quarta-feira, abril 28, 2010

Partidarização

Os índices elevados de violência na sociedade cabo-verdiana estão a preocupar o Primeiro-Ministro que, neste final de semana, voltou a falar sobre essa questão. José Maria Neves que abordou o papel dos políticos, concluiu que a excessiva partidarização da sociedade e o discurso demasiado agressivos de muitos políticos são factores que contribuem para o aumento da violência.
De acordo com José Maria Neves, a sociedade cabo-verdiana está "excessivamente partidarizada". E explica que "quase tudo que é feito em Cabo Verde é depois transformado em discussão político partidária". Para o Primeiro-Ministro esse fenómeno cria um ambiente "de alguma exclusão, de alguma discriminação e de algum medo". E para José Maria Neves esse facto tem a ver com a falha dos políticos que não têm sabido exercer o seu papel pedagógico. Muito pelo contrário, "os discursos dos partidos políticos cabo-verdianos e dos políticos cabo-verdianos, pela sua agressividade têm contribuído um pouco para aumentar a violência na sociedade cabo-verdiana", aponta. Daí que apela para a necessidade de todos fazerem a avaliação dos seus discursos, das suas atitudes, dos seus actos. Isso, "para podermos valorizar mais a vivência democrática em Cabo Verde, combatermos a violência que existe na nossa sociedade, para termos mais tolerância, mais diálogo, mais respeito na sociedade cabo-verdiana". No que cabe ao Governo, considera, este tem cumprido o seu papel na questão do combate à violência e à criminalidade, embora esteja consciente de que é preciso fazer mais. Contudo, apela mais uma vez, não se pode "olhar exclusivamente para o Governo, pois essa é uma questão que interpela a toda sociedade. "Porque o Governo vai tomando medidas, mas se as outras instituições não funcionarem nunca conseguiremos debelar esta situação", frisa. Mais uma vez, Neves exalta a importância das famílias, como peças cruciais nessa questão, já que cabe a elas a responsabilidade maior na educação e formação dos seus filhos, para que não enveredam para os caminhos tortuosos da violência e da criminalidade. "E as famílias?", pergunta. Mas também há as outras instituições, "as igrejas, os órgãos de comunicação social, e o Governo, temos feito tudo?!", questiona José Maria Neves. E conclui que é preciso que todos juntos se questionem e possam encontrar respostas conjuntas a essa problemática,"fazer uma reavaliação, ver o trabalho que cada um de nós tem desenvolvido, no sentido de combatermos efectivamente a violência em Cabo Verde!".
Na mesma ocasião, José Maria Neves foi questionado sobre o significado do 13 de Janeiro,(dia de reflexão e avaliação da democracia) e respondeu que esse deve ser um dia de reflexão e avaliação sobre o processo democrático em Cabo Verde e que esta data deve ser comemorada por todos. "O 13 de Janeiro não é património de nenhum partido", afirma o Primeiro-Ministro. No que concerne à democracia cabo-verdiana, Neves reconhece a necessidade de maior intensificação e que falta "cumprir a promessa de mais igualdade, bem como expandir os espaços da liberdade e combater a exclusão social em Cabo Verde". O Chefe do Executivo considera ainda que é preciso que as escolas e os órgãos de comunicação promovam mais debates que contribuam para a interiorização dos princípios e valores das datas históricas enquanto referências para o país. Os próprios políticos devem assumir um papel mais pedagógico nesse sentido. (Fonte: página oficial do Governo da República de Cabo-Verde,18-jan-2010 )

domingo, abril 25, 2010

Régulos com salários

Os régulos ou autoridades locais vão custar este ano aos cofres do Estado moçambicano cerca de 138 milhões de meticais, (4,6 milhões no câmbio de 30 Mts/USD). Os régulos são normalmente indivíduos oriundos de linhagens respeitadas e são designados pelas suas famílias. Não é suposto serem ditadores autoritários mas antes consultores e juízes que controlam as questões políticas das suas comunidades. A sua governação é reforçada pelos curandeiros tradicionais, que fazem a mediação entre os espíritos e o mundo material, o passado e o presente, comunidades e seus antepassados. Os líderes tradicionais trabalham com os curandeiros no sentido de resolver litígios, manter a saúde das pessoas e aumentar a quantidade de proveitos oriundos da terra. Nampula, por exemplo, com 4 076 642 habitantes, é a província que vai receber o valor mais alto para subsídios às autoridades comunitárias. São no total 18.981.450 meticais para uma província com 21 distritos que ocupam uma área de 78.197 km2.O município da Beira vai pagar, aos régulos do primeiro escalão (são cinco no total) 500 meticais men­sais, fardamento, uma mota e um telemóvel.Os de segundo escalão recebem 300 meticais men­sais, fardamento, bicicleta e telefone . Os do último es­calão têm direito a 200 meticais mensais, farda­mento, bicicleta e telefo­ne celular. A figura da autoridade tradicional, já não é a de “fantoche” e uma criação do governo colonial português, um processo histórico que inicia na decada de noventa com o reco­nhecimento político. Na altura a guerra movida pela guerrilha da RENAMO estendia-se até aos principais centros urbanos de Moçambique, em parte facilitada pelos régulos descontentes com o seu abandono após a idepencia nacional. A entrada do século XXI passa-se para o legal, através do Decreto nº15/2000, do Con­selho de Ministros, que aprova as formas de articulação dos órgãos locais do Estado com as autoridades comunitárias. Aconselha-se a leitura de um estudo de autoria de Sérgio Chichava com o título “A Frelimo e poder tradicional durante a luta anti-colonial na Zambézia e divulgado pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto.

terça-feira, abril 20, 2010

Martin Noij

O mau comportamento das pessoas para com as outras, constitui um desrespeito que se inicia no lar, quando os pais não têm educação suficiente para mostrarem aos seus filhos, formas de bem proceder, a prática do respeito mútuo, a ajuda uns para com os outros, e a compreensão que se têm que ter para a união de todos. Esta é uma condição de vida que nem todos assumem, mesmo aqueles que pela sua instrução e vivência aparentam caminhar nesse sentido. Agora veio a saber-se ainda que pelos bastidores que o cidadão holandês Martin Noij não cultivou uma imagem de relações de respeito mutuo. Fora dos olhares atentos da comunicação social, aquele que foi responsável pelo regresso de Moçambique a alta roda do futebol africano, não exitou em alguns momentos quebrar as regras de boa educação. Levantar-se para cumprimentar os responsáveis da Federação não cabia na sua condição de trabalhador contratado, dizendo que o seu salário era pago (é verdade) pelo Ministério da Juventude e Desportos. No rol das contradições tendo a meio interesses outros de quem dirige a FMF, o então seleccionador nacional fazia questão de dizer que o único que o poderia “mandar” embora era o Presidente da República. A sua arrogância, interpretada no campo desportivo pelos jogadores como de rigor e exigência, não foi gerida fora das quatro linhas de igual forma. Dias antes do inicio do campeonato africano das nações em Angola, o Chefe de Estado recebeu a selecção nacional e foi aí onde o caldo entornou. Segundo as testemunhas presentes no Gabinete de trabalho do mais alta figura do Estado Moçambicano, Martin Noij foi a única pessoa que não se dignou a levantar-se na apresentação individual. Não se pode dizer que este senhor não é evoluído, mas, que é um exemplo que não deve ser seguido, pois o desrespeito é o que impera na sua mente. Pelo que foi visto, o desrespeito sustenta a ideia de se apresentar de diversas maneiras estando patente as desigualdades entre ricos e pobres, entre pretos e brancos, entre sociedade e marginais, e muitas outras formas de desrespeito mútuo.

quarta-feira, abril 14, 2010

Samora Machel : cidade da Beira 1975

Vão tentar nascer aqui em Moçambique capitalistas pretos - a chamada burguesia nacional, aqueles que tem vocação capitalista. Agora com chegada da independência, estão a deitar a barba agora, não é ? (aplausos) Ganância de fazer ressuscitar o colégio Luís De Camões. Agora que foi... que faliu o dono, vou ser eu. Como sou preto vão tolerar explorando outros pretos, hem? (Aplausos). É que no sistema capitalista o médico quando estuda é para explorar. O médico, o médico não quer fazer outra coisa que não fazer votos para que haja mais doentes. Havendo mais doentes ,terá muito dinheiro, ouviram ? Ouviram? Ouviram? Agora o conhecimento é um instrumento explorador no sistema capitalista.O conhecimento do indivíduo que estudou um pouquinho ou licenciou-se bem, tem o seu diplomazito, pronto, esta pronto, esta autorizado a explorar, faz lá...segue as...seguiu lá...letras.É o Senhor Doutor, chegou aqui o Sr Dr., Sr Dr., Sr Dr. ..Doutor de explorar, ouviram? Ouviram? Ouviram? Nao é Dr. Para ensinar o povo .Dr aonde também,com um conhecimento bastante reduzido, pequenito, fraco, débil, que necessita de outros, do apoio dos outros. Ele não produz, senão uma repetição daquilo que foi inculcado pelo capitalismo. É uma repetição, não cria absolutamente nada porque está isolado do povo, está isolado da pratica. A primeira ganância, primeira ganância, criar colégios. Quem vai a esses colégios? Quem lá vai? Quem lá vai? A escola deixa de ser a base para o povo tomar o poder. É ou ñ é? (é),passa a ser um instrumento de exploração. É ou ñ é? (é).Não queremos em Moçambique, não queremos isso em Moçambique. Não há lugar para exploradores aqui. Preto ou branco não pode explorar o povo. O dever de cada um de nós é dar tudo ao povo.Sermos últimos quando se trata de benefícios, primeiro quando se trata de sacrifico. Isso é que é servir o povo, ouviram camaradas? Ouviram? Alguns já estão a organizar para comprar 10 tractores. Já exploram a zona onde irão produzir. Não é assim? Não há produção individual em Moçambique. Produção colectiva, para colectivamente matarmos a fome, matarmos a miséria no nosso país. Ouviram ? Ouviram? Ouviram? Porque estes individualistas são ao mesmo tempo instrumentos do imperialismo, não são eles? Onde vão encontrar o dinheiro? Vocês todos são pobres aqui. Daqui a três anos nós vamos ver alguns a levantar edifícios de 15 andares. Onde arranjou o dinheiro? Hem? Não é vocês aí! Vocês aí, e nós também aqui. Estou a dizer a vocês e nós também. Se eu levantar um prédio, façam favor de me perguntar. Ouviram? Perguntar, então camarada Samora aonde arranjou o dinheiro? Três anos? (Risos,aplausos). Três anos de independência! Camarada Samora,então onde esta o povo agora? O povo também já tem muitos prédios? Estão a ouvir? Estão! Temos de combater contra os exploradores do povo ,e se pudermos liquidar ainda no estado embrionário, matar o pintainho no ovo, hem? (Dificuldades de tradução provocam comentários e risos na audiência). Viva a Frelimo! A luta continua! Independência ou morte (Venceremos)

segunda-feira, abril 12, 2010

Pedofolia, suas causas e remédios

O escândalo de pedofilia que se espalhou pela Igreja Católica dos Estados Unidos e da Europa chega também ao continente africano, afirmou o arcebispo de Johanesburgo e chefe da Conferência Episcopal da África Austral, dom Buti Tlhagale. Acrescentou ter recebido ao menos 40 queixas de abuso sexual de crianças cometidos por padres africanos desde 1996, a maioria casos ocorridos há muitos anos. Mais da metade das denúncias envolveu mulheres na adolescência. "A imagem da Igreja católica está bem arranhada (...)fomos incapazes de criticar o comportamento imoral dos membros de nossas respectivas comunidades. Estamos paralisados", criticou dom Tlhagale, considerando que o escândalo enfraquece a habilidade da Igreja Católica de agir com autoridade moral na África, onde muitas vezes é a única voz a desafiar ditaduras, corrupção e abuso de poder. Segundo o arcebispo, a má conduta dos sacerdotes africanos não foi exposta pela mídia com a mesma "visibilidade" que no resto do mundo. "Muitos dos que consideram os sacerdotes como modelos se sentem traídos, envergonhados e decepcionados", afirmou dom Tlhagale, ao reconhecer que esses escândalos foram mal administrados pelo clero. A Conferência Episcopal África Austral, estabeleceu em 1996 um protocolo que define o procedimento em caso de queixas de abuso sexual contra crianças cometidos por um membro do clero. O continente africano é uma das regiões de mais rápido crescimento do número de católicos tendo aumentado de cerca de 2 milhões em 1990 para a 140 milhões em 2000. O padre Chris Townsend, porta-voz da Conferência Episcopal, disse que alguns membros do clero chegaram a ser formalmente acusados e que medidas foram tomadas (leia aquí o contexto do título). (O celibato, contudo, é desaprovado em algumas sociedades tradicionais africanas e há vários relatos de padres com amantes e filhos em partes da África.