sexta-feira, outubro 23, 2015

Encerramento dos aeroportos internacionais

O recente anúncio do PCA dos Aeroportos de Moçambique de que a empresa pretende cortar o número de aeroportos internacionais no país para três é outra tentativa flagrante de proteger a deficiente transportadora nacional LAM. A redução do número de aeroportos que podem receber voos internacionais significa que qualquer turista ou homem de negócios seria obrigada a entrar no país através de Maputo, Beira ou Nacala e depois usar a LAM para a sua viagem.
Mesmo o Ministério dos Transportes e Comunicações reconhece que os preços dos bilhetes da LAM são elevados e o serviço pouco fiável. Na verdade, o Primeiro-ministro já interveio aconselhando a LAM a realizar uma auditoria completa. Durante uma visita do Primeiro-ministro a LAM, o Ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita afirmou que todos devem fazer sacrifícios para garantir que a LAM continue a operar.
Reconheço que é importante para o orgulho nacional de Moçambique ter uma companhia aérea de bandeira. No entanto, as companhias aéreas nacionais em todo o mundo, muitas vezes lutam para serem competitivas. Alguns defenderiam que, na verdade, o seu objectivo não é a competitividade – deve-se carregar a bandeira nacional e, como tal, deve ser subsidiada. Se essa for a escolha de um país, que assim seja. Mas não é bom senso económico obrigar que todos façam um sacrifício. Deve haver escolha.
Se o governo optar por gastar o dinheiro dos contribuintes para subsidiar a LAM como uma questão de orgulho, essa é uma questão para o eleitorado. No entanto, as pessoas devem ter a possibilidade de optar em gastar o seu próprio dinheiro em bilhetes mais baratos, num provedor de serviços mais fiável ​​e uma maior escolha de destinos de voos. Deve estar ao critério das pessoas decidirem se querem sacrificar tempo e dinheiro, a fim de voar na LAM.
Os viajantes de negócios continuarão a viajar para Moçambique, mesmo que tenham que usar a LAM para voos dos três aeroportos internacionais para outros destinos. No entanto, os turistas não irão. A LAM é tão pouco fiável que os voos podem alterar em um ou dois dias – falo por experiência própria. Os turistas com tempo limitado não irão arriscar a ter as suas férias interrompidas ou o seu regresso ao trabalho atrasado. Irão simplesmente escolher um outro destino. A indústria do turismo em Moçambique já está em crise segundo mostrado por estudos recentes pelo SPEED. O governo deve considerar a importância do turismo para a economia nacional antes de tomar decisões que afectam o sector.
No geral, os consumidores devem ter escolhas. Se uma pessoa decide que prefere pagar mais, voar numa companhia aérea não fiável para uma série limitada de destinos, a fim de apoiar a transportadora nacional de bandeira, essa é a sua escolha. No entanto, os muitos milhares de passageiros que gostariam de pagar um preço razoável e chegar a tempo, tendo uma escolha de destinos para negócios ou lazer também devem ter essa opção.
De todas as formas subsidiem a LAM e usem-na como uma marca de orgulho nacional. Mas reconheçam que é improvável que a companhia alguma vez seja rentável ou eficiente – esse não é seu objectivo. Ao mesmo tempo, permitam que os contribuintes, que já contribuem para a LAM através dos subsídios, e os visitantes, tenham a opção de voar em outras companhias aéreas. Permitam que os turistas voem directamente para os principais destinos turísticos, como Inhambane, Vilanculos e Pemba, em vez de encerrar esses aeroportos para voos internacionais. Permitam que os homens de negócios voem directamente para os principais centros de negócios, como Tete e Pemba. Ao tornarem mais fácil e mais barato para os empresários e turistas visitarem o país, iremos fazer crescer a economia. Ao tornarem mais fácil, mais barato e mais fiável voar domesticamente, iremos desenvolver o turismo doméstico. Uma economia em crescimento significa mais impostos, e, portanto, mais dinheiro disponível para subsidiar a LAM se essa for a escolha que o governo fizer. A limitação de escolhas e a obrigação das pessoas a usarem a LAM irá apenas reduzir o número de viajantes, tanto nacionais como internacionais e, em última instância prejudicar a economia.
O trabalho do SPEED sobre a liberalização do transporte aéreo conclui que há fortes evidências em todo o mundo de que a liberalização do transporte aéreo tem importantes benefícios para o sector do turismo e toda a economia de um país. A liberalização dos serviços aéreos entre países gera significativas oportunidades adicionais para o crescimento económico e criação de emprego. Vários estudos têm sugerido que haveria uma expansão de tráfego e crescimento como resultado de uma redução das barreiras para entrada no mercado de transporte aéreo de Moçambique. Moçambique inicialmente tomou alguns passos importantes no sentido de uma política de espaço aéreo liberalizado, mas agora parece estar recuar novamente para uma maior protecção da LAM. Esta é uma política arriscada num momento em que a economia está em contracção. A abertura do sector dos transportes aéreos iria enviar sinais importantes para o mundo de que Moçambique está empenhado em atrair investimentos e receber turistas. Este por sua vez, impulsionaria a deficiente economia.
Resultado de imagem para 737 -800linhas aereas de mocambiqueComo nota de rodapé – se quisermos que os nossos aeroportos internacionais atraiam mais negócios, é importante que operam de forma fiável e eficiente. O encerramento de todo o aeroporto porque o avião presidencial está preste a aterrar ou descolar causa danos significativos. Recentemente, um avião completamente cheio foi desviado de volta para a África do Sul 20 minutos fora de Maputo porque o voo Presidencial estava a embarcar e o aeroporto estava fechado. Pode imaginar os transtornos daí resultantes para os passageiros, a companhia aérea e o aeroporto de Joanesburgo? Em outros países ou o Presidente voa a partir de um aeroporto separado, ou o voo presidencial é tratado como um voo normal, sem a necessidade de interromper todos os outros tráfegos. Com todo o devido respeito ao Presidente, será que a equipe no aeroporto de Maputo não tinha conhecimento de que o seu voo ia sair antes do outro voo se descolou em Joanesburgo? Tenho certeza de que, se o próprio Presidente soubesse que inconveniência foi regularmente causada em seu nome no Aeroporto de Maputo, ficaria assustado.


Mão de obra ilegal

Resultado de imagem para construção civilO ramo da construção civil no mercado moçambicano lidera o quadro estatístico do Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS) na contratação ilegal de mão-de-obra expatriada, em detrimento de concidadãos com capacidade para executar determinadas actividades laborais. A lista de expatriados ilegais é liderada por portugueses, chineses, indianos e sul-africanos que, na maioria dos casos, entram em território moçambicano com visto de turismo, mas passam a exercer actividades laborais remuneráveis sem observar todas as formalidades necessárias para o efeito.A secretária permanente do MITESS, Abiba Tamele, que falava hoje em Maputo a margem da abertura de um seminário sobre a imigração da mão-de-obra, apontou como grande preocupação do pelouro a devida legalização dessas pessoas, ao abrigo das três modalidades vigentes na lei laboral do país, dependendo da dimensão da empresa (pequena, média e grande).Segundo Tamele, a primeira modalidade consiste na quota, onde a empresa tem espaço para contratar um determinado número de trabalhadores nacionais e, por via disso, tem também uma percentagem reservada a admissão de estrangeiros. Ainda no âmbito da contratação de expatriados, para os empregos cuja duração máxima varia entre 30 a 90 dias, a secretária permanente disse que a lei é flexível bastando, para o efeito, a entidade contratante comunicar a entrada dessa pessoa no país.Todavia, existem situações de aproveitamento, no âmbito da quota e a curta duração, em que as pessoas entram no país e, mais tarde, são descobertas a trabalhar sem que tenha havido uma comunicação a entidade competente que são as direcções de trabalho, emprego e segurança social. “Quando isso é constatado, a Inspecção Geral do Trabalho emite a suspensão”, disse Tamele, reconhecendo que para certas áreas o país tem quadros moçambicanos que podem trabalhar, mas cabe as empresas dizerem porque preferem mão-de-obra expatriada em detrimento da nacional.Na sequência das sistemáticas violações a lei laboral, mais de 1.000 mil expatriados foram suspensos no ano em curso devido as irregularidades detectadas no processo de contratação.O seminário sobre a migração da mão-de-obra visa, segundo a fonte, tem em vista identificar mecanismos de harmonia para garantir que os moçambicanos tenham oportunidades de emprego em igualdade de circunstâncias com os cidadãos de nacionalidade estrangeira.O desafio é extensivo a administração do trabalho que tem o papel de garantir o emprego digno e estável aos nacionais e intervir na contratação de mão-de-obra estrangeira, zelando pelo cumprimento da legislação laboral em vigor em Moçambique. 

Ao poder e a oposição

Moçambique atravessou, nas últimas semanas, um período político difícil que, caindo em cima da já difícil situação económico-social, fez disparar os sinais de alarme entre a comunidade diplomática residente e os actuais e potenciais investidores. A crise política veio juntar-se a uma má conjuntura para os países detentores de recursos energéticos, afectados pela quebra e volatilidade dos preços de venda (quando os custos de exploração são os mesmos) e pela baixa geral do valor das commodities.
Como se isto não fosse bastante, países como a China e o Brasil, dois BRICS tradicionalmente envolvidos no investimento no continente africano, atravessam momentos difíceis. A própria Europa está longe da abastança financeira e da disponibilidade política, entre o peso das dívidas públicas e privadas dos países do sul e as divisões levantadas pela crise dos refugiados. Nada disto deixa tempo, recursos ou vontade para acudir a crises políticas endógenas, sobretudo quando não parecem ter muita racionalidade e razão – como a absurda crise da Guiné-Bissau, ditada por um capricho presidencial, mas que em dois meses pôs em causa a restauração da confiança no país e ainda não parou de incomodar. Moçambique não pode seguir esse caminho, mas os recentes ataques (por grupos armados cuja identidade e condição continuam obscuras mas cujo à vontade e impunidade levam a suspeitar de altas cumplicidades), transmitiram ao exterior uma impressão de instabilidade e insegurança que não é encorajadora.
Resultado de imagem para jose nogueira pintoOs dirigentes moçambicanos – no poder e na oposição – devem ter presente que, hoje em dia, as decisões de investimento são pensadas e repensadas a vários níveis e escalões, sobretudo nos sectores energéticos, mineiros e industriais, que implicam altos capitais e um longo tempo de retorno. São decisões tomadas em círculos colegiais, escrutinadas a nível técnico, financeiro e de risco político. E o clima actual já dissuade e desencoraja, só por si, investimentos de risco em países instáveis.

Depois da enorme confusão de 6.ª feira passada – da atribulada mas curta clandestinidade pós-atentado de Afonso Dhlakama e dos incidentes com a sua segurança –, resta a esperança de que o líder da Renamo, agora na Beira, se encontre com o Presidente da República e que desse encontro saia um entendimento real e sólido. Um entendimento que não se limite à mais ou menos calorosa fotografia celebrativa do costume, mas que seja marcado pela vontade de estabelecer regras de confiança e convivência entre as forças políticas do país. Só assim pode devolver-se a confiança aos investidores e, acima de tudo, ao povo de Moçambique – que, mais uma vez, é a vítima principal de todas estas confusões.(José Nogueira Pinto)

quinta-feira, outubro 22, 2015

Na Taça dos Campeões

O Ferroviário de Maputo, campeão nacional de Moçambique em seniores femininos será o único representante do país nas eliminatórias da Zona VI rumo à Taça dos Campeões Africanos de Basquetebol, cuja fase final terá lugar na capital angolana de 27 de Novembro a 6 de Dezembro.Segundo Palma Pinto, porta-voz do clube verde-e-branco, a equipa deixa Maputo na quarta-feira, 28 do mês em curso com um plantel de 12 atletas. Em Luanda, o objectivo é a qualificação para a Taça dos Campeões Africanos.Segundo o “Notícias”, o Ferroviário estará reforçado por algumas jogadoras do Costa do Sol.Os “locomotivas’’ solicitaram Deolinda Ngulela e Deolinda Gimo, mas o Costa do Sol só cedeu esta última. Ngulela não pode ser emprestada pois é também treinadora do Costa do Sol, pelo que deverá começar a preparar a nova temporada.Como alternativa, ao Ferroviário será emprestado Valerdina Manhonga ou Elizabeth Pereira, outras pedras do plantel do Matchiki-Tchiki.Palma Pinto garantiu que a questão do segundo reforço proveniente do Costa do Sol estava muito perto de ser desbloqueada.Entretanto, segundo ainda o jornal, em masculinos o Ferroviário não vai participar desta competição. Segundo Palma Pinto, a ausência dos “locomotivas” deve-se à exiguidade de fundos. Dito de outra forma, Moçambique não terá representantes em masculinos nestas eliminatórias.

Prazer da distração

Resultado de imagem para costa do sol maputo basquetebolO Desportivo, campeão nacional de Moçambique em seniores masculinos, e o Costa do Sol, vice-campeão em femininos, não vão participar das eliminatórias de acesso à Taça dos Clubes Campeões Africanos de Basquetebol que terão lugar em Luanda, capital angolana, de 29 deste mês a 5 de Novembro. 
O Desportivo não vai à Luanda por falta de ritmo competitivo, mas acima de tudo devido à escassez de recursos financeiros para arcar com as despesas da competição, segundo o presidente da colectividade, Michel Grispos, citado hoje pelo “Notícias”.Em relação à primeira razão, Grispos explicou que mal terminou o Campeonato Nacional em Junho, o clube dispensou os atletas, alguns dos quais foram integrados na Selecção Nacional que participou do Afrobasket em Agosto na Tunísia e dos Jogos Africanos que tiveram lugar em Setembro, na capital congolesa, Brazzaville.Internamente a Associação de Basquetebol da Cidade de Maputo ainda não organizou qualquer competição desde 1 de Setembro, data que oficialmente arrancou a temporada basquetebolística 2015/16, o que faz com que o plantel “alvi-negro” continue de férias e com jogadores sem ritmo competitivo.Na tarde de segunda-feira, a direcção “alvi-negra” reuniu-se para analisar esta e outras questões, tendo-se deliberado em não participar das eliminatórias da Taça dos Clubes Africanos, dada a crise financeira que a agremiação atravessa neste momento, que se alia à falta do ritmo competitivo do plantel principal de basquetebol.
Outro grande ausente é o Costa do Sol em seniores femininos. Segundo Amosse Chicualacuala, presidente do clube, a agremiação que dirige tem quota-parte de culpa porque depois de terminar o “Nacional” em segundo lugar não procurou saber se tinha ou não direito de participar destas eliminatórias.Como consequência, a FIBA-África notificou o clube há um mês e meio com vista a reunir condições para estar nas eliminatórias de Luanda, mas segundo o presidente já era tarde para se organizar o plantel, numa altura em que a espinha dorsal da equipa estava nos compromissos da Selecção Nacional que recentemente participou dos Jogos Africanos e Afrobasket.“Razões financeiras não entram neste caso, apenas as questões organizacionais. Assumimos que não fomos suficientemente atentos ao cenário”, esclareceu para depois ajuntar que o facto de não se estar a competir internamente influenciou de certa forma a tomada desta edição.

Wikileaks pode vazar e-mail do diretor da CIA

O Wikileaks anunciou nesta quarta-feira (21) que obteve os e-mails da conta pessoal do diretor da CIA, John Brennan, e que os tornará públicos. O anúncio foi feito pouco depois de um adolescente revelar que hackeou a conta pessoal de Brennan.O FBI e a CIA investigam o caso que, se verdadeiro, poderia ser uma grande humilhação para a inteligência americana. "AVISO: nós obtivemos o conteúdo da conta de e-mail do chefe John Brennan e logo vamos revelá-lo", avisa a conta oficial no Twitter do Wikileaks. No início desta semana, o jornal "New York Post" informou que um hacker, que se descreveu como um estudante americano, pediu a repórteres para contar suas façanhas. O suposto hacker alegou que o e-mail de Brennan continha arquivos sensíveis.(ISTOÉ)

quarta-feira, outubro 21, 2015

Samora , assim caracterizava o inimigo

"Sempre dissemos: o inimigo pode falar a nossa língua, vestir a nossa farda, comer da mesma maneira que nós, pode dar vivas à FRELIMO, até gritando mais do que nós.O que ele nunca pode, não é capaz, é de ter o nosso comportamento, viver a nossa linha política. Não pode o inimigo abandonar os vícios que o caracterizam. Vejamos quais: o desprezo pela mulher, o espírito de conforto, a ambição pessoal, o alcoolismo. Não é capaz de respeitar o Povo. Não pode deixar de ser tribalista, não pode deixar de ser regionalista, confusionista, divisionista, racista.
Essa é a característica do inimigo.
Não pode ter uma vida simples, praticar a modéstia. Não é capaz de abandonar a arrogância, o culto da intriga, da calúnia e do boato. A sua moral, repetimos, oiçam bem, a sua moral, a sua civilização, é a corrupção.
(...)
E quando os grandes estão corrompidos, os pequenos seguem o exemplo.
Criam-se redes de comprometimento, de amiguismo, de nepotismo. Cria-se um Estado de padrinhos, um Estado de cunhas, um Estado de sócios. Criam-se redes cujo objectivo é o roubo, a corrupção, a violação da legalidade. Quando a situação chega a este ponto, está já instalada a infiltração ideológica. E estão criadas as condições para a infiltração física. A porta está aberta para o inimigo. É um convite para o inimigo entrar."
— Excerto do discurso do Presidente Samora Machel no comício de 5 de Novembro de 1981

Pior político da "casa"

Elegi o Alberto Joaquim Chipande como o expoente máximo da política moçambicana. Agora é hora de eleger o pior político da nossa praça. Não é o Afonso Dhlakama, não senhor! Na minha classificação, este (o "tio" Afonso) nem se quer é político.
Aponto como o pior político em Moçambique o compatriota cuja cara se vê na imagem que acompanha esta reflexão. Sim, ele mesmo, o Sérgio Veria (SV). Este compatriota, veterano da luta de libertação nacional, é um político bastante inteligente e bem articulado, mas usa estas suas qualidades exclusivamente no interesse próprio. As verdadeiras causas defendidas por SV são obscuras e privilegiam o que gera vantagens pessoais para si. Isto é, o SV é um político egoísta.
Na nossa história colectiva, o SV é apontado pelos seus correligionários como sendo alguém que ardilosamente induziu a maioria aos muitos erros de governação cometidos durante a nossa primeira república, a República Popular de Moçambique. Esses erros culminaram com a morte precoce do primeiro Presidente de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, na sequência do despenhamento do jato presidencial (Tupolev Tu 134), ocorrido em Mbuzini, África do Sul, quando a aeronave se aproximava do Aeroporto Internacional de Maputo, transportando o Samora Machel e sua comitiva, idos de Mbala, Zámbia, onde estiveram a participar numa cimeira de Chefes de Estados dos Países a Linha da Frente, destinada a analisar a situação político-militar em Angola. Nessa altura, o SV era Ministro da Segurança!
Numa entrevista concedida por SV à STV, ele apareceu publicamente a dizer que Samora Machel foi vítima da sua própria teimosia ou excesso de confiança. Isto foi considerado um grande contrassenso e severamente contestado pelos camaradas do SV, incluindo eu próprio. Suspeita-se até que o SV tenha dito aquilo como forma de repelir as suspeitas que recaem sobre si, de que ele deve saber mais sobre as circunstâncias que estiveram na origem do acidente aéreo que vitimou Samora Machel. Aliás, é preciso recordar que na sequência da morte ainda mal esclarecida de Samora Machel, o SV foi literalmente isolado pelos seus camaradas, a quem tem passado a vida a criticar ferozmente, quando a tentativa de lhes agradar com beneplácitos (o mesmo que lamber-lhes as botas) não surte bom efeito, como nunca surtiu.
Eu não estou esquecido de que o SV falou muito bem e depois falou muito mal do Joaquim Chissano. Voltou a fazer exactamente o mesmo com o Armando Guebuza. Aos que serviram no consulado de Joaquim Chissano como Presidente da República (PR), o SV chamou de corruptos, ambiciosos. Já aos que serviram no consulado de Armando Guebuza, também como PR, o SV rotulou de "lambebotas". Aqui é oportuno recordar que o actual PR, Filipe Nyusi, foi Ministro da Defesa Nacional no consulado de Armando Guebuza como PR. Logo, para o SV o Filipe Nyusi era, nessa altura, um "lambebota". Estranhamente, porém, quando o Filipe Nyusi foi eleito candidato da Frelimo para a eleição presidencial ocorrida a 15 de Outubro de 2014, o SV apareceu a dizer bem do "lambebota". Que incoerência gritante e descarada! Pergunto-me como se pode confiar num político assim como o SV? Celebra os bons resultados com todos, como seus também; mas quando as coisas correm mal, atira todas as culpas aos outros, como que a querer dizer: "se fosse eu o dirigente, tudo seria melhor do que está actualmente!". Qual melhor qual carapuça?! De facto, quando o SV dirigiu o Gabinete Para desenvolvimento do vale do Zambeze (GPZ), muito dinheiro do erário público foi drenado para aquela instituição, que nada produziu. Ainda ninguém pediu contas ao SV, sobre o seu trabalho no GPZ. Mas ainda vamos a tempo! …

Não obstante as incoerências gritantes e descaradas do SV, as críticas severas que ele tem feito à nossa governação são pertinentes e devem ser levadas a sério no novo ciclo de governação! Repare-se que o SV fica incisivo na crítica quando está fora das funções de direcção. Parece-me, pois, que o SV é mais útil ao seu partido, a Frelimo, quando desvinculados das funções de direcção. Nessa situação ele presta-se muito bem como treinador político da nossa oposição. Pena que esta (a oposição) não saiba aproveitar correctamente as lições políticas gratuitas do SV, que tanto precisa delas para aprender a fazer política construtiva. Afinal, nem tudo o que é pior é inútil!(JJCumbane in Facebbok)

terça-feira, outubro 20, 2015

Novas Vagas

Coincidência ou não, a verdade é que a cidade de Maputo sofreu (e ainda sofre) graves restrições de energia eléctrica logo após o segundo desfile de tiros entre a Renamo e as forças governamentais, danificando ainda mais as relações entre ambos. No dia seguinte ao indesejável episódio ficamos sem corrente nas tomadas, convencidos que no final do dia estaria tudo resolvido. Quando o sol se pós fomos cobertos pela escuridão. Infelizmente, como que a ecoar, tivemos no segundo dia uma espécie de reedição do primeiro. Ao terceiro e quarto dias, na sequência da manutenção da “situação”, mas com a gravidade progressivamente em queda, começamos a perceber que a reposição total da normalidade levaria cerca de mês e meio. Tanto tempo, tanta ansiedade!
Ora bem, a questão da energia eléctrica é crucial para qualquer cidade ou vila dependente da mesma. Não pode ser negligenciada sob nenhum pretexto. A cidade de Maputo não escapa a essa regra. Nos poucos lugares onde a corrente eléctrica criava ou cria alguma satisfação, deu para acompanhar, pela televisão, não só o desespero dos clientes da Electricidade de Moçambique como também, em geral, o quotidiano moçambicano. É que o sumiço da corrente eléctrica está associado aos problemas de fornecimento de água. Sem água, como sempre se repete, não há vida. Uma cidade sem vida transforma-se numa “cidade fantasma”. Torna-se desagradável e multiplicam-se paulatinamente os focos que se podem constituir em potencial atentadoà saúde pública ou mesmo à segurança pública. A vaga de calor, associada ao problema de fornecimento de energia eléctrica, contribuiu para que muitos optassem por um bom mergulho nas nossas praias. Um mergulho que funcionou como uma boa receita para esquecer a nossa paz-podre, esquecer comoo whatsapp pode fazer emergir “verdades inconvenientes” no palco de conflitos político-militares, receita para relembrar que um debate político é tempo perdido quando nele só está uma única corrente de opinião borbulhando os seus desesperos, …esquecer, enfim, que há muita ironia na fervura da paz. Mas agora já não é só a “situação” da energia eléctrica, da paz e/ou “guerra” e das vagas de calor e de deterioração deste e daquele alimento, é também a “situação” da vaga de subidas de preços tsunamizados pelo dólar norte-americano e outros factores. Os impactos, esses, poderão ser minimizados pela folga que cada um conseguir criar no processo do “apertar do cinto”.

Cá entre nós: a vaga da “suposta” derrapagem do metical está a deixar bastante febril a economia moçambicana, está a obrigar-nos a reapertar um cinto que já não oferece novas oportunidades e que, por isso, deve ter um outro nome; está a (re)enervar quem tinha na sobrevivência uma prática diária. Como reequacionar a questão da sobrevivência do cidadão comum que luta incansavelmente por conquistar o lugar de digno cidadão neste ambiente crescentemente severo? Como parar esta subida surda, cega e galopante do custo de vida? Resta-nos sempre, por detrás de uma lágrima, uma nova vaga de esperança por atracar. (Luís Guevane)

Evitar para não afundar

Não é fácil prever o futuro político de Moçambique depois dos acontecimentos da última sexta-feira na cidade da Beira, onde uma equipa da Unidade das Operações Especiais da polícia assaltou a residência do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, desarmando todos os homens da sua guarda. Mas mesmo no meio desta incerteza, é possível imaginar que estes acontecimentos tornam-nos cada vez mais próximos do fim deste conflito entre o governo e a Renamo, pelo menos na sua componente militar. Os acontecimentos foram mais rápidos do que muitos previam e poderão ter aberto o caminho para uma solução definitiva do conflito. Só que essa solução dependerá muito da forma como a Renamo reagir perante a actual situação. A Renamo pode assumir uma postura de cooperação e facilitar dessa forma a solução do problema, ou pode optar por uma postura de confrontação, e por essa via cavar ainda mais o seu próprio túmulo. Se a Renamo não cooperar dentro do quadro criado pelos acontecimentos do dia 9 de Outubro, ela arrisca-se a ser alvo de uma acção mais radical do governo, com consequências que neste momento serão difíceis de imaginar. Não parece, por agora, que tal seja o principal objectivo do governo, mas se a isso forem obrigados, elementos mais radicais dentro da máquina securitária poderão ganhar ascendência sobre os políticos e agirem com mais autonomia para tomar acções mais extremas. Isso não trará benefícios para os moçambicanos, que continuarão a viver na instabilidade e na incerteza. Nunca será admitido publicamente, mas está a ficar cada vez mais claro que os dois ataques de que Dhlakama foi alvo no último mês foram cuidadosamente planeados para fragilizar a Renamo e a sua liderança, e transmitir uma mensagem sobre o que pode vir a acontecer se esta crise for arrastada por mais tempo. A Renamo e Dhlakama podem estar neste momento fragilizados, mas esse, por si só, nunca deve ser o fim. Mesmo nas actuais circunstâncias, Dhlakama deve receber garantias de que a sua segurança nunca será posta em causa, desde que ele aceite continuar a reivindicar os seus direitos dentro do quadro legal. Para isso, deve aceitar o princípio do seu desarmamento da Renamo e da integração dos seus homens em conformidade com o entendimento de 5 de Setembro do ano passado. A oposição, quer dentro quer fora do parlamento deve continuar a fazer parte da equação para a solução dos problemas políticos que o país enfrenta. O diálogo deve prosseguir com honestidade e conduzir a uma situação em que todos os moçambicanos se sintam parte integrante do processo de construção de um Moçambique livre, próspero e democrático. O processo de revisão da Constituição deve prosseguir de forma séria e com a devida profundidade. A legislação eleitoral deve ser melhorada de modo a que as eleições sejam mais transparentes, verdadeiramente livres, justas e credíveis. Isto tudo deve ser feito de modo a que as próximas eleições de 2019 sejam realizadas dentro de um quadro que inclua um novo modelo de devolução do poder para as províncias. Nesta perspectiva, a Renamo, todos os partidos políticos e outros sectores da sociedade têm um papel importante a desempenhar. Não deve haver mais tempo a perder com pequenas querelas políticas que só podem contribuir para afundar o país.


segunda-feira, outubro 19, 2015

Pressentimentos!!!!

A fúria de Jorge Rebelo na Conferencia da ONJ não teve nenhum impacto perceptível nas relações de Carlos Cardoso com o Presidente Samora Machel. Em 1986, Cardoso foi chamado varias vezes ao palácio presidencial para briefings off the recorde com Machel. Durante estas conversas, ele ficou com a nítida impressão de que o Presidente era cada vez mais uma figura solitária. Anos mais tarde Cardoso recordou uma ocasião, quando Machel o chamou a ele e a Alves Gomes ao palácio. Os pormenores desvaneceram-se com o tempo mas Cardoso recordou duas frases espantosas usadas pelo Presidente. “Não tenho estratégia” e “estou perdido”. Mais tarde, Cardoso chegaria a conclusão de que esta conversa era “mais uma indicação de que, por detrás da encenação de unidade na direcção da Frelimo, Samora Machel estava completamente isolado no topo”.
(…)
Machel também perguntou aos jornalistas o que achavam da situação corrente. “(…) Eu disse ao Presidente que a conclusão que eu tinha tirado era a de que eles vão mata-lo”. Machel sorriu. Cardoso mal tinha acabado de falar e ele dizia:” já tentaram. Em Novembro do ano passado (1985), meterem bazucas em Moçambique para me assassinar. Eu sou o obstáculo. Não tenho compromisso. Estou limpo”.
(…)
A 15 de Outubro, Carlos Cardoso escreveu o artigo “Samora: um alvo possível”, no qual ele defendia que, se os militares sul-africanos levassem a cabo as investidas que ameaçavam, então o próprio Presidente podia ser um dos alvos”. O artigo foi submetido a revista Tempo para publicação na edição que sairia justamente a 19 de Outubro. A Tempo amenizou: não eh especulativo, aterrorizador, alarmista? E não publicou.
(…) Uma das primeiras coisas escritas por Cardoso, depois da tragédia de Mbuzine, foi uma homenagem a Aquino de Bragança.”O seu cabelo grisalho contrastava com a juventude das suas ideias e com a permanente inquietude do seu intelecto. Aquino era um anti-conservador por excelência, não cabia sequer nas dicotomias fáceis, esquerda-direita, radical-conservador".

In E Proibido Por Algemas na Palavras. Uma biografia de Carlos Cardoso| por Paul Fauvet e Marcelo Mosse

Samora morreu a 29 anos.....













sexta-feira, outubro 09, 2015

24 horas de Dhlakama

O presidente do Conselho Municipal da Beira, Daviz Simango acaba de sair da residência de Afonso Dhlakama, onde estava a se inteirar da situação. À sua saída disse que esta situação é inadmissível. “os munícipes da Beira estão preocupados assustados e de mau humor, por aquilo que está a acontecer. Tive oportunidade de conversar com o arcebispo da Beira e com um dos mediadores. Dizem que estão a tentar negociar. Não me falaram dos pormenores. A minha posição era de compreender o que está a passar, e como podemos ajudar a evitar o pior. Nós entendemos que os nossos concidadãos devem ter a livre circulação. É estranha esta situação de hoje num Estado de Direito Democrático, sobretudo quando ontem o líder da Renamo saiu das matas e acompanhado até à sua residência. E hoje está cercado. A ideia de desarmar a Renamo em plena cidade é muito perigosa. Fica o trauma nas crianças, nos vizinhos do líder da Renamo e isso não é bom para a nossa democracia. Esperamos que haja bom senso e que a polícia se retire. Esta e a nossa intenção. Ninguém deve ficar aqui a guarnecer a ninguém. O que está a acontecer agora não é protecção. É prisão domiciliária. E isso não pode acontecer. Quis cá vir para depois me comunicar com o Chefe de Estado. Podia ter vindo as primeiras horas mas a situação era perigosa. E nós como políticos ninguém iria nos garantir segurança necessária quando havia tiroteio. Isto não se deve admitir. É uma prisão domiciliária. Não há nenhum mandato do Tribunal. Ou da Procuradoria, lá dentro não encontrei nada disso. A Polícia não pode agir do seu bel-prazer porque recebeu um comando. A questão é: comando de quem e para quê? Desarmar os homens da Renamo à força não é solução. Insistimos que esta situação não pode ser tratada à força. Esta é uma situação de compreensão mútua e nós temos de reduzir os níveis de arrogância. É a arrogância que traz situações como esta que estamos a ver. A confiança já foi quebrada. Continuamos a dizer que o diálogo a dois não é salutar. Não produz testemunhas”.

Comunicado da União Europeia:
Enquanto parceiro de longa data do povo moçambicano, a União Europeia segue com apreensão os desenvolvimentos na Beira. Os esforços empreendidos nos últimos dias com vista a inverter a escalada das tensões militares e a criar um clima de confiança entre as partes arriscam-se a ser postos em causa. Uma solução pacífica e negociada requer um compromisso permanente com a via do diálogo e da não-violência.

Em declarações à imprensa Dhlakama diz que não quer ser protegido por agentes da FIR nem da polícia porque já tentou no passado e só houve problemas. "Quero que saiam da minha casa porque já levaram as três armas com que me atacaram e mais 16 dos nossos guardas". Dentro de instantes um mediador e um agente da FIR irão revistar a casa de Afonso Dhlakama para verificar se ainda há mais armas. Brevemente iremos publicar na íntegra a declaração de Afonso Dhlakama.

Acaba de chegar à residência de Afonso Dhlakama, Maria Helena Taipo, governadora da província de Sofala. Mas está no portão com os mediadores.

Dhlakama acaba de dizer a imprensa que foi cercado porque a FIR queria recuperar três armas que perdeu quando o tentou assassinar no dia 25 de Setembro em Zimpinga. Dhlakama entregou as referidas três armas. Confirma-se assim publicamente que foi mesmo o Governo que tentou assassinar Dhlakama no dia 25 de Setembro. Dhlakama entregou também as 16 armas que estavam na posse da sua guarda pessoal. Dhlakama exige que os seus homens que foram detidos de manhã seja soltos. Neste momento os mediadores incluindo o arcebispo da Beira e Manuel de Araújo assinam o termo de entrega das 16 armas da Renamo ao Governo, na presença da governadora de Sofala. Dentro de instantes iremos publicar a declaração completa do líder da Renamo.

A população voltou a se concentrar ao fundo da rua Vasco da Gama, onde se localiza a residência de Afonso Dhlakama, para assistir ao "evento". A indignação é generalizada. Há homens, mulheres e crianças. Na Escola Primária Palmeiras I aqui mesmo muito próximo, as aulas foram canceladas.

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, pediu a protecção das Forças de Defesa e Segurança, depois dos últimos dois ataques às caravanas do Lider da Renamo que resultaram em mortes e feridos, não se sabendo ao certo quem terá originado tais emboscadas.

Vila da Gorongosa pára para receber Dhlakama. Há corte no fornecimento de energia exactamente quando Dhlakama chegou. Mas a população continua eufórica a cantar: "viemos receber o nosso pai"

Dhalakama já está na sua residência na cidade da Beira no bairro dos Palmeiras II. Da famosa "parte incerta" à cidade da Beira, foram necessárias aproximadamente sete horas. Amanhã haverá uma conferência de imprensa, num dos hotéis da cidade da Beira.

O líder foi pescado pelos religiosos, e com cânticos e orações, na convicção de que os religiosos estavam a agir de boa fé, tiraram - lhe da parte incerta. Chegado à parte certa, eis que se apercebeu que caiu numa verdadeira ratoeira, cuja isca foram os Sengulanes e companhia. Um verdadeiro líder deve conhecer os caracteres do seu adversário. Segundo informações no local, os efectivos da polícia triplicaram, as armas também. As 4 ruas que dão acesso à sua casa estão bloqueadas.O "rider" está dentro da casa. Nem a imprensa foi permitida para aproximar - se do local. Enfim, é Moçambique real buscando a inspiração de Angola.Motivos para dizer que a Paz está cada vez mais distante, e a Religião é verdadeiramente o ópio do Povo.

quarta-feira, outubro 07, 2015

Oficiais da Renamo passam para as FADM

Três oficiais da Renamo, o maior partido da oposição no país, abandonaram a ala militar daquele antigo movimento rebelde, liderado por Afonso Dhlakama, para integrarem as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS). Trata-se de António Barroma, Anselmo Goba e Santos Daniel, todos naturais da província central de Sofala, que há dois meses se encontravam na cidade de Maputo, capital moçambicana, aguardando pela sua efectiva integração nas fileiras da Polícia da República de Moçambique (PRM), facto que ocorreu formalmente nesta terça-feira. O representante do grupo, António Barroma, disse que esta atitude reflecte um desgaste da sua parte e de seus colegas que viviam no mato. Aliás, esta situação constituía um enorme atraso às suas vidas e estava muito aquém da sua expectativa de vida. “Somos ex-guerilheiros da Renamo, ficamos lá no mato e acompanhamos em todas as hostilidades militares entre a Renamo e as forças governamentais, durante dois anos. Quando integrámos a Renamo o nosso objectivo não era de ficar no mato. Por isso, quando o governo anunciou que estava aberto para integrar os homens da Renamo nas suas fileiras achamos que seria uma boa oportunidade”, explicou Barroma, em declarações a Rádio Moçambique.Explicou que a sua decisão foi tomada depois de se aperceberem que a Renamo não estava interessada em integrá-los nas FDS.

“Notámos que estávamos a perder tempo no mato e que se não tomássemos essa atitude a Renamo não faria isso por nós”, referiu. Barroma sublinha ainda que esta é, na verdade, uma réplica da decisão tomada num passado recente por alguns seus superiores que, igualmente, decidiram juntar-se às fileiras das FDS e servir a nação moçambicana . Garantiu que ele e seus dois parceiros convidaram outros antigos colegas a abandonarem as matas e ouvir os apelos do governo, como forma de acabar definitivamente a ocorrência de alguns focos de conflito que ainda se registam em algumas zonas do pais, particularmente na região centro.Os três oficiais juntaram-se a Renamo no passado ano de 2013 e foram então treinados na base de Chicuacha, no distrito de Dondo, província central de Sofala. Foi deste local onde partiram para Maputo, com o intuito de juntarem-se às FDS.

Traços Bíblicos

A par das ameaças veladas que proeminentes figuras do regime proferiram antes das duas últimas tentativas de assassinato do líder da oposição, observa-se um esforço nítido de explicar o eventual desaparecimento físico de Dhlakama como algo inevitável, fatalista, corolário das leis da natureza, a confirmação do que vem enunciado em textos litúrgicos. O recurso à Bíblia é feito amiúde em textos publicados na comunicação social do regime, em género de preâmbulo de homicídio anunciado. O facto terá passado despercebido ao Conselho Superior da Comunicação Social.
Na última edição do semanário DOMINGO, Kandiyane Wa Matuva Kandiya, pseudónimo de um G40 vindo do reinado anterior e que, tal como os demais do grupo, mantém a mesma prosa verrinosa, racista e xenófoba – o que implicitamente traduz consentimento ao mais alto nível, expirado que está o período reservado ao arrumar da casa – assinou um artigo de opinião com sugestivo título, sacado do Livro do Génesis, 3:9: “Somos pó e ao pó voltaremos”. Diz o autor que “o dia chegará em que simplesmente seremos um cadáver, depois esqueleto e finalmente Pó, até cairmos no esquecimento de todos incluindo daqueles que nos foram muito queridos nos nossos dias áureos.” E acrescenta: “Então, seria bom, enquanto estivermos conscientes, prepararmos um final condigno para nós próprios do que acabarmos desaparecidos numa mata desconhecida ou devorados por um incêndio.“ Depois de levantar dúvidas quanto ao que considera ser “as chamadas ‘Tentativas de Assassínio do Líder’”, Kandiyane Wa Matuva Kandiya afirma “não entender o que é que um velho caquéctico e pobre de espírito, com os dias bem contadinhos pode deseja (sic) senão ficar rodeado da sua família (mulher, filhos netos, noras e amigos) e gozar os últimos dias na terra que o Senhor seu Deus o deu!”. E remata: “Que o Diabo se encarregue de cuidar dele!”. Um encontro a dois, portanto, se se considerar os recentes pronunciamentos do porta-voz oficial da formação política que tutela o pasquim.
A contrastar, não obstante o cinismo patente em cada palavra escolhida, no matutino NOTÍCIAS, edição de 28 de Setembro, o pastor Marcos Efraim Macamo publicou um ”Ensaio para uma carta pastoral dirigida a Dhlakama”. O Pastor adverte o líder da oposição que tem pela frente três proféticas saídas: “Nós, os dirigentes religiosos e políticos, muitas vezes pensamos que somos eternos e que a nossa existência na terra é soberana. Não! Morreremos, cedo ou tarde vai chegar o dia. Seja por morte natural ou “artificial” ou mesmo numa emboscada!” E assevera o Pastor: ”Chegará o dia.”
A morte por emboscada e a morte “artificial” são duas coisas distintas, depreende-se do ensaio do Pastor Macamo que relega para o leitor a árdua tarefa do enquadramento desse tipo de morte. Será casual, tomando em consideração a douta tese do pneu que estoira e estilhaça chaparias de viaturas? Talvez um dia venhamos a saber ao certo, o que à partida se afigura um caso bicudo quando considerada a tese da penetração horizontal-vertical de estilhaços, defendida por afamado perito em balística e que já antes deixara nome na praça como especialista em aeronáutica. Mas a ciência dos empiristas dá azo a surpresas, podendo muito bem surgir outro perito, do mesmo calibre, a defender a tese da emboscada por penetração à missionário. Alertados, os leitores facilmente concluíram que morte “natural” sugerida pelo prelado insere-se no pagamento de tributo à natureza, como de forma críptica Chipande e M’tumuke haviam antes anunciado.
E prossegue o Pastor, advertindo o líder da oposição de que deve abandonar e esquecer a política. Esta, deduz-se, continua a estar reservada aos melhores filhos do povo: ou eles ou nós. Mas diz Macamo, num mal disfarçado cinismo, dirigindo-se ao “Amado e prezado irmão no Senhor”:
“Vi-lhe (sic) discursando numa das universidades do nosso belo país na capital de Sofala e pude “descobrir” outros dotes naturais de que vós fostes enriquecido a saber: o domínio de conteúdos académicos, o comando gramatical impressionante, a capacidade de gerir o pensamento filosófico e disse eu para comigo: que bênção!” Do simulacro, passa célere o Pastor à normal prática colonial do arranjismo que era – e hoje persiste, e com a bênção de um auto-proclamado representante do Senhor na terra – a de se escolherem lugares para as pessoas ao invés de pessoas para os lugares: “Deus pode usá-lo afinal noutros domínios da existência mais significativos e dignificantes tal como na academia.” Trocando por miúdos: o tachismo do púlpito advogado; entre outros ismos, como o bilinguismo a ilustrar a versatilidade do pastor: “Vós já dissestes tudo quanto lhe corria na alma, já o fez à força e também duma forma intelectual. ‘Now relax! Please do relax’!”
Refira-se que o Pastor Marcos Efraim Macamo é secretário-geral do Conselho Cristão de Moçambique, versão eclesiástica de organização democrática de massas, bastante próximo do poder já desde os tempos de Isaac Mahlalela. Fazendo tábua rasa das perseguições movidas contra igrejas e crentes, do confisco de bens de ambos, do devassar e da profanação de templos e locais de culto, da "solução final" advogada pelo regime para com conhecida confissão religiosa durante a etapa stalinista do «processo», o Pastor Macamo revela algo, até agora desconhecido de todos: “Depois da Independência Nacional, a Igreja continuou oferecendo os seus filhos para assumirem os papéis de grupos de vigilância; de grupos dinamizadores e ofereceu quadros da OMM.” E explica: “Sim, falo daquelas carismáticas senhoras da OMM, oriundas das diversas denominações como sendo católicas e protestantes, as quais tomaram conta do recado e organizaram o povo. Aquelas carismáticas senhoras que asseguraram a revolução foram formadas, forjadas e moldadas pela igreja.” Plagiando o dirigente máximo, o Pastor, agora envergando o hábito de comissário político, conclui: “Compatriotas! ‘A FRELIMO Ė O POVO – É OU NÃO Ė?’ Somos nós! Ė a própria IGREJA: Falo da Frente de Libertação de Moçambique.”

Escutando-o, um Estêvão Paulo Mirasse ou um Padre Mateus, arredado do púlpito, um, eliminado sumariamente, outro, mas ambos pela mesma revolução, certamente que se revolveriam de espanto e indignação nas campas rasas para onde foram atirados algures nas matas do remoto Niassa.

terça-feira, outubro 06, 2015

Serviço mau e não transparente

Moçambique é um dos maiores produtores de energia eléctrica da África Austral. Apenas se situa atrás da África do Sul, que é um dos maiores produtores de energia eléctrica africanos e do mundo. Com capacidade instalada para produzir 2 233MW (2013/14), Moçambique supera países como Angola, Zâmbia, Tanzânia. Esta produção energética elevada deve-se, quase que em exclusivo, à Hidroeléctrica de Cahora Bassa, responsável por cerca de 2 075 da produção total (2014). A Electricidade de Moçambique produz o remanescente. A HCB, segunda maior barragem da África e uma das 10 maiores do mundo2 , está numa fase de produção plena. Com a reversão da Barragem para Moçambique em 2007, a expectativa era de que a energia eléctrica disponível para o país aumentasse e, quiçá, fossem praticadas tarifas mais acessíveis para a população com baixa renda. Isto, porém, não sucedeu. A HCB está presa a acordos comerciais com a ESKOM, que obrigam a empresa nacional a vender mais da metade da sua produção para a empresa sul -africana. Para Moçambique resta uma quota reduzida (cerca de 25% da produ- ção nacional), que não satisfaz as necessidades nacionais de consumo energético. Esta é uma das razões que fazem com que, apesar da grande produção da energia eléctrica no país, os moçambicanos estejam entre os piores da região no acesso à electricidade, como mostra o gráfico 1. É verdade que de ano para ano tem crescido o número de pessoas com acesso à energia eléctrica no país, tendo passado de 219 407 consumidores, em 2002, para mais de um 1 100 000, em 2013. Este aumento, entretanto, não se beneficiou muito da reversão da HCB do Estado português para o Estado moçambicano. A média anual de novas ligações à corrente eléctrica não cresceu com a reversão da HCB, tal como não aumentou, significativamente, a quantidade de energia eléctrica que a HCB disponibiliza para o país. O gráfico 2 mostra a evolução de novas ligações e de clientes da EDM antes e depois da reversão da HCB.Os detalhes AQUI.

Dhlakma confirma contactos com o Governo

Como está e onde?
Estou em Moçambique, na província de Manica, em particular no distrito de Gondola, onde houve aquela tentativa de me assassinar, no dia 25 de Setembro. Aliás, antes, houve outra tentativa, a 12 de Setembro, naquela zona de Zimbata, em Vandúzi. Em menos de um mês, tentaram acabar com a minha vida, mas, porque Deus é grande, não foi possível, porém, morreram meus seguranças. Estamos aqui para continuarmos a missão de trabalhar em prol da paz e democracia no nosso país. É a missão que recebemos há anos, décadas e décadas, não é hoje que nos impedirão de assumir as nossas responsabilidades, porque há gente de má-fé que quer acabar connosco.

Desde 25 de Setembro, não saiu mais de Gondola. continua em Gondola?
É quase isso. Por razões de segurança, estou em Gondola, não posso andar para nenhum sítio. quando digo Gondola, não estou na vila...

Naquele ataque, foi ferido ou não?
Não, estou bem. embora esse ataque fosse dirigido a mim, felizmente - digo felizmente porque não fui atingido - estou bem. Embora haja feridos ou mortes, alguém estava a telefonar-me ontem, porque teria recebido informação de que fui atingido numa das partes do meu corpo. Mas disse que não, que estava bem e que não havia razões de esconder, caso estivesse ferido. Por acaso não fiquei ferido, estou bem!

Gostava de saber se desde  o dia 25 houve algum contacto do governo ou há alguma negociação?

Temos o governo que existe. O governo da Frelimo é responsável por isto, embora tente desmentir. Mas é uma pouca vergonha, porque todo o mundo vê, o povo moçambicano evoluiu muito, já não é o povo de 1975. hHoje, com facebook, internet, as pessoas filmam; um miúdo qualquer filma o combate e põe na internet, nas redes sociais de todo o mundo. Respondendo à sua pergunta, sim, estamos em contacto. E há um grupo que nós criámos aí em Maputo. Está incluso o chefe do meu gabinete, o Mateus Augusto, outras pessoas que estão em contacto com o governo, assim como os mediadores, aqueles facilitadores grupo de Dom Dinis Sengulane, o Lourenço, Chembeze, Padre Couto, e vamos convidar também alguns jornalistas, como da Stv, para testemunharem a minha saída. Estou bem e preparado para continuar a trabalhar, é a missão que tenho. Ainda ontem, estavam a encher mais efectivos no interior de Gondola, saíam de Chimoio com mais viaturas, e isto fez com que, de facto, atrasasse mais, porque já havia um dia indicado em que eu poderia sair com mediadores, jornalistas e outros... Não é por ter medo, é bom que haja testemunhas a ver-me sair, porque também não sou um miúdo qualquer, sou uma pessoa que escapa à morte duas vezes em menos de 30 dias. Eu sou um ser humano, tenho direito à vida e preciso também que as pessoas sintam que algo estava para correr mal. Mas por causa dos efectivos que andaram aqui das Forças Armadas, FADM, Intervenção Rápida, alguns escondidos nas esquinas, achei (melhor) dizer que não, vamos estudar outras vias, mas dentro em breve estarei na cidade, para continuarmos o nosso trabalho. Mas dentro em breve, Mandlate, dentro em breve, porque não há guerra, é uma coisa que você deve gravar e pôr em cheio, para os moçambicanos se sentirem tranquilizados. Eu não estou aqui no mato a planificar a guerra. Depois daquele ataque, para evitar o pior e tudo, e porque os meus membros podiam  enervar-se e começar a reagir de uma maneira descontrolada, decidi não continuar a viagem a Nampula ou a Beira e entrei no mato, isto é, sempre estrategicamente, para evitar o perigo. Não é porque estava a fugir da morte, porque o combate começou às 11h00 e até às 18h00 e eu estava no sítio, tranquilamente, a comandar os nossos homens para contra-atacarem os das FADM, para capturar armas. Houve muitos mortos, nós perdemos um número de 14 pessoas, tanto motoristas como os meus seguranças, e eles perderam centenas. 
Resultado de imagem para afonso dhlakama em gorongosaEmbora estejam a esconder, havia alguns coronéis feridos da Frelimo, aí de Maputo mesmo. Mas, pronto, a responsabilidade é deles. Dentro em breve estarei aí, deixe as pessoas ouvirem a minha voz, é o Dhlakama que está a falar e disposto, como sempre. não estou no mato a fazer a guerra, isto podem tirar mesmo da cabeça, tirar mesmo. Se eu quisesse, Moçambique já estaria a arder, não há interesse nisso. A minha idade... já não sou jovem. Cresci na guerra, esta democracia dependeu de luta e de sacrifício. Sinto-me muito emocionado, já há liberdade de um povo, já há parlamento a funcionar, existe investimentos, já há economia de mercado, já há partidos novos, a pena da morte acabou, as aldeias comunais acabaram, guias de marcha acabaram, campos de reeducação... tudo desapareceu, pelo menos há um bocado de liberdade de imprensa. Isto deveu-se também ao sacrifício da minha juventude. Portanto, Mandlate, eu quero dizer-te: não tenho intenção de me vingar desses ataques, claro que tenho que ser prudente, sou um ser humano, tenho família, tenho filhos, os meus filhos, por eu estar no mato, ligam todos os dias a chorar. Mas eu não sou escravo da Frelimo. Quero garantir que eu, entanto que Dhlakama, embora seja líder da rebeldia moçambicana e de tudo, não vou vingar-me com guerra, mas com a luta pacífica, com discursos, comícios, diálogo, palestras e tudo. Entanto que um líder, eu vou continuar, porque é preciso que Moçambique continue a ter um homem como Dhlakama.