segunda-feira, abril 18, 2011

Samora continua a liderar

As retransmissões que têm sido feitas pelas rádios e televisões moçambicanas dos extractos das inúmeras pregações político-humanistícas de Samora, em celebração de 2011 como Ano Samora Machel, voltam a (com)provar, uma vez mais, que este fundador da Nação moçambicana venceu, de facto, a morte tal como o fez também Cristo, cujas obras se apregoam e encantam milhões passados mais de 2000 anos após a sua morte carnal. Como dizia num dos artigos que escrevi há três anos aquando das celebrações do que teria sido, caso estivesse vivo fisicamente, o seu 75/o aniversário natalício, em 2008, Samora é um dos maiores legendários do Século XX, e que tal como Mandela, Luther King ou mesmo Cristo, será sempre evocado tanto por nós que o conhecemos como pelas gerações futuras que só estudarão as suas obras como o estão fazendo agora neste ano os que nasceram há 25 anos após o seu desaparecimento físico, graças ao legado humano e moralista que deixou, e que continua a ser válido, porque a sua visão profética de um Moçambique e um mundo melhores, continuam a iluminar a humanidade, e a guiar todos aqueles que, como ele, nasceram ou irão nascer predestinados também a serem heróis da promoção dos valores humanos, como ele o fez até ao fim da sua vida.
A sua obra será estudada para sempre porque é um diagnóstico eterno às causas que atrasam o desenvolvimento de Moçambique como do resto do Mundo.
Como dizia nesse artigo de há três anos, lendo as obras e o pensamento politico Samorianos, nele se descobre a sua universalidade tão igual ao que está estampado em obras de outros grandes legendários, como o seu compatriota e ídolo Eduardo Mondlane, bem como Nelson Mandela, Luther Martin King Jr, Fidel Castro e mesmo do lendário pensador e autor dos Condenados da Terra, Francis Fanon, cujas obras explicam com precisão os problemas que hoje afectam a humanidade.
Há, por incrível que pareça, no pensamento e obra samoriana, uma tal similaridade entre o que ele apregoou e o que foi apregoado, por exemplo, por Martin Luther King Jr, e que se não nos cuidarmos na análise do que cada um disse, incorremos em pensar que terá havido, por assim dizer, à maneira brasiliana, uma cabulação de um pelo outro, porque eles são tão iguais mesmo nos gestos e gosto pelas parábolas com que se serviram para disseminar a sua doutrina e a sua visão profética em prol do bem estar dos homens de todas as raças. Os dois tinham vozes de trovão que dispensavam alto-falantes e ambos falaram mais em improviso durante horas a fio, o que faz deles verdadeiros líderes ou messias dos seus compatriotas. As pregações políticas de Samora eram escutadas com muita atenção e, apesar de que eram geralmente longas, as suas audiências nunca se cansavam de o escutar. Tal como um Fidel de quem era admirador ele próprio e que podia falar horas a fio sem enfadonhar os que o escutavam, também as audiências de Samora o escutavam electrificados de uma emoção só comparável à que se apossa aos fãs de futebol em pleno jogo nos estádios.Tais audiências excitavam-no apesar de que muitas vezes pregava para homens e mulheres que mal ou nada tinham comido durante o dia ou mesmo dias consecutivos, porque a guerra económica que os inimigos do bem estar dos povos moviam contra si, causava uma grande carência de alimentos de todo o tipo, até de doces para não falar da farinha e do açúcar que hoje muitos de nós vemos nas lojas em aparente abundância apenas porque são poucos os que os podem comprar porque são vendidos a preços de ouro.
Na verdade, Samora teve o mérito de alimentar os seus compatriotas com as boas mensagens que jorravam da sua boca, e que os saciavam com eles, a tal ponto que se saciavam mais de esperança de dias melhores e que os fazia com que se esquecessem da fome que roía as suas barrigas de que muitas vezes falta-lhes a própria água porque até esta escasseava pelas mesmas razões que faziam com que as lojas estivessem vazias. Ele era a prova mais eloquente da tese de Mandela, de que quando se tem uma forte convicção sobre a justeza da causa porque se está lutando, pode se resistir a tudo, mesmo ao irresistível, porque uma mente bem alimentada, aguenta um corpo debilitado pela fome e todas as outras formas de castigo e sofrimento humanos.
Como bem o diz também Luther King no seu épico discurso ‘Tenho Um Sonho’, quando se está politicamente saciado, perde-se o medo e ganha-se a determinação de lutar contra tudo e todos que tentem se opor ao que se pretende. È interessante notar que Samora e Martin Luther King nasceram na mesma década e as suas idades diferiam apenas em quatro anos um do outro, do mesmo modo que ambos tinham a mesma visão futurista, como quando Samora dizia com uma fé só igual aos fieis duma religião, vezes sem conta, como se de profeta fosse, que o racismo e o apartheid na Africa do Sul estavam condenados a desmoronar para dar lugar a uma sociedade em que crianças negras e brancas viessem viver e brincar harmoniosamente juntas, indiferentes à cor da pele de cada uma delas, do mesmo modo que King antevia uma América em que os homens deixariam de ser avaliados pela sua raça mas sim, pelo seu valor. Eles foram verdadeiros profetas da realidade que hoje vivemos e que os que nasceram há 25 anos, encaram-na como tendo nascido do acaso, quando custou o sacrifício e morte de milhões de seus antepassados como Samora e Mondlane que foram mortos pelos que se opunham a que fossemos livres como estamos hoje.
É espantoso que em tempos de grandes trevas, obstinência e barbaridade como aqueles em que eles viviam então, fossem ter tanta convicção e fé de que seria possível acabar com essa situação horrorosa como acreditavam Samora, King, Mandela e outros heróis vivos Joaquim Chissano e este Armando Guebuza que então lutavam apaixonadamente, para que isso acontecesse, desprovidos de qualquer rancor e ressentimento pelos homens da cor de que muitos deles os vinham maltratando a eles próprios porque embrutecidos pelos regimes que então os doutrinavam que o homem negro não era pessoa igual aos outros homens, indo ao ponto de destrinçarem que o mal não eram os homens brancos como tal, mas sim, o sistema que os impingia a tese da supremacia branca.
Volvidos apenas algumas décadas após a morte de Samora e de King e terem proclamado que os homens viveriam um dia indiferentes à raça de cada um deles em tempos e lugares tão distantes um do outro, e que na altura essa sua visão era vista como impossível de se concretizar, temos de facto hoje as crianças sul-africanas e americanas de todas as cores brincando juntas, indiferentes à cor das suas peles, e Barack Obama, um filho de um queniano, como Presidente dos EUA, no que prova a tese de Luther King de que chegará o dia em que os homens serão avaliados pelo que valem e não pela cor da sua pele como era no tempo em que eles lutavam contra o racismo que se baseava no mito da supremacia branca.(Gustavo Mavie)

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