segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Morreu o primeiro vice do BM

O Dr. Carlos Adrião Rodrigues foi o primeiro vice-governador do Banco de Moçambique criado logo após a independência. Foi nomeado pelo primeiro chefe de Estado moçambicano, Samora Machel. Na altura era governador do Banco Central o Dr. Alberto Cassimo, falecido em 1980. Adrião Rodrigues (1929-2011), nasceu em Lisboa a 2 de Junho de 1929. Fez parte dos estudos liceais em Lisboa e em 1945 veio para Moçambique, onde se encontravam seus pais. Em Lourenço Marques (hoje Maputo) completou o ensino secundário e depois voltou a Lisboa para se licenciar em Direito. Findo o curso, regressou a Moçambique e abriu um escritório de advogado em Lourenço Marques. Foi membro do Grupo dos Democratas de Moçambique, de que faziam parte, entre outros, os Drs. António Almeida Santos, actual presidente do Partido Socialista Português, João Afonso dos Santos, William Pott e Heliodoro Frescata. Nos anos 60, foi várias vezes presidente do Cineclube de Moçambique e director da revista Objectiva 60, órgão dessa agremiação. No Tribunal Militar defendeu vários réus acusados de actividades subversivas, designadamente estudantes universitários que lutavam contra o regime colonial, da então Universidade da Lourenço Marques, hoje Eduardo Mondlane, e os escritores Vergílio de Lemos, José Craveirinha e Luiz Bernardo Honwana. Adrião Rodrigues foi também um dos advogados do processo que julgou dois sacerdotes detidos na Beira pela DGS, acusados de “crime contra a harmonia racial”. Sobre este assunto publicou – com outros advogados do caso (João Afonso dos Santos, António Pereira Leite e William Gérard Pott) – um livro intitulado O Julgamento dos Padres de Macúti (Porto, 1973), na Beira. Foi ainda advogado dos sacerdotes espanhóis Alfonso Valverde Léon e Martin Robles, que estavam presos por terem denunciado às autoridades portuguesas alguns excessos militares sobre as populações civis, na zona de Tete. O julgamento chegou a estar marcado mas depois da denúncia da chacina CANDIDATOS A DEPUTADOS OPOSICIONISTAS de Wiriamu e da visita de Marcello Caetano a Londres, foram amnistiados do crime de que eram acusados. Esta amnistia foi considerada a maior, em termos de pena aplicável, jamais produzida no Estado Novo. Depois do 25 de Abril, no período que antecedeu a independência de Moçambique, fez parte de um Grupo de Democratas de Moçambique – que nada tinha a ver com o anterior do mesmo nome e cujo objectivo era a independência do território e o apoio à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) como legítima representante do povo moçambicano.Nomeado pelo Governo de Transição, pertenceu à comissão administrativa do Rádio Clube de Moçambique, que transformou em Rádio Moçambique. Em 1975, foi nomeado, pelo Presidente Samora Machel, vice-governador do Banco de Moçambique, cargo de que se demitiu em 1977 por desacordo com a política do governo da FRELIMO, em particular relativamente à atitude para com as minorias étnicas. Regressou então a Portugal, dedicando-se à advocacia. Nos anos 80, foi administrador da RDP. Publicou alguns trabalhos jurídicos, designadamente Código Civil Português Com as Novas Alterações (Lisboa, 1977) e, em colaboração com João Afonso dos Santos e J. Martins de Almeida, Código Administrativo e Estatuto Disciplinar, Actualizados e Anotados, com Legislação Complementar Incluindo a Legislação Eleitoral das Autarquias Locais (Lisboa, 1979) e Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes da Administração Central, Regional e Local (Lisboa, 1979).

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