disco já riscado, porque de facto a corrupção é endémica. Todo o sistema montado de governação deste país é um sistema de clientelismo. “Chegou a minha vez, tenho que arranjar a minha vida”. Ninguém ou são muito poucos os que lutam, mas esses poucos quando começam a arranjar alguma coisa são atacados por todo o lado e vão buscar na vida privada, se possível. Acho que quando o Presidente da República, já no segundo mandato, faz um discurso em que a corrupção volta como agenda dá sensação de guerra perdida, do meu ponto de vista. Reveja os discursos da PGR e Presidente da AT dos últimos dias foram no mesmo diapasão.

Como é que vê a situação de Cabo Delgado?

O problema de Cabo Delgado foi mal gerido. Quando foi do surgimento da Renamo, em 1977, e chamava- se MRN, também se dizia que eram uns bandidos armados, a gente despreza sempre e isso começa a crescer. Como presidente do Fórum Nacional do MARP, desde o início, fui avisando a quem tinha que avisar que aquilo em Cabo Delgado é muito sério e que era preciso, de facto, ser encarado com seriedade e como diz Samora: ´o crocodilo mata-se ainda pequeno e na margem`, porque, quando cresce, vai para o fundo do rio e é difícil. Durante dois anos, não me foram dados ouvidos e só este ano conseguimos como MARP colocar o terrorismo de Cabo Delgado na agenda da União Africana.

Para o general Jacinto Veloso estamos diante de uma operação que visa bloquear projectos de gás e diz que a entrada de uma força externa é oportuna. Qual é a sua leitura?

 O general Veloso é um estratega de segurança internacional e antigo ministro, conhece muito bem esses meandros. Eu estou ciente de que estamos diante de uma agressão internacional, estamos a ser vítimas. Penso que estamos a ser agredidos internacionalmente para desertificar Cabo Delgado, tirar o poder do Estado daquele lugar e permitir que haja um garimpo total das nossas riquezas. Se o objectivo é bloquear os projectos de gás aí não estou tão de acordo. Ninguém bloqueia as multinacionais em Cabinda, Nigéria, nem na Síria.

(SAVANA)

De "instruenda" em Matalane para o mundo


Escrevo este ensejo numa altura em que a nossa "casa" está em "chamas". Escrevo para dizer que o "nosso modus vivendus em Matalane" foi exposto ao público e ao mundo. A humilhação e a violação constante dos nossos direitos em nome da preparação para um "futuro melhor" e protecção e segurança da pátria veio à tona.

Não escrevo para mim justificar e muito menos expôr tudo, mas para dizer que Matalane é onde meus sonhos foram colocados a prova. Aqui em Matalane, ser mulher com atributos é pesadelo (...) "todos querem passar por ti, se não é por bem será por mal. Como foi com a Mbite, menina linda lá das bandas de Bajone, na Maganja da Costa, rosto de actriz Indiana, corpo desenhado que nem uma guitarra descrita na música ‘Ana parece novela’ de Matias Damásio”.

O sonho da Mbite era fazer parte da polícia e um dia ser Comandante-Geral da corporação. Tão jovem e habilidosa, o pecado dela foi ser admitida em Matalane e o instrutor “Mwuathu” dizer que está será minha por bem ou por mal. Aquilo foi o fim para ela. Mbite voltou grávida e infectada. Hoje pensa em tirar e desistir da vida. Mesmo com tantos conselhos de nós as amigas, ela diz que a família não lhe aceita, porque desonrou a mesma. Mesmo quando diz que foi violada por várias vezes pelo instrutor, a família não entende.

Escrevo este ensejo para revelar que (in) felizmente os instrutores e nem os meus colegas pensaram em tocar-me porque dizem que tenho postura de comando ou o famoso “vilão Fenda”, o homem que violentou o actor Jean- Claude Vandamme. Porque eu não mostro os meus dentes para ninguém, que minha bunda é rijá que nem a pata da “galinha do mato”. Que eu venço todos os homens nos treinos, seja em artes marciais, tácticas operativas, resistência ou qualquer outro exercício. Eles têm medo de mim.

Mas hoje quando vejo que algumas passaram por um total inferno. Anteciparam um projecto de vida que não tinha chegado a hora. Trocaram de sonhos forçosamente, devido à gula excessiva dos inspectores M’pino, Choquito ou Tembesi. Penso que estou num lugar errado. Penso que eu tinha que fazer algo. Mas não fiz! Mas derepente, surge uma voz no fundo dos meus tumultuosos pensamentos e diz continue para que faças o diferente. Para que defendas todas as mulheres vítimas de qualquer tipo de violência.

“Fiques para que o mal não vença o bem. Para que a fisionomia da mulher não alimente apetites insanos e competitivos dos homens. Só cabe, a pessoas como tu colocarem a ordem nas fileiras. A usarem do lado bom da formação e instrução para servir a nação”, diz-me a tal voz.

Escrevo esta carta para dizer que em Matalane também tem mulheres diferentes que não são preguiçosas e de use descartável. Escrevo este ensejo para revelar que as 15 são uma gota no oceano dos horrores que ocorrem em Matalane, Muinguine, Montepuez, Mueda, Nacala, nas esquadras, comandos, ministérios afectos e outros locais, onde mulheres que querem a farda têm passado.

Por hoje, término por aqui!

Estórias de centros de instrução e formação em Moçambique ... criação do autor do texto “Omardine Omar”.


Cidade de Vilankulo

Para a viabilização da pretensão, o Conselho Municipal de Vilankulo, através do respectivo presidente, William Tunzine, assinou este sábado (15), um acordo de parceria com a Associação do Turismo local e Azul Índico, duas organizações vocacionadas na promoção e preservação ambiental e turístico. Ao abrigo do memorando tripartido rubricado pelo Edíl de Vilankulo, presidente da Associação do Turismo Yassin Amuji e pelo presidente do Conselho de Administracao da Azul Índico, Armindo Machiana, serão projectadas e construídas nesta autarquia diversas infra-estruturas socio-económicas integradas numa cidade eco turística.

O projecto vai igualmente gerar postos de emprego para muitos jovens. O Presidente do Conselho Municipal de Vilankulo, afirmou que a ideia é projectar uma cidade cujas construções observam com rigor os recursos naturais do valor ecológico e cultural.

Para o Presidente da Associação do Turismo em Vilankulo, Yassin Amuji, a transformação deste ponto de Inhambane, numa cidade eco-turística, depende muito da colaboração e parceria público-privada e também da criação de um bom ambiente que atraia investidores. O presidente do Conselho de Administracao da Azul Índico, Armindo Machiana, indicou que Vilankulo dispõe de características naturais para ser uma cidade ecológica modelo.

"Primeira Dama da Luta"

Mary McLeod nasceu em 1875, na cidade de Mayesville, Carolina do Sul, Estados Unidos. Filha de um casal liberto da escravidão e irmã de mais 16 pessoas, Mary ajudava a mãe a lavar roupas na casa de brancos. Um dia, com 12 anos, ela adentrou na casa de uma das clientes de sua mãe e apanhou um livro da estante, logo foi repreendida pela filha da dona da casa, que disse: “Você é negra, negros não sabem ler”.

Naquele momento, Mary percebeu que a coisa mais importante que desigualava brancos e negros era a alfabetização. Era final do século XIX e poucas salas no sul dos Estados Unidos aceitavam negros, McLeod pressionou a família para matriculá-la em uma sala de aula apenas para negros na Trinity Mission School, instituição dirigida pela ordem religiosa Presbiteriana. A família permitiu, mas a orientou a se virar, por serem humildes, seus pais não puderam proporcionar boas condições para que ela estudasse. Mary caminhava 16 km todos os dias para chegar à escola. Em pouco tempo, ensinou os pais e os irmãos a ler e a escrever, os membros da família foram os primeiros a experimentarem a vocação educadora de Mary.

Por se destacar como melhor aluna da escola, Mcleod conseguiu uma bolsa de estudos Instituto Dwight L. Moody, uma instituição religiosa que formava missionários e professores. Docente formada, iniciou sua carreira alfabetizando negros em fazendas e periferias americanas, de casa em casa, Mary levava a magia da leitura e escrita para os excluídos da sociedade americana. Foi a partir desse trabalho que ela ingressou na luta pelos Direitos Civis dos Negros, sendo uma das primeiras mulheres a organizar movimentos contínuos contra as leis Jim Crow (leis que garantiam a segregação racial).

Mary formava e orientava seus alunos a se movimentarem para transformar o status quo da sociedade, levou muitos alunos para tirarem documentos, ensinava matemática financeira e sobre a história da escravidão.

Muito influente entre os líderes políticos e religiosos batistas e metodistas, Mary conseguiu arrecadar fundos para abrir uma escola particular para afro-americanos em Daytona Beach. O colégio atingiu excelentes notas no ranking das melhores escolas da Carolina do Sul e, mais tarde, se transformou na Universidade Bethune-Cookman, uma das primeiras instituições educacionais a abolir a segregação entre negros e brancos. Além do trabalho na escola e universidade, Mary conseguiu licença para lecionar dentro de presídios, alfabetizando os internos e os encaminhando para o mercado de trabalho.

Mas o maior destaque na vida dessa grande heroína foi a contribuição que deu à luta pelos Direitos Civis dos Negros. Mary foi participante activa de protestos contra o racismo institucional e escreveu manifestos sintetizando as reivindicações da causa. Através de sua influência, pressionou deputados e senadores. McLeod debatia face a face com os homens e mulheres mais racistas do poder político americano. Foi tão importante para as reivindicações dos afro-americanos que passou a ser chamada de "Primeira Dama da Luta".

A consagração como porta voz do movimento negro viria no início dos anos 40, quando foi nomeada conselheira sobre assuntos raciais de Franklin Delano Roossevelt, o presidente americano procurava acalmar as tensões raciais nos Estados do Sul. Estima-se que, em toda sua vida, Mary tenha ensinado mais de 5 mil pessoas a ler, se contarmos o legado e o número de professores alfabetizadores que formou, o número de pessoas influenciadas por seus ensinamentos é incontável. O The New York Times colocou Mary McLeod Bethune na lista das 10 maiores mulheres estadunidenses da história. Seu nome também figura no Hall da Fama das Mulheres Americanas.

Mary morreu de tuberculose, aos 79 anos, em 1955, mesmo ano em que Rosa Parks, uma costureira de Montgomery, se recusou a levantar de um assento de ônibus para um branco sentar, fato que desencadeou a maior luta da história do Movimento pelos Direitos Civis dos Negros, nos Estados Unidos. Mary não presenciou o fato, mas, certamente, seu legado contribuiu decisivamente para a formação e consolidação das ideias que levaram o movimento negro a desafiar e derrotar parte da ordem institucional racista vigente nos Estados Unidos até a década de 1960.

 

Texto de Joel Paviotti

segunda-feira, agosto 17, 2020

Uma coisa não anula a outra

Na ressaca do debate acerca da constitucionalidade ou não da decretação do novo ciclo de estado de emergência, o chancelar da Universidade Politécnica, Lourenço do Rosário, questiona o que estiveram a fazer os assessores do Presidente da República (PR) e do Governo durante 120 dias do estado de emergência ao ponto de deixá-lo numa situação embaraçosa e que hoje divide a sociedade.

Em entrevista , em que fala de vários assuntos, o académico diz que a banalização da Constituição pode levar a tentações de musculação do exercício de poder, deixando a democracia mitigada. Diz que os conselheiros do PR devem ter capacidade de fazer leituras dos cenários. Aponta que as redes clientelares podem estar a minar a selecção de quadros mais capazes – a favor daqueles que dizem “agora é a nossa vez” - e levar à má governação. Indica que é necessário coragem para extirpar o mau desempenho, começando pela Comissão Política (CP) do partido, que não deve ser composto por “clientes” especializados em louvores ao PR, a quem passam o tempo a tratar como “filho mais querido do povo”, tal como fizeram com Guebuza. Lourenço do Rosário é de opinião que o simples facto de o PR ressuscitar a agenda da corrupção nos seus discursos e não na acção, já no segundo mandato, dá a sensação de que a guerra está perdida. “Todo o sistema montado de governação deste país é um sistema de clientelismo”, rematou o académico, fazendo notar que o que mais se ouve é “chegou a minha vez, tenho que arranjar a minha vida”.

Moçambique entrou semana finda num novo ciclo de estado de emergência. Que balanço faz dos primeiros quatro meses de decretação do estado de emergência?

O Presidente da República disse que Moçambique começou a tomar medidas de precaução e prevenção antes de decretar o EE que veio a acontecer depois, porque, de facto, não estávamos a ver o que estava a acontecer ao nível não só da Europa, da Ásia como na América, e perante um fenómeno completamente desconhecido, não havia ninguém esperto que pudesse dar um veredicto objectivo sobre como lidar com esta situação. Acho que nesse aspecto Moçambique agiu bem e permitiu que tivéssemos um percurso para que não entrássemos em pânico. Ao longo do tempo, notou-se alguma hesitação, alguma desorientação, na tomada de determinadas medidas que se misturaram com dois tipos de discursos de politização desta situação. O debate não está a ser científico, a nível da comunicação social. Quem está lá não são cientistas que, podem, eventualmente, debitar alguma investigação daquilo que está a acontecer no mundo. São comentadores, alguns profissionais e outros ao serviço do regime para justificar algumas medidas. Isto retira mérito àquilo que são as boas medidas que o Governo tomou, porque, quando politizamos um problema que todos nós queremos que seja uma agenda nacional, retiramos unanimidade, depois dividimos a sociedade e começa a haver grupos de pressão que enfraquecem o acto governativo.

Há correntes que defendem que o estado de emergência expôs as nossas fragilidades. Concorda?

Sem dúvidas. Do ponto de vista económico, somos um país completamente esfacelado, neste momento, e que isso pode ter consequências na paz social, a prazo. Do ponto de vista sanitário, há um medo terrível que este aumento exponencial possa pôr a nu a fragilidade da rede sanitária. O EE pós a nu a fragilidade do sistema educativo, porque quando se ensaiou o regresso às aulas, verificou-se que, efectivamente, nós tínhamos um sistema educativo e infra-estrutural completamente desmantelado, em ruínas. Em conversa com responsáveis de tutela diziam que o grande problema não era do Estado investir na área da educação, o problema está na gestão da infra-estrutura. Não se faz manutenção ou reparação, só se constrói. Isso acabou politizado e criando grupos de pressão e debates sobre a abertura ou não das escolas, o que dividiu o país e aumentou o sentimento de exclusão. Numa entrevista à Lusa dizia que o Estado tinha que encontrar um equilíbrio entre a segurança sanitária e alimentar para ajudar as populações desfavorecidas.

Tendo em conta os vários empregos perdidos será que isso se materializou?

Como é que o Estado pode ajudar, se não tem condições financeiras para poder fazer grandes investimentos nessa perspectiva. As populações, sobretudo, a nível familiar, estão entregues a si próprias. Neste momento, estamos a verificar que o “Sustenta” está a tentar fazer uma reinvenção dos grandes projectos anteriores da agricultura no país. Vamos ver se dá certo, está a começar. Escassearam iniciativas académicas para tomarem a dianteira neste assunto. Das academias, sobressaiu mais o debate da propinas.

Ressalvando o conflito de interesse que possa ter, acha que as academias deram o seu contributo?

Foi a comunicação social que agitou os pais e encarregados de educação dos alunos das instituições privadas de ensino. Pessoalmente, procurei estar longe desse debate, não por causa de conflitos de interesse, mas, fundamentalmente, porque achava que era um não problema. Era essencialmente uma temática que agradava a audiência e desviava- -nos de um problema essencial que era como congregar academias para poder debater esta situação. Com excepção da entrevista do Dr. Hélder Martins e membros do Governo, durante este tempo todo não vi nenhumas faculdades de Medicina, Ciência, Biologia, e temos várias, os seus mestres serem chamados a comunicação social para debater estas questões. Só vi juristas, deputados e analistas políticos a debater o problema da Covid-19.

 O PR anunciou a retoma das aulas. Mas antes tivemos dois reitores de instituições públicas que disseram que a retoma das aulas não pode ser uma aventura e que a saúde pública não se negoceia. Qual é a sua opinião.

Uma coisa não anula a outra.  Temos que nos sentar e perceber que não podemos ficar escondidos dentro de casa, permanentemente, porque existe a Covid-19. Vamos pensar em microcosmos, as populações que vivem nos parques sabem que os leões e elefantes estão lá, mas não ficam escondidos dentro de casa, vão às machambas correndo perigo de ser atacadas. Essa é uma forma urbana de lidar com a situação, porque temos uma geleira recheada, temos um dinheirinho guardado no banco e podemos sobreviver alguns meses. Não podemos de forma alguma pressionar a quem tem que dirigir para que tenha essa atitude. Não se pode negociar saúde, sim, mas também não se pode ficar fechado em casa o tempo todo, temos que encontrar forma de lidar com esta situação chamada “o novo normal”. O novo normal é saber como é que se pode evitar essa doença. Tudo tem a ver com a gestão da nossa rede patrimonial. Se a gestão das nossas escolas fosse boa, a nossa rede de transportes fosse boa, se a nossa rede sanitária e de água fossem boas, este problema não existiria. Que saídas? Como é que fazemos? Fechamos às chaves? Você tem um sistema que está montado em que a ministra da Educação e Desenvolvimento Humano diz que se não retirar os alunos que este ano estão na primeira classe, no próximo ano, terá três milhões de crianças nessa classe. Você resolve o problema? Não resolve. Há quem propõe a anulação do ano lectivo...

Alguém estudou como isso funciona, trouxe propostas concretas e será que no próximo ano não entra ninguém no sistema?

É um debate que tem que ser feito de modo que não sejamos como os países europeus que fizeram um “lockdown” completo. Não podemos imitar. O grande problema de nós os académicos é que como não produzimos o nosso saber indígena pensamos muito pela cabeça de outros.

Olá, Kamala

Juntos pela primeira vez num ato de campanha, em Wilmington, Joe Biden e Kamala Harris falaram da proposta que têm para o país, repetiram ataques à “falta de liderança” de Trump e elogiaram-se (muito) mutuamente

 Incrivelmente honrada e pronta para trabalhar”, assim se apresentou esta noite Kamala Harris, quando chamada por Joe Biden a tomar o seu lugar no púlpito, em Wilmington (Delaware). Naquela que foi a primeira aparição na campanha da procuradora que o candidato democrata escolheu para sua vice-presidente, fizeram-se elogios mútuos, repetiram-se duras críticas a Donald Trump e falou-se muito de recuperar a “alma da nação”. Biden explicou porque quer a seu lado a senadora californiana - “ambos acreditamos que podemos definir a América com uma palavra: oportunidades” – e explicou também o que dela espera, o que lhe pediu. “Quando concordei servir ao lado do Presidente Obama, ele perguntou-me várias coisas muito importantes, ele perguntou também o que eu mais queria ... Eu disse que queria ser a última pessoa na sala antes de ele tomar decisões importantes. E foi isso que pedi a Kamala, para fazer as perguntas difíceis e para ser a última voz na sala”, afirmou Joe Biden. O candidato à Casa Branca não poupou nos adjetivos. “Inteligente”, “dura”, uma mulher “experiente”, “lutadora reconhecida pela espinha dorsal” dos Estados Unidos, disse. “Kamala sabe como governar , ela sabe como fazer as ligações difíceis. Ela está pronta para fazer este trabalho”, insistiu ainda.

Ao tomar a palavra, a candidata a vice-presidente devolveu os elogios, destacando em Biden “o sentido do dever”. Alguém “que nos tempos difíceis pensa primeiro nos outros” e no que pode fazer “para tornar as suas vidas melhores”. Um “homem de família”, um valor que a senadora assumiu também como seu, falando da filha, das sobrinhas, ou das vezes em que está “a cozinhar o jantar de domingo”.

Como Joe Biden, no seu discurso couberam múltiplos ataques à “falta de liderança” do atual Presidente, que acusou de ter conduzido o país “ao seu pior momento económico desde a Grande Depressão”. Falou do desemprego, “que triplicou”, da “crise na saúde”, na “fome” que atinge muitas famílias, e nos milhares que morreram fruto do “caos” que diz ter guiado a gestão de Trump em relação à pandemia de covid-19. “Não tinha de ser assim”, afirmou, para concluir que “isto é o que acontece quando se elege alguém que não está apto para a função”. Na hora do apelo ao voto, Harris filha de indiana e jamaicano ,sublinhou a importância das próximas eleições: “É preciso votar como nunca. Precisamos mais do que uma vitória. Precisamos de ter um mandato que prove que os últimos anos não nos representam e não são o que queremos para nós”.

Alinhados no discurso, naturalmente nas propostas que defendem para os EUA (um plano para combater a covid-19 baseado na ciência; mais emprego; voltar a unir o país; e a atenção ao aquecimento global e ao ambiente, por exemplo), e até no guarda-roupa, com ambos vestidos com fatos azuis escuros e até usando ambos máscaras pretas. Para ambos, disseram-no à vez, está em curso “uma batalha”.“Farei tudo o que o Joe me peça”, garantiu Kamala Harris de 55 anos na despedida. “Hoje peço-vos o mesmo. Elegê-lo é apenas o início do trabalho que está por fazer”, concluiu.

Asas de Moçambique sobrevoam a europa

 A LAM - Linhas Aéreas de Moçambique S.A., vai realizar de 25 de Agosto a 30 de Setembro do ano em curso, voos entre Maputo e Lisboa, podendo prolongar-se por mais tempo. Por semana, será realizado um (1) voo de Lisboa para Maputo, às Terças-feiras, com partida às 20:00 horas locais e de Maputo para Lisboa, às Quartas-feiras com partida às 23:55 horas locais.

“Estes voos possibilitam a deslocação de pessoas entre Moçambique e Portugal, bem como Europa e resto do mundo. É importante ter atenção às políticas de fronteiras vigentes para entrada em Moçambique e na União Europeia, devido à situação da pandemia”, adiantou o Director Geral da LAM. Em breve, os bilhetes estarão à venda nas lojas LAM, na página de internet www.lam.co.mz e agências de viagens.

A imagem pode conter: avião e céu
Os voos serão operados por uma aeronave Airbus A330-300, com capacidade de 278 lugares, sendo 255 na classe económica e 23 na executiva, para além da capacidade de transportar carga.

Hospital de referência

Filipe Nyusi, Presidente da República, inaugurou hoje (13), o Hospital Distrital de Cuamba, na província de Niassa, norte do país, após beneficiar de obras de requalificação. Localizada no Posto Administrativo de Cuamba-sede, capital ecómica da província, a Unidade Sanitária (US) que ocupa uma área de 6.102 m², é um edifício de um piso e viu a sua capacidade de internamento aumentar de 105 para 220 camas. A empreitada consistiu na construção, de raiz, de 13 edifícios (incluindo 06 residências para o pessoal médico) e a reabilitação de outros 04.

Com a sua requalificação passarão a funcionar naquela US, o Serviço de Urgências, Imagiologia, Laboratório, Serviço de Consultas Externas, Fisioterapia, Bloco Operatório, Enfermaria de Medicina, Maternidade, Enfermaria de Pediatria, Cirurgia, Ortopedia, Administração e Serviços de Apoio. Falando a propósito da inauguração do hospital, o Presidente da República disse que o mesmo "se enquadra na nossa estratégia 'um distrito, um hospital', política já concreta que visa aproximar os serviços de saúde ao cidadão". O custo da obra esta Quinta-feira entregue ao Ministério da Saúde (MISAU), está avaliado em 262.066.976,18 meticais, financiados pelo Orçamento do Estado.
O Hospital Distrital de Cuamba, inaugurado no âmbito da visita Presidencial de um dia à Província de Niassa, Edição-2020, vai atender a população da vila de Cuamba e dos distritos vizinhos, nomeadamente Metarica, Mecanhelas, Maúa e Nipepe, no Niassa, e Malema, na província de Nampula. 

Cultura de violações

A Associação Moçambicana das Mulheres de Carreira Jurídica (AMMCJ) manifestou “total repúdio à violência sexual” de que terão sido vítimas 15 jovens candidatas a polícias por parte de instrutores da Escola Prática da Polícia de Matalana (EPM).

“A Associação Moçambicana das Mulheres de Carreira Jurídica, no cumprimento do seu dever de defender as mulheres e meninas vítimas de violência e, por meio desta nota oficial, vem a público manifestar, veementemente, a sua indignação e total repúdio a essas práticas criminosas e desrespeitosas dos direitos humanos das mulheres”, refere, em comunicado, a organização. A AMMCJ diz que a conduta dos instrutores é criminosa e constitui violação da legalidade, dos princípios que regem a PRM e da ética e deontologia exigidas aos membros da corporação. A organização exige a intervenção do Ministério Público e a instauração de processos disciplinares, porque considera que há indícios de assédio sexual e de outros crimes de natureza sexual. Os instrutores, continua, devem ser exemplarmente punidos com pena de prisão e expulsão do Aparelho do Estado. A AMMCJ observa que muitas moçambicanas são obrigadas a consentir situações de violência sexual como moeda de troca para o acesso à educação, formação profissional e mercado de trabalho. “A AMMCJ apela às vítimas e a toda a sociedade para que denunciem esses crimes que grassam a sociedade moçambicana e prejudicam as mulheres e as meninas que, de forma digna, procuram lutar contra a pobreza, mas que a barreira da discriminação sexual as tem impedido”, assinala a nota. Aquela organização faz notar que a conduta dos instruendos viola leis moçambicanas e internacionais de defesa dos direitos humanos e das mulheres ratificadas pelo Estado moçambicano.

Josina Machel, filha de Samora Machel, primeiro Presidente de Moçambique independente, defendeu a condenação à prisão e expulsão do Estado dos instrutores da polícia. “É necessário que estes homens não fiquem impunes nem mereçam qualquer tipo de protecção. Para eles, pena de prisão será a punição acertada. A cadeia é o local onde passam a residir”, escreve Josina Machel, numa carta de opinião. Josina Machel considera que os instrutores abusaram sexualmente das 15 jovens e devem ser expulsos do aparelho do Estado. “A verdade dos factos prova que homens adultos, com responsabilidade de Estado, instrutores, e mais grave, chefes de famílias, violaram sexualmente de forma sistemática raparigas instruendas”, refere Machel. A situação a que as 15 jovens foram submetidas, prossegue, é apenas a face visível dos abusos que as raparigas enfrentam nas instituições de ensino em Moçambique.  “Elas são a face visível deste escândalo, porque engravidaram, mas, seguramente, haverá as que não fazem parte das estatísticas de gravidezes e que também foram abusadas e humilhadas”, lê-se no texto. O abuso sexual nas escolas moçambicanas, continua, não é segredo para ninguém, porque já se tornou um comportamento normal e institucionalizado. “Caso o Ministério do Interior leve a cabo um trabalho de investigação sério, corremos o ´risco` de ficar a saber que a violação sexual de instruendas faz parte de um ritual de introdução de novatas a esta instituição”, considera Josina Machel. Para a filha do primeiro chefe de Estado moçambicano, milhares de mulheres que foram formadas na Escola Prática da Polícia de Matalana podem ter sido abusadas, violadas e humilhadas pelos seus instrutores. O Estado deve agir Caso das 15 grávidas de Matalana Josina Machel insta os ministérios do Interior, Justiça, do Gênero e Acção Social e da Administração Estatal, em conjunto com a Procuradoria-Geral da República, a abrir um processo de investigação, cujo desfecho deve ser público. “Esta investigação necessita de envolver mulheres que tenham passado por esta tortuosa experiência para realmente se desvendar a existência ou não de uma tradição institucional de abuso sexual das instruendas”, refere o texto. Por outro lado, avança, o Ministério do Interior deve adoptar uma política clara contra a violência baseada no género e criar mecanismos de denúncia de abusos.

Na terça-feira (11), a procuradora- -chefe da República na Província de Maputo, Evelina Gomane, anunciou a abertura de uma investigação ao caso, admitindo que se pode estar perante assédio sexual ou outro tipo de crime sexual. “Temos que compreender com as próprias (jovens) o que aconteceu, não nos podemos precipitar a tirar conclusões”, afirmou Gomane.

O caso veio a público há uma semana, quando um despacho do comandante-geral da Polícia da PRM, Bernardino Rafael, de instaurar um processo disciplinar contra instruendos da Escola Prática da Polícia de Matalana foi divulgada nas redes sociais. Ao que o SAVANA apurou, o despacho de Bernardino Rafael foi vazado para as redes sociais fontes internas do Comando Geral “cansadas de arbitrariedades” na Escola de Matalana. No despacho, Bernardo Rafael ordena a expulsão dos instruendos e a realização de diligências para levar as raparigas de volta para as suas casas, na condição de que voltem ao curso de polícias, depois do parto. No despacho, fica-se a saber que as alegadas vítimas são das províncias de Tete, Zambézia e Nampula. Orlando Mudumane, o porta-voz do Comando-Geral da PRM, disse que “o assunto é interno”, quando foi confrontado pelo mediaFAX nesta segunda-feira(17).

Pemba não está em perigo

Mozambique's energy sector caught in Southern Africa's first ...

O porto de Mocímboa da Praia foi alvo de uma ousada captura por insurgentes na última terça-feira (11.08). No entanto, analistas ouvidos pela DW África entendem que, apesar de disporem de uma considerável força militar, os insurgentes não podem tomar a capital de Cabo Delgado, Pemba.   O diretor-executivo do Centro de Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, sustenta que há vários fatores que podem impedir os insurgentes de tomar a capital Pemba, entre os quais a geografia."Não creio que isso seja possível. As características próprias da zona norte de Cabo Delgado propiciaram a captura em Mocímboa da Praia: as ilhas, as dificuldades de patrulhamento, com dificuldades de acompanhamento por parte do Estado, a floresta à volta, mata densa, distritos extensos, isto permite capacidade de manobra. Mas não creio que isso seja possível ao nível de Pemba", explica. Falhas do Estado  Mesmo assim, Adriano Nuvunga não tem dúvidas de que os insurgentes estão a ganhar terreno em Cabo Delgado e aponta falhas: 

"Falhámos como estado, falhámos como sociedade, e os sinais vinham de todos os lados sobre a escalada da violência".  Para Nuvunga, "os insurgentes aparecem mais organizados, mais capacitados, ao usarem armamentos mais sofisticados".   O director-executivo do CDD acredita que os ataques em Cabo Delgado afectem o avanço dos megaprojetos. "É verdade que se perceba isso. Mas o que nós não queríamos ver era um fechamento, porque o que vai acontecer no fundo com o desenvolvimento da insurgência é que Moçambique vai ficar armadilhado. Há-de haver um ilhamento aos projectos", defende o analista. O editor do jornal semanal Zambeze, Egídio Plácido, também defende que a capital provincial de Cabo Delgado não vai ser tomada pelos insurgentes e aponta interesses políticos que podem travar essa intenção. "Não há efetivamente um perigo de se assaltar a cidade de Pemba. E mais, mesmo as zonas próximas a cidade de Pemba, estou a falar de Metuge, os terroristas ainda não atingiram, mas estão numa zona circunvizinha. O perigo está ali perto, mas a cidade continua muito segura e é lá onde todas as ações são coordenadas". 

Plácido acredita que as Forças de Defesa e Segurança são capazes de dar uma resposta para voltar a controlar o porto da Mocímboa da Praia, como já aconteceu no passado. "Mas não é garantia total de que os insurgentes não vão voltar", pondera. "Pelos sinais que já foram dados no passado, claramente que é muito difícil expulsar terroristas por uma simples razão: no início deste ano, circularam vários vídeos de alguma população que apoia os terroristas. Há um trabalho de base que deve ser feito ao nível das comunidades", explica.   A província nortenha de Cabo Delgado é palco de um dos maiores projetos de exploração de gás em África. Entretanto, desde outubro de 2017 também é alvo de ataques de insurgentes, que já provocaram centenas de mortos e milhares de deslocados.

"O inimigo infiltrou-se em diversos bairros, trajado à civil e beneficiando de várias cumplicidades, atacando a vila de dentro para fora, causando destruição, saques e assassinato de cidadãos indefesos, com manobras de sabotagem e ataques a meios navais de socorro a partir do porto de Mocímboa da Praia", anunciou esta quinta-feira (13.08) o ministro da Defesa de Moçambique, Jaime Neto.

O governante acrescentou que o "alegado Estado Islâmico" em Cabo Delgado denota ter recebido reforços de fora do país. Várias infraestruturas foram vandalizadas em Mocímboa da Praia e, neste momento, as Forças de Defesa e Segurança tentam recuperar o controlo da situação, apesar do reforço que os insurgentes receberam de "equipamentos e homens provenientes de bases de fora do território" moçambicano, segundo Jaime Neto. O governante, que falava em conferência de imprensa em Maputo, admitiu que a situação "continua tensa, devendo todo o Estado moçambicano empenhar-se na normalização da vida das populações tão fustigadas pelo terror". “Apela-se para calma, vigilância e para não difusão de boatos ou imagens chocantes dos combates, nem que seja por um simples ato de decência e respeitosa lembrança dos nossos jovens tombados ao serviço da pátria e do povo", frisou o ministro da Defesa de Moçambique.

quinta-feira, agosto 06, 2020

15.000

Na Beira estão armazenadas, em deficientes condições de segurança, 15 mil toneladas de um produto químico que quando misturado com gasóleo e aliado a uma ignição que funcione como detonador pode produzir uma explosão que destrói tudo num raio de 200 quilómetros quadrados. Apenas um quilo de massa desse composto, segundo um especialista ouvido pela Reportagem dos jornais Canalmoz e Canal de Moçambique, é suficiente para fazer explodir o Prédio 33 andares, em Maputo. Trata-se de Nitrato de Amónio, de densidade 5.1, que terá sido importado como fertilizante e não como explosivo o que a confirmar-se indicia tratar-se de importação ilegal.

Um simples telemóvel pode ser ignição. O sol pode também também produzir uma explosão se o produto lhe for exposto. Suspeita-se que a carga é proveniente da Suécia e terá sido declarada como estando em trânsito para a Zâmbia. Mas, efectivamente, suspeita-se que se destina à mineradora Vale, em Tete, o que a confirmar-se poderá vir a ser encarado como uma fraude aduaneira pois não se destina a fertilização solos mas, sim, a abrir minas.A importação foi feita por uma empresa com sede em Maputo, mais propriamente a ORICA MOÇAMBIQUE, Lda., apurou o Canalmoz / Canal de Moçambique.A carga está armazenada em dois espaços distintos, dentro do perímetro da cidade Beira, mais concretamente na Munhava-Vaz e na Manga-Mascarenhas, neste caso à vertical da pista principal, do aeroporto. O Nitrato de Amónia está armazenado em espaços que pertencem à BLT, Limitada (Beira Logistic Terminais) e à ST,Lda, respectivamente. Na Munhava-Vaz a carga está num armazém que não reúne as condicções de segurança exigíveis a produtos explosivos assim classificados.Na Manga-Mascarenhas o Nitrato de Amónia está no Estaleiro-ST, ao relento, apenas coberto por lonas, exposto ao sol. A simples exposição deste produto ao sol poderá suscitar uma explosão de enormes proporções.

Nos Estaleiros-ST estão 750 embalagens de 1075 Kg/cada de Nitrato de Amónia. Na Munhava-Vaz, no armazém da BLT há 480 sacos. Todos os sacos são de 1075 Kg/cada. Há ainda 103 contentores no Porto da Beira, ainda a cargo da Cornelder, empresa que tem a seu cargo a área comercial deste ancoradouro. Estão ainda 34 contentores a caminho da Beira, em navio a cargo da transitária Maersk. Na Beira já estão ao todo 15 mil toneladas, que equivale a quinhentos (500) camiões.O que já está em terra, se misturado com gasóleo e associado a uma ignição ou detonador pode produzir uma explosão que destrói tudo num raio de 200 Kms.

Desconhece-se se o transportador marítimo (MAERSK), a Cornelder (Porto da Beira), e as Alfândegas estavam informadas de que a carga da Orica se tratava de explosivos. No certificado de qualidade do produto consta que o produto tem 99% de Nitrato de Amónia. A dona do referido produto é a ORICA Moçambique, uma empresa que não tem licença de importação de explosivos mas está a comercializar Nitrato de Amónia (NH4NO3) que não é nem mais nem menos, grosso modo, do que bolinhas de gás na proporção de 99%. As 15 mil toneladas encontram-se na Beira armazenadas em dois espaços distintos: um na Munhava-Vaz, na estrada nacional N6, e outro na Manga Mascarenhas.

A Policia já tem a situação sob controlo. O Comando Geral da PRM até ontem ainda não ordenara a tomada de medidas que assegurem todas as condicções de segurança recomendáveis para este tipo de produto.A população da cidade da Beira continua sujeita a alto risco.

(Fernando Veloso, na Beira)