quinta-feira, junho 30, 2016

continhas,contas e contOnas....

Resultado de imagem para contasDepois que rebentou a bolha da dívida pública, os moçambicanos ficaram a conhecer com detalhe alguns números (mas não todos) relevantes para a aferição do peso do fardo. Ficamos a saber que as reservas externas caíram de 3.2 bis em Setembro de 2014 para 1.8 bis agora. Sabemos que a dívida pública se situa nos 11.6 bis (93% do PIB) e que, desse valor 1.75 bis é dívida pública interna e 9.9 bis dívida externa. Especificamente, sobre a chamada dívida oculta sabemos dos 597 milhões (Proindicus), e dos 535 milhões (MAM).Para além destes dados, Moçambique deve 3.281 bis de dívida externa bilateral, contratada junto dos seguintes credores:
China: $1,352 bis     Portugal: $490 m
Libia: $231 m            Iraque: $231 m
India: $171 m            Korea: $130 mi         Russia: $124 m
Brasil: $104 m          França: $101 m
Dinamarca: $78 m    Japão: $67 m
Bulgária: $57 m        Kuwait: $38 m
Angola: $31 m          Polónia: $22 m        Espanha: $13 m
Roménia: $12 m      Austria: $10 m
Sérvia: $10 m           Saudi Arábia: $9 m
Moçambique tem igualmente dívidas com entidades multilaterais no valor de 3.815 bilhões de USD, nomeadamente:
Banco Mundial: $2,577 bis
Outros multilaterais: $998 m
FMI: $240 m

FONTE: Baseado numa compilação tendo com suporte de informação disponível nos sites do Ministério das Finanças, do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.

Não é possível !!!

Desde o dia 23 de Novembro de 2015, que tenho estado a reflectir, em jeito de contribuição para o debate de ideias, sobre a crise económica que afecta actualmente Moçambique. O meu primeiro “post” dessa época era intitulado: "Moçambique pode entrar em colapso a qualquer momento". À época dessa primeira reflexão, o dólar norte-americano custava 40 e poucos. E pouca gente, mas pouca mesmo, estava ciente do que estava para acontecer, ou o que levava o dólar a custar 40 meticais. Posso até garantir que muitos não consideraram a realidade da situação ao extremo. Hoje já é diferente. Custou mas as pessoas despertaram. Percebem que o caos está eminente. O dólar hoje, no banco, está cotado a quase 70 meticais, e a qualquer momento poderá chegar a 80, 90 ou 100 meticais e para que isso aconteça, não falta muito.

Reflectindo
A 15 de Janeiro de 2015, quatro dias antes da tomada de posse do nosso Presidente da República e meu conterrâneo Filipe Nyusi, o dólar estava 32,5 meticais. Hoje custa o dobro desse valor. Os produtos da primeira necessidade estão a subir gradualmente. Assim é porque ainda se trata do stock antigo que os comerciantes têm nos seus armazéns. Daqui a nada, a subida não será gradual, mas, sim, galopante. Se não aumentaram os preços de forma arrepiante é porque também tinham medo de sofrer represálias de quem regula este sector.
Estou convencido que dentro de algumas semanas iremos observar uma subida de preços jamais vista em Moçambique. Não devemos esquecer que 90% dos produtos em Moçambique são importados. 99% da matéria prima usada para vários fins é importado, o combustível é também importado. Automaticamente, tudo vai subir, desde os transportes até à alimentação. A economia moçambicana é dolarizada, o que se chama em linguagem técnica de dolarização, daí que alguns serviços são pagos em dólares, ou seja, o seu cálculo é feito nesta moeda. Temos escolas onde paga-se em dólares, bem como alguns exemplos que ora me ocorrem que são a DSTV e a Tv Cabo. Com certeza que estes serviços irão aumentar os seus preços.

Dívidas
Resultado de imagem para reflectindoNão vou falar das dívidas da Ematum e outras, porque este assunto até já virou chacota. Qualquer criança de três anos em Moçambique, goza com isso. A verdade é que estas dívidas, de cerca de dois biliões de dólares, vão ser pagas. Pode não ser a breve trecho, mas um dia terá de ser e será com juros.Em Janeiro último, o Banco de Moçambique criou medidas duras sobre cartões de crédito e débito, muitos até criticaram Ernesto Gove, o governador do banco emissor, e Adriano Maleiane, o ministro das Finanças. Ao tomarem estas medidas, quase que cirúrgicas, eles foram claros: " Não temos divisas, Moçambique não exporta nada ".A mensagem de que Moçambique estava à beira do caos veio camuflada com a nova norma de que cada moçambicano só poderia levantar até um limite de 700 mil meticais. Algumas pessoas perceberam a partir desta decisão do Banco de Moçambique que a economia moçambicana estava a agonizar.

Western Union
Todos os moçambicanos que têm algum familiar no estrangeiro faziam as suas transferências via Western Union ou Moneygram. Acontece, porém, que estes já nem querem saber do metical, apenas dólar. Os que têm necessidade de enviar algum valor para fora, são obrigados a levar um enorme volume de meticais, trocar em USD no mercado negro, depois fazem as suas transacções normais nestas instituições. E aqui também as transferências são limitadas.

Agências de viagem
Resultado de imagem para linhas aereas moçambiqueAs agencias de viagem em Moçambique podem entrar em ruptura, isto porque quase todas trabalham com a IATA. A IATA deve pagar às companhias aéreas em dólares. Logicamente, a própria IATA, por estas alturas, tem os mesmos problemas em adquirir a moeda americana nos bancos, por não haver divisas. E isto pode forçar a IATA, a qualquer momento, a suspender os acordos que tem com as agências de viagem. Os moçambicanos terão que viajar para África do Sul para adquirir passagens aéreas para outras partes do mundo e as viagens custarão muito mais caras porque a cada dia o metical perde o seu valor.

Mercado negro
Ontem dia 27 de Junho, o BCI vendia o dólar, com comissão, a 69,300 meticais. No mercado negro, o dólar era vendido a 67,300 meticais. Quer dizer, dois meticais mais abaixo que o banco. Isto significa que há escassez da nossa própria moeda, o metical, nos circuitos normais de circulação. Normalmente deveria ser o contrário, no mercado negro deveria estar a 71 meticais e o banco vender mais baixo.

Financiamento bancário
Os bancos comerciais em Moçambique estão à beira do colapso, não assumem publicamente apenas porque não têm como devolver o dinheiro dos clientes, estão a ganhar tempo. O banco emprestava dinheiro com uma taxa de juro de 24% ao ano, e só num ano houve desvalorização da moeda em 100% .O que o banco ganhou neste um ano? Aliás, as taxas directoras do Banco de Moçambique tem estado a ser actualizadas, isto é, quem tem empréstimos vai pagar mais pelo valor que obteve...

Imobiliária
Os preços de imóveis em seis meses caíram cerca de 50%. Um apartamento que era vendido por 200 mil dólares, que na altura eram seis milhões de meticais, hoje custa cerca de 95 mil dólares, sendo que se trata de um valor proibitivo, ou seja ninguém compra.

Renda
As rendas baixaram acima de 70 % e mesmo assim ninguém quer. Uma loja que há 15 meses alugava-se por dois mil dólares, hoje a mesma loja está a 50 mil meticais, valor que não chega 800 dólares e mesmo com este preço a procura diminuiu.

Importação
Como disse anteriormente, as importações já caíram quase 90%, primeiro não há divisas nos bancos para importação, segundo, os comerciantes não têm capital suficiente para importar um contentor que está duas vezes mais caro que o que pagava anteriormente. Se o comerciante, porventura importar, corre o risco de não vender porque o produto custa 130% mais caro do que no passado recente, e ainda porque o vizinho que tem o stock antigo vende 100% mais barato do que quem importa agora.

Conclusão
Moçambique não está em colapso, Moçambique está de tangas, sinto muito por usar esta expressão " TANGAS".  Sou moçambicano de gema. Sinto quando vejo compatriotas meus a sobreviver. Ademais, alguns há que ainda não caíram na realidade e quando isso acontecer, provavelmente vai ser tarde demais. Ou seja, estamos a caminho de termos duas classes: a rica e a  pobre.


PS: Recebi este texto por email através do meu amigo Kekobad Patel. Não sei quem é o autor. Publico-o porque é simplesmente uma narrativa sincera sobre a crise. Quem lê nossos jornais não encontra este tipo de abordagem sobre a economia real. Até parece que não estamos em crise.(MM in facebok)

Vamos superar!

Resultado de imagem para luisa diogoA antiga primeira-ministra de Moçambique, Luísa Diogo, acredita que o país vai superar as consequências da dívida pública, contudo terá de passar por momentos difíceis.Falando em Maputo, a margem da cerimónia de deposição da coroa de flores na Praça dos Heróis moçambicanos, por ocasião dos 41 anos da independência do país, Diogo explicou que a dívida pública afecta directamente o Orçamento do Estado (OE) e vai atingir os sectores de desenvolvimento.“Do ponto de vista económico e do ponto de vista social, vamos passar momentos difíceis, porque quando se afecta o maior instrumento económico e de desenvolvimento do país, que é o Orçamento do Estado, tudo fica afectado. Então, vamos enfrentar momentos difíceis, mas conscientes que vamos superar”, disse.Diogo (foi funcionária do Banco Mundial) acrescentou que o Governo está a empenhar-se para encontrar as melhores soluções, pelo que os problemas devem ser enfrentados com serenidade.“Nós os moçambicanos já enfrentamos muitos problemas mais que estes e conseguimos superar”, sublinhou.Sobre os 41 anos da independência, a antiga primeira-ministra disse que deve servir de um momento de reflexão para o futuro do país, e que os moçambicanos devem se inspirar nos ideais do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel.Comentando sobre a retirada do Reino Unido da União Europeia, Diogo(antiga ministra das finanças) acredita que aquele país europeu vai continuar a ter as “boas relações” com Moçambique.“Nós temos relações bilaterais muito boas e certamente que vão continuar”, frisou.

Será desta, de vêz?

A Comissão Mista, constituída pelo Governo e a Renamo, o maior partido da oposição, anunciou hoje que as autoridades moçambicanas já enviaram um convite formal aos mediadores internacionais que deverão participar no diálogo entre as partes para o restabelecimento de uma paz efectiva no país.

A informação foi avançada hoje, em Maputo, pelo porta-voz da Comissão Mista, José Manteigas. A Comissão está a preparar um encontro ao mais alto nível entre o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama.

Resultado de imagem para jose manteigas“A nossa contraparte do Governo anunciou que já enviou o convite aos mediadores. Apesar de eles terem manifestado a sua abertura, ainda não responderam oficialmente ao convite”, sublinhou Manteigas, que também é deputado na Assembleia da República, o parlamento moçambicano, pela bancada da Renamo.

Manteigas, que falava minutos após o término da sétima sessão da Comissão Mista, explicou que as partes já alcançaram consensos sobre os termos de referência dos mediadores internacionais propostos pela Renamo nomeadamente a União Europeia, Igreja Católica Romana, e o Presidente da África do Sul, Jacob Zuma.

Segundo o porta-voz, o grupo também discutiu, na ronda de hoje (29), o funcionamento da Comissão após a indicação de novos membros, mais três de cada lado.

“Como sabem, o Presidente da República alargou mais três membros e o líder da Renamo também alargou mais três”, disse a fonte.

17 anos presa!

Resultado de imagem para criança presa em casa africaUma adolescente foi restituída a liberdade esta quarta-feira, depois de ter sido mantida amarrada na cozinha durante sete anos na cidade de Tete, capital da província homónima, no centro de Moçambique.A vítima, identificada pelo nome de Regina, 17 anos de idade, foi restituída a liberdade graças à denúncia feita aos órgãos de comunicação social e às estruturas do bairro Mateus Sansão Mutemba, onde morava com seus pais.Apesar da sua idade, Regina aparenta ser muito mais nova, devido a sua estatura reduzida ou seja menos de um metro de altura.Regina sofre de perturbações mentais desde os dez anos de idade, altura em que a mãe decidiu aprisioná-la e nenhum vizinho foi capaz de se aperceber do caso. Assim, durante sete anos, a partir das 07h00 até 16h00 Regina era amarrada junto a um ferro, numa casinha que a mãe, Narcisa Verniz, disse a jornalistas tratar-se de uma “cozinha”.
Os vizinhos, chocados pela situação, disseram que a menor estava aprisionada num “curral de cabritos”.Narcisa Verniz tentou justificar a decisão de amarrar a sua filha alegando que era para a sua própria protecção, porque sofre de perturbações mentais. Assim, não havia o risco de sua filha sair a rua e morrer atropelada.
“Não tinha alguém para ficar controlar a ela porque eu trabalho”, disse a mãe.
Resultado de imagem para cidade de teteOs pais são funcionários públicos e, apesar de conhecerem as leis em vigor no país, violaram sistematicamente os direitos da criança.Chocada com a situação, a esposa do governador de Tete, Joana Auade, decidiu deslocar-se à casa de Regina.“Os pais não deveriam agir desta forma. Por mais que a criança sofra de perturbações mentais ela é igual a outras. Por isso, não deveria merecer este tratamento. É muito triste aquilo que ouvimos. Foi um enorme choque. Por isso, estamos aqui para vermos como podemos ajudar a criança que ficou durante muito tempo em cativeiro”, afirmou.

O secretário do bairro Mateus Sansão Mutemba, Francisco Gerente Saguate, disse que “agradecemos os que denunciaram o caso, mas atrasaram, porque o tempo em que ela ficou a ser amarrada todos os dias é muito. Mesmo assim, louvamos e apelamos para que continuem assim”.Saguate, que considerou o caso de muito preocupante afirmou que “gostaríamos que este caso não fosse repetido, porque choca a sociedade. As pessoas devem estar livres, sobretudo as crianças”.O chefe do Departamento da Acção Social, na Direcção Provincial do Género, Criança e Acção Social, em Tete, Domingos Razão, disse ter sido colhido de surpresa neste caso, o primeiro do género reportado na cidade de Tete.Domingos Razão garantiu que a sua instituição vai acompanhar atentamente o caso, começando por garantir as condições necessárias para melhorar o estado de saúde da menor.

A propósito dos "lesa pátria"

1980, Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique entrevistado sobre os índices de corrupcção na jovem República:

O Senhor Presidente diz que ainda há corrupção em Moçambique. Mas a opinião geral em todo o mundo é que o seu país é dos menos corruptos em África. O que tem a dizer sobre isto?
Samora Machel: Penso que a podemos afirmar com satisfação no termo de cinco anos de independência, que avançámos muito mais no combate à corrupção de que muitos países africanos independentes há mais tempo. Simplesmente, julgamos que ainda não avançámos o suficiente, que estamos ainda muito longe dos nossos objectivos.

Resultado de imagem para samora machelMas os governos do ocidente anotam como um caso único em África?
SM:No Ocidente, em especial, formou-se uma certa imagem dos países africanos. Dessa imagem fazem parte a corrupção, a desorganização, a incompetência, o desleixo. São coisas já consideradas "normais" em África. Assim, quando aparece um país como o nosso, onde há um combate consequente contra esses males, os observadores estrangeiros têm tendência a dizer que, "comparado com outros países africanos", o nosso não é assim tão mau. Pensamos que esta perspectiva é incorrecta e revela paternalismo, mesmo quando é assumida por observadores simpatizantes do nosso processo.

É realista exigir mais?
SM:O nosso termo de comparação são os países mais avançados, onde foi construída uma sociedade mais justa e onde esses males foram eliminados ou quase eliminados, a ponto de já não constituirem um problema sério. É com esses países que queremos comparar-nos. O nosso objectivo não é sermos um país africano menos corrupto do que os outros - o nosso objectivo é eliminar radicalmente a corrupção do nosso país.Queremos demonstrar, neste processo, que a corrupção, a ineficiência, não são características africanas - são sim características da ideologia do subdesenvolvimento.
Resultado de imagem para samora machelResultado de imagem para samora machel

segunda-feira, junho 27, 2016

Apertos do grande capital

A missão do Fundo que na sexta-feira  (24)terminou o seu trabalho de avaliação ao impacto das dívidas contraídas às escondidas, elaborou uma impressionante folha de recomendações, daquelas que nos fazem recuar no tempo três décadas, lá para longíquos anos 80. Desde logo, aperto substancial ao nível fiscal e monetário, flexibilidade da taxa de câmbio, redução da pressão sobre a inflação e balança de pagamentos, ainda acabar com a pressão exercida sobre o mercado cambial, uma forma, diz o Fundo, de estabelecer o equilíbrio entre a oferta e a procura. Isto diz muito da preocupação que o assunto de dívida está a provocar também fora de portas.Lá fora onde os níveis de desconfiança dispararam em catadupa, mas possível de recuperar, desde que os suspeitos vão p’ra a cadeia...   clique AQUI


Perigoso mante-las!!!!

Duas unidades sanitárias privadas foram encerradas pelas autoridades de Saúde da cidade de Maputo, por não reunirem condições mínimas para o seu funcionamento. A Directora de Saúde da Cidade de Maputo, Alice de Abreu, explicou que as irregularidades eram graves e não havia como eles continuarem a trabalhar. Orientamos que deveriam fechar e melhorar as condições das infra-estruturas e garantir que o pessoal que está lá a trabalhar tenha carteiras profissionais actualizadas. Depois podem solicitar uma vistoria para reabrirem os hospitais.
Abreu, que se escusou a revelar nomes, referiu que as anomalias foram detectadas durante os trabalhos de supervisão e inspecção levadas a cabo pelo sector ao longo do presente semestre.
Resultado de imagem para clinicas maputoEstes e outros aspectos atinentes ao funcionamento das unidades sanitárias privadas levaram as autoridades sanitárias a reunirem-se em Maputo, com os responsáveis dos 205 estabelecimentos de saúde privados, entre postos médicos e hospitais, cadastrados até então na cidade de Maputo.Durante o encontro, de um dia, foram ainda analisadas as normas de gestão do lixo hospitalar e regras de incineração, em função do tipo que é produzido. Observaram igualmente os resultados das visitas de supervisão e de apoio técnico realizadas pela Saúde às unidades sanitárias privadas.
Temos consciência de que a gestão imprópria do lixo hospitalar é um risco para a saúde. Por isso, quando visitamos as unidades sanitárias pedimos facturas ou recibos para comprovar que todo o lixo produzido foi destruído de forma apropriada. A não apresentação deste comprovativo é passível de uma sanção”, disse Abreu.

Os encontros entre as autoridades de Saúde e responsáveis de unidades sanitárias privadas acontecem duas vezes ao ano.

TVM

Resultado de imagem para tvm moçambiqueTVM, as minhas expectativas e o confirmar de um divórcio há muito anunciado.
TVM é a nossa televisão pública. É, de entre os tantos canais de televisão que temos em Moçambique, aquele que deveria nos oferecer um serviço público de TV. Devia caber, nesse serviço público, a provisão de informação televisionada que satisfaça as nossas necessidades de informação.
Talvez seja necessário definir o que, no nosso contexto, seria “serviço público de televisão” e que deveria ocupar a TVM e seus profissionais.
É que, a meu ver, não podemos confundir a estrutura empresarial da TVM com serviço público. Esta definição é importante e urgente para sairmos da actual situação em que (me parece) se confunde serviço público com ser canal oficial das actividades do Governo quase num contexto de “jornalismo sentado” (de conferências apenas).
É frustrante assistir a uma entrevista que de GRANDE só tem o nome do programa. O exemplo disso foi a entrevista com o Edil de Maputo David Simango na quinta-feira passada; uma entrevista sem roteiro, sem sequência e que terminou da mesma forma como começou. É que, o edil de uma cidade capital que enfrenta desafios enormes como a nossa tem muito a dizer e devia ter sido suficientemente espremido para falar desses desafios e de como a edilidade está preparada ou se está a preparar para os enfrentar. A verdade é que foram vários minutos de conversa quase que informal em que a entrevistadora não ousou fazer uma única questão de fundo que obrigasse o edil de Maputo a elaborar de forma clara e realística sobre os principais problemas da nossa cidade capital: mobilidade, gestão de resíduos, planeamento territorial etc, dentro do que é competência do Município tratar.
Infelizmente todas as “grandes” entrevistas são, na verdade, grandes conversas estéreis com excepcionais momentos de alguma lucidez.
Resultado de imagem para tvm moçambiqueMoçambique é vasto e com uma riqueza cultural enorme mas, no entanto, os poucos espaços de promoção do que de melhor se faz é usado para promover inutilidades como “Mulher Bacia” (uffffff) num contexto que os nossos melhores músicos se queixam de falta de espaço para se mostrarem. E isso me entristece pela ideia que tenho de que uma Televisão Pública que se prese e ciosa do serviço público que deve prestar, deveria estar comprometida com conteúdos educativos, com a decência etc. Que tal levar à TV o grupo “Timbila Muzimba” e outros do género que vão remando pela preservação da Timbila, esse instrumento que a humanidade se apossou dele? Que tal levar ali o trabalho musical de Aly Faque, Filipe Nhassavele, Mussodji e outros nomes sonantes e ainda anónimos da música e outras manifestações culturais? Que mensagem se quer transmitir com a promoção de “Bacias”?
mapaO que é que pretendemos da TVM? É uma questão que devemos nos colocar e buscar respostas o quanto antes. Ser politicamente correcto (no sentido de neutralidade) pode ser uma opção; uma opção até defensável mas, ser subserviente mesmo que ao Governo que canaliza parte do financiamento para o funcionamento da TVM (em parte através dos nossos impostos, diga-se) não deveria ser se quer cogitado. É que o serviço público que se pretende daquela casa não se compadece com isso.
Um verdadeiro serviço público, que traga moçambique na sua diversidade cultural, política, social etc era a minha expectativa. Essa expectativa vem sendo frustrada há muito tempo. Não encontro na TVM um provedor de serviço público de informação; antes pelo contrário. Encontro uma instituição que insiste em ser excludente, que se nega a abrir a diversidade quer de pontos de vista, quer de visão do Moçambique que queremos. É uma instituição que pretende que vejamos o país pelas mesmas lentes e nos convida insistentemente para monólogos aparentemente pré-ensaiados.
Programação - TVM 2É por isso que prefiro ver outros canais. A TVM não me informa e nem me forma.

PS: Cresci a pensar que os jornalistas e/ou profissionais da comunicação social são irreverentes/revolucionários. Aliás, os códigos deontológicos que os regem impelem-nos a essa irreverência. Vejo isso em alguns canais em Moçambique. Na TVM é só reverência e uma reverência que fadiga.(Julio Mutisse)

sexta-feira, junho 17, 2016

Divórcio na velhice

Quando Eduardo Mondlane (foto1)era vivo ele costumava dizer que a Frelimo só se destruiria se fosse atacada a partir de dentro dela; e não de fora. Mondlane morreu em 1969 e, desde lá ate cá, o Partido ultrapassou vários testes de resiliência. Suplantou o colonialismo, resistiu a Ian Smith e viu o Apartheid se desmoronar a seus pés.
Cedeu ao “banditismo armado” da Renamo, um empecilho que adia o percurso do Pais. Na verdade, a história da Frelimo mostra que ela também se renova por dentro, nomeadamente quando suas franjas de alianças entram em disputas. 
Antes de morrer em Mbuzine, Samora Machel(foto2) era um homem isolado, completamente só na ponta vermelha, como ilustram vários depoimentos espalhados nos escaparates da história não oficial.
Hoje com a crise da dívida e outras mazelas, a Frelimo encarna a figura de um casamento a beira do divórcio. Seus integrantes se vão digladiando em público, e o final do drama contínua difícil de adivinhar. Jorge Rebelo dispara para todos os cantos mas internamente parece incapaz de organizar um coro que siga harmoniosamente os gestos de sua batuta.
Sérgio Vieira pede uma “lava jato” sem se importar com o risco perceptível dos efeitos que isso tem de desintegrar o Partido, trucidando o Estado-Nação. Pior, em vez de usar os foros internos, ele sai cantando a retórica da oposição. Quando ele diz que a Frelimo corre o risco de perder as próximas eleições, ele não fá-lo como quem lança um alerta para que o pacto social seja renovado.
Ao invés de lançar os fundamentos para uma reconciliação interna, SV coloca mais estrume em ódios que se recalcam, subindo mesmo para cima do muro do vizinho, maldizendo com o vizinho, o seu próprio casamento. Tal como Jorge Rebelo, ele investe num divórcio na velhice. Nem a perspectiva de os fundadores da Frelimo deixarem um legado funesto não lhes atrai.

Há qualquer coisa de inverosímil na actual narrativa da Frelimo. Mas o pior ‘e que os filhos seguem a trilha do silencio. Ninguém se arrisca a surgir com um novo discurso, uma proposta de reconciliação interna entre os mais velhos. A Frelimo (foto3) parece estar a precisar de um conclave que reúna os seus fundadores ainda vivos e encontre uma plataforma de consenso para salvar o casamento. Essa ideia de divorcio na velhice não fica bem! Os bons filhos sempre se bateram contra um divorcio na velhice.(M.Marcelo)