sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Quem quiser ser objectivo e sincero, intelectualmente honesto só pode encontrar as causas dos cancros que corroem este belo e martirizado país num só lugar: na política de exclusão engendrada pelo partido FRELIMO. Teimosia e intolerância, apropriação pura e simples de um país em nome de um suposto direito que advém do facto de seus dirigentes terem participado na luta anti-colonial. Desprezo total e completo dos outros e implantação de um regime baseado no medo, na repressão e na proibição do direito à informação, reunião. Se temos na actualidade algumas liberdades e se nos é permitido escrever e falar publicamente é porque depois de uma sangrenta e longa guerra civil os estrategas da Frelimo decidiram que tinham já montado um esquema que garante a esta continuar a controlar o país através da monopolização de áreas vitais da economia. Petróleo, banca, telecomunicações, construção civil, importação e exportação, tudo está sob controlo estreito da Frelimo através de seus pontas-de-lança. Se hoje paira uma aparente tolerância à existência de oposição política esta não pode ser interpretada como benevolência da Frelimo mas sim uma constatação estratégica que esta efectuou. Com a mudança dos equilíbrios internacionais e com a falência de suas “retaguardas seguras” havia que assumir-se esta nova realidade. E dizemos que não é benevolência ou magnanimidade porque a maioria da oposição política ao regime tem sido amolecida e virtualmente comprada através de diversos esquemas que vão desde a infiltração e subversão, marginalização e estabelecimento de mecanismos aparentemente legais para impedir a sua manifestação plena, utilização de dinheiros para silenciar “políticos” de barriga vazia. Este é o cenário real que qualquer diagnóstico sério irá encontrar. A musculatura exibida pelos detentores do poder é a chave dos problemas do país. O controle cerrado que a elite no poder estabeleceu sobre tudo o que é economicamente significativo mina qualquer possibilidade de emergência de uma oposição forte. Fora os financiamentos externos ilícitos às suas campanhas político-eleitorais é preciso dizer que a Frelimo conta com membros que podem pagar quotas e isso se faz num sistema de contribuições mais ou menos tácitas e obrigatórias pois as fortunas destes membros nasceram de jogos de tráfico de influências e autênticas ofertas que foram feitas quando a economia centralizada se desmoronava. Quem beneficia de crédito bancário politizado tem a obrigação de pagar quotas e esforçar-se para continuar a ter acesso a fundos que de outra maneira não conseguiria. Ou não é assim que acontecem as coisas?
Julgo que não estou inventando coisa alguma. “O boi no palácio é bem visível”.
Há exemplos de sobra por este Moçambique todo. Simples escrivães de tribunal de repente se transformam em detentores de fortunas apreciáveis. Vendedores ambulantes e pequenos traficantes viraram empresários de sucesso e com fama de “bosses”. Funcionários públicos especialmente nas Alfândegas e certos departamentos da polícia viram-se catapultados para a alta-roda social. Professores em função nas escolas públicas repentinamente apresentam sinais de riqueza incomportáveis com os salários auferidos. Já para não falar de altos funcionários do estado, PCA’s de empresas públicas, ministros-empresários.
Porquê toda esta tolerância ao manifestamente lesivo aos princípios de organização de um Estado?
Porque tanta complacência e tolerância a actos ilícitos e ao mesmo tempo proclamar-se que se pretende desenvolver o país e dignificar os moçambicanos?
É a farra de quem vive montado nas costas de quem um dia há-de acordar violentamente se não houver lucidez para se evitar já o pior. Um país só pode fortalecer-se e desenvolver-se com o envolvimento de seus cidadãos sob direcção de um governo sério que se assuma servidor do povo. A dimensão e significado de Público, servir o público, respeitar a lei e contribuir para que todos sejam a todo momento iguais perante ela, ultrapassam a esfera partidária.
A nação e a moçambicanidade não são prerrogativa partidária.Tem sido o permanente açambarcamento da verdadeira agenda nacional por uma elite sem visão estratégica que contribui para a corrosão do tecido social nacional e o exacerbar da crise no país. Essa maneira de agir e proceder tem conduzido à alienação progressiva dos cidadãos e a que estes se mostrem pouco interessados em participar nos assuntos que afinal são seus. Embrutecer a juventude e transformá-la em imitadora de padrões consumistas e culturais dos outros é apresentado como desenvolvimento mas faz parte de uma campanha insidiosa de moldar e pacificar mentes. A juventude urbana que alguns queriam ou querem chamar de “geração da viragem” tem rapidamente se transformado numa massa acrítica pouco interessada no debate sério e consequente dos problemas do país. “Pintada de vermelho” e alimentada por uma máquina propagandista que vai buscar recursos aos cofres de empresas públicas, especialmente na telefonia móvel pública, dança ao som de imitações medíocres de aprendizes de “rappers” e imagina-se vivendo em Los Angeles ou Nova Iorque. Esfomeados e embrutecidos, os poucos que conseguem concluir estudos superiores de qualidade questionável são logo recrutados para as “fileiras” de organizações servis e para um Aparelho de Estado onde cada vez é mais clara a necessidade de possuir o cartão vermelho para nele se ingressar. Estes são alguns dos cancros que fazem definhar o país. Estas são algumas das metástases de cancros de origem política implantados cirurgicamente para possibilitar a conquista e manutenção no poder. Nada é fortuito neste campo da política ou do confronto entre os partidos políticos. Existe uma corrida contra o tempo e uma sensação de que os detentores do poder não estão preparados para o futuro e no que diz respeito ao presente não tem qualquer perspectiva de abordagem consequente. Quando parecia que tinham o barco controlado e que tudo estava caminhando ao sabor de seus desígnios, nuvens negras surgem no horizonte prenunciando tempestades. Todos os acontecimentos políticos regionais e internacionais nesta era de grande e rápido fluxo de informações tornam-se preocupações reais e tangíveis em qualquer país. Quem fala de “efeito dominó” ou “efeito de Tunis-Cairo não está mentido pois é uma realidade: as pessoas estão perdendo o medo. É como se de repente homens couraçados, munidos com equipamento tecnologicamente avançado e concebido para controlar multidões enfurecidas tivessem perdido completamente seu poder de dissuasão. Quando na “segura” e inexpugnável Líbia cidadãos desarmados avançam contra a polícia anti-motim, isso deixa o seu efeito psicológico mesmo em governantes que se supunham à margem daqueles processos da África do Norte. É a falta de desenvolvimento ou o desenvolvimento concêntrico eleito política oficiosa que empurram o país para caminhos desastrosos. Aquilo que parecia uma plataforma política válida para governar o país tem se revelado continuamente fonte de desastres, de crises e de crispações crescentes entre os cidadãos governados. Conceitos que pareciam comprovadamente infalíveis estão se mostrando esburacados e incapazes de oferecer orientação tão necessária em momentos de crise. “Cada um puxa a brasa para a sua sardinha” e se havia diferenças de interpretação ou de visão entre gente do mesmo partido agora estas diferenças de interpretação resvalaram para o campo da economia, da política económica, monetária. Aparentemente os cavalos estão puxando o carro para direcções diferentes. De onde deveria vir orientação sábia e apaziguadora surgem verdadeiras contradições que em situação de normalidade governativa já teriam significado a queda ou demissão de figuras ligadas a esta importante esfera da governação. Afinal quem tem razão ou quem está transmitindo as decisões do PR? Quem é que dirige a política monetária do país? O ministro dos “7 milhões” oferecidos estrategicamente, distribuídos para garantir votos eleitorais tem se revelado um orador activo mas sem soluções estratégicas para guiar o desenvolvimento económico nacional. Surgiram no panorama intelectual e político moçambicano experiências muito interessantes e importantes de “think-tanks’ à medida e dimensão moçambicana, produzindo reflexões, estudos e análises de grande valor. O IESE, CIP, CEMO e outros têm sido atentos aos fenómenos nacionais e respondido com grande responsabilidade intelectual e política aos desafios de desenvolvimento actuais. Mas estranhamente os governantes fazem de conta que não tem capacidade de escutar, ler e ouvir. Não aceitam conselhos de ninguém talvez somente dos digníssimos conselheiros internacionais afectos ao PR. Quando não se escuta a voz de quem até já provou que sabe do assunto e que seus pronunciamentos são sustentados por evidências irrefutáveis só se pode considerar de estranho, descabido e um atentado contra a verdadeira agenda nacional.
Uma alta de preços de mercadorias agrícolas cuja produção é perfeitamente viável no país vai afectar a estabilidade nacional e poderá ser a causa de levantamentos populares. Isto é um facto e não invenção conspirativa. Se os especialistas apontam e aconselham determinadas acções e quem deveria pelo menos escutar e dialogar com eles não o faz, que se pode dizer dessa maneira de agir?
Moçambique pode voltar a ser produtor de excedentes agrícolas e aliviar a pressão que as importações de alimentos exercem na sua balança de pagamentos. Existem tecnologias conhecidas, experimentadas e acessíveis. Existem recursos humanos em qualidade e quantidade para abordar a questão de escassez de alimentos. Não existe enquadramento empresarial nem estruturação bancária que possa sustentar as acções do fomento específico necessário. Aí e por aí se deveria avançar. Mas primeiro é necessário que quem governa entenda e aceite que precisa dos moçambicanos que dominam este dossier e colocá-los ao serviço da causa nacional independentemente de suas cores ou crenças partidárias…Mas isso estragaria o negócio de muitos que abocanharam o poder político com a sua ignorância. (Noé Nhantumbo)

0 comments: