sábado, julho 24, 2021

Cerimônia de Abertura Olimpíada de Tóquio

Pode parecer estranho e polémico

Huntington, um cientista político americano referiu, após a II Guerra Mundial, que as futuras guerras, seriam, fundamentalmente, motivadas por “choques de civilizações”, numa perspectiva de afirmação de identidades culturais e religiosas e contra a hegemonização tendente à uniformização desses factores no contexto da globalização económica e cultural. Huntington rejeitava que as ideologias, os interesses políticos, económicos e geoestratégicos, e qua as bordagens marxistas de classes sociais, fossem os elementos fundamentais dos conflitos posteriores à segunda guerra. Foi muito criticado. 

O autor deste texto está em conformidade com as críticas. Porém, não reduz a zero que também possam existir, no conflito de cabo Delgado, factores culturais e religiosos, isto é, que elementos que suportam a teoria de Huntington sejam totalmente desprezíveis. Existem muitas pesquisas, textos e comentários sobre o conflito/guerra de Cabo Delgado. Uma parte, dá enfâse aos factores internos, como, por exemplo: (1) pobreza, desigualdades sociais, etnolinguísticas e de género; (2) acesso aos órgãos do poder local e central e a recursos; (3) negócios em crise; (4) tráficos de pedras preciosas, madeira, marfim, entre outras, e as relações de agentes internos com circuitos internacionais; (5) falta de oportunidades de trabalho e de pequenos negócios para a juventude. 

A crise económica, política e das instituições, não são só ou principalmente, como oficialmente se fundamenta, consequência da crise e dos mercados internacionais, da COVID-19, ou de conflitos “externos”. Existem opções de política económica e de políticas públicas erradas e erráticas, factores estruturais de longa duração, instituições ineficientes, pouco transparentes e a corrupção tornou-se sistémica. Alega-se que, nestes contextos, existem condições internas para a emergência de um ou vários conflitos violentos, instabilidade social que, a prazo, com ou sem gás, se despoletariam em Cabo Delgado ou em outras partes de Moçambique. Outros, defendem que a guerra é motivada pela existência de recursos naturais e as geoestratégias à escala global, como, por exemplo: (1) reduzir a possibilidade de alterações nos actuais (des)equilíbrios do mercado energético, com a entrada de grandes quantidades de gás, eventualmente, reforçando a posição de algumas multinacionais e países, além de eventuais efeitos sobre os preços, mesmo considerando as desvantagens do gás, comparativamente com o petróleo; (2) vantagem de médio/longo prazo, em termos ambientais, do gás em relação ao petróleo; (3) controlo das rotas do Índico pelos Estados Unidos da América e de França, não somente para controlo de tráficos de droga e outros recursos naturais, migrações clandestinas e pirataria marítima, como ainda pelo controlo militar e económico da zona; (3) dificultar a “penetração” chinesa (principalmente) e indiana em África, que têm por estratégia, deslocalizar indústrias intensivas em mão-de-obra produtora de bens para demandas de baixo rendimento, com salários baixos e terra barata, maior proximidade dos grandes mercados, como ainda, para “exportar” a emissão de gases contaminantes do ambiente devido às tecnologias dessas indústrias, numa perspectiva de especialização desses países no mercado de tecnologias de última geração e a transformação/especialização nas “novas economias”.

O Governo diz ser um inimigo sem rosto e, por isso, sem possibilidade de negociação para o caminho da paz. Mas, afinal, pensa-se que interessa aos líderes deste tipo de conflito e actuação militar/actos de terror, serem conhecidos ou a organização possui formalização transparente para o efeito? É estratégia deles negociar neste momento? Embora o Estado Islâmico tenha uma estrutura interna e linhas de comando, pode-se admitir que, pelo menos parte das suas células, actuam descentralizadamente, com decisões e táticas locais. Os militantes actuam guiados por uma ideologia, com raízes ou ramificações do islamismo radical. A guerra de Cabo Delgado não é parte da guerra, designada por “santa”? Se assim for, então, pode-se induzir que será, também, uma guerra anti-Estado, no quadro de uma luta contra os “infiéis”, e, portanto, pode ter uma ideologia e filosofia civilizacional, como foram as cruzadas e a missão “civilizadora” colonial. 

Na realidade, os factores internos e externos reforçam-se mutuamente. O terrorismo radical actua em países/zonas onde existem estados falhados ou frágeis, pobreza, grandes desigualdades sociais e espaciais, elites corruptas e juventudes sem perspectivas de vida. Moçambique possui estas características que facilitam a presença deste tipo de instabilidade. O governo de Moçambique não tem sabido lidar com o conflito. Primeiro, foi negligente, pois sabia-se, pelo menos desde 2012, que existiam sinais que poderiam desembocar em conflito; depois, procurou esconder ou minimizar a importância dos acontecimentos; a seguir, foi evidente da incapacidade do exército de suster a guerra; seguiu-se a retórica de recusa de apoio militar externo, quando, simultaneamente, actuavam mercenários; falou-se em apoios externos não letais; e, finalmente, entram forças estrangeiras. E a pergunta será: certamente que os serviços de segurança sabiam do que se passava desde o início, seja por acção directa, como através de informações de outras agências de segurança; por que não se actuou? Será porque a guerra de Cabo Delgado inclui interesses económicos das elites internas, a nível local e nacional e, destas, com o exterior? A guerra de Cabo Delgado facilita os tráficos de droga e de recursos naturais (pedras preciosas, madeira, etc.)? Ou, no princípio, estava-se mais preocupado com Afonso Dlakhama? Será que os serviços de segurança, num Estado de partido dominante, servem plenamente o país? Ou será que está ao serviço de um Estado partidarizado que se tornou numa plataforma de acesso e distribuição de poder e de negócios? 

As hierarquias islâmicas internas, distanciam-se, certamente de forma genuína, do radicalismo e das acções armadas. Por outro lado, o grupo que pratica a guerra revela ser não alinhada ou é mesmo contra as hierarquias islâmicas em Moçambique. A igreja católica condena e assume posicionamento de apoio às vítimas das acções dos alshababes. As igrejas são milenares e milenarmente têm as suas estratégias e, neste sentido, pode-se estar em presença de disputa de espaços e influência, aliando-se necessariamente aos poderes do Estado. Nesta perspectiva, não haverá o que se designa como as continuidades de muito longa duração, de restauração dos domínios árabes no mundo e no caso concreto do califado de Zanzibar e da influência em toda a costa africana do Índico? Muitas das pesquisas sobre este conflito têm enfatizado os factores internos. Existem condições locais que, perante acções comandadas, com objectivos exteriores e supranacionais de longo prazo e com motivações económicas e de poder (e, eventualmente de influência religiosa actual e de longo prazo), se reforçam e se aproveitam mutuamente. Por outro lado, há muitos comentaristas, geralmente bem informados, que enfatizam diferentes factores, geralmente assentes no dualismo interno/externo. 

Colocar a questão civilizacional pode parecer estranho e polémico, num mundo que se diz de construção da paz e de entendimentos diversos, de globalização económica e de aproximação de civilizações, aspectos estes que também são manipulados por mais poder e dinheiro. Mas que os factores culturais e religiosos são questões de reflexão, lá isso parece não haver dúvidas. Assim sendo, rejeitar a colocação dos aspectos civilizacionais nas hipóteses e metodologias de pesquisa também parece ser não académico. Estas são algumas das questões que os pesquisadores poderiam explorar, sem tabus, nem preconceitos. Pelos assuntos que se tratam, não é fácil a equipes de pesquisa isoladas, conseguirem material que fundamente, ou não, estas hipóteses de trabalho. É necessário unir funcionalmente grupos de pesquisa, especializá-los, o que, por razões diversas (económicas, políticas e ideológicas), não será fácil. Se assim não for, as pesquisas procurarão aprofundar temas que, embora importantes, podem não explicar plenamente a realidade, motivações e estratégias de longo prazo. Há muitas questões por responder. As colocadas neste texto, são apenas algumas delas. (Joao Mosca)

segunda-feira, julho 19, 2021

Deu o berro

Os proprietários de restaurantes em Maputo opõem-se ao novo horário de funcionamento que o governo moçambicano impôs no âmbito da sua batalha para restringir a propagação da doença respiratória Covid-19, e alguns deles reagiram suspendendo os contactos de trabalho dos seus quadros. Anteriormente, os restaurantes podiam abrir das 6h00 às 20h00, mas ao abrigo das novas medidas, anunciadas quinta-feira pelo Presidente Filipe Nyusi, todos os restaurantes deverão encerrar até às 18h00.

A justificativa para esta alteração é que permitirá aos trabalhadores do restaurante regressar a casa antes do início do toque de recolher noturno, às 21h00, e evitará a aglomeração de multidões nos restaurantes que poderiam constituir um ambiente favorável à propagação do vírus.

Mas donos de restaurantes entrevistados pela estação de televisão independente STV protestam, dizendo que seu horário de maior movimento é precisamente entre 18h00 e 20h00. Dizem que é nessa época que muitos clientes costumavam jantar fora, mas ninguém vai a um restaurante jantar antes das 18h00. Eles argumentam que o novo horário de fechamento levará a uma queda em suas receitas e pode, eventualmente, forçá-los a fechar totalmente as portas. Alguns dos entrevistados pelo jornal afirmam já conhecer casos de suspensão de contratos de funcionários de restaurantes.   “Não sabemos por quanto tempo podemos suportar essa situação”, disse o dono de um restaurante, Lino Machava, que temia que a situação piorasse,    Outro, Nélio Manuel, sugeriu que os restaurantes teriam de se “reinventar” e passar a fazer entregas ao domicílio.

As igrejas em Maputo, no entanto, não levantaram oposição à decisão do governo de proibir todos os serviços religiosos pelos próximos 30 dias. Em vez disso, os líderes religiosos disseram à STV que consideravam o fechamento das igrejas uma “medida oportuna” para evitar a disseminação da Covid-19. O bispo anglicano Carlos Matsinhe disse que a proibição “não é um problema, porque é uma medida que visa proteger a saúde de todos, proteger a vida dos fiéis religiosos e do povo moçambicano em geral”. O padre católico Geraldo Uaiare concordou, declarando que a Igreja Católica “é uma instituição que trabalha para o bem de todos”. Mesmo com as portas da igreja fechadas, as entidades religiosas estão pensando em maneiras de os fiéis acompanharem os cultos em formato digital.