sábado, fevereiro 19, 2011

Negociantes de missangas

Todos os anos, desde há vários anos, talvez décadas, ouvimos que o País precisa de mobilizar investimentos. Ministro para aqui, ministro para ali, funcionários do Centro de Promoção de Investimentos a viajar por tudo o que é lugar, jantares, almoços nos melhores restaurantes do País e do Mundo, apresentações públicas e mais apresentações quase todos os dias dentro e fora do País, conferências de imprensa espectaculares, um vaivém enorme de figuras do Governo e de instituições públicas para vários destinos, missões particulares e oficiais de outros países de visita a Moçambique, tudo isso tem acontecido para criar a ideia de que tudo vai ser um mar de realizações no nosso País. Mas os resultados não correspondem ao movimento que tem havido e muito menos correspondem ao enorme investimento público que se tem feito em Moçambique para convencer e mobilizar os tais investidores. Gasta-se mais no espectáculo para criar a ilusão de progresso do que se vê de progresso real. Os estudos do Instituto Nacional de Estatística já provaram isso. Os anos passam e os mesmos grandes projectos continuam a ser a “montra” de realizações que já são há vinte anos. E ainda para mais nada rendem ao Estado. O que parece progresso, o que mais ilude, são carros em segunda mão, a sucata ou quase sucata do Japão e do Dubai…
Vai havendo uma coisita aqui e outra acolá, mas no computo do movimento e do dinheiro gasto a promover investimentos – falamos sobretudo dos fundos públicos – o que se vê de investimento real é praticamente nada para o que o País precisa. O povo continua sem emprego e sem trabalho. Cada vez há menos oportunidades. As oportunidades são cada vez mais sempre para os mesmos que se apoderaram do Estado falcatruando eleições, subvertendo a natureza das instituições e enganando o Povo que já nem sequer vai votar, como convém a quem quer continuar a aldrabar que em Moçambique existe uma democracia. A miséria aumenta em vez de diminuir. A mentira alimenta o dia-a-dia do País. O que se vê são apenas números bonitos, estatísticas muito bem elaboradas a esconderem cada vez mais a miséria e a fome. Os investidores sérios afastam-se. Os que trazem no seus currículos (curricula) as maiores manchas de outros horizontes por onde andaram e por onde até alguns deixaram poucas saudades, “aterram” em Moçambique e são recebidos de braços abertos. Assim se alimenta a “industria do suborno”, assim os funcionários se vêem ressarcidos dos fracos salários que o Estado lhe paga e assim se iludem. Assim se alimenta o patriotismo frelimista…
Aos nacionais e estrangeiros sérios, que querem investir em Moçambique e desenvolver o País, só se criam dificuldades. A quem quer investir poupanças que muito custaram a acumular, aos sérios, com provas dadas, só se criam complicações. Pela frente encontram barreiras que mais parecem obstáculos inventados por mafiosos que usam o poder político para beneficiar os seus projectos pessoais e impedir a concorrência sã. Acaba-se assim por impedir o desenvolvimento do País. Dificulta-se a criação de mais postos de trabalho. Mas isso eles resolvem com espectáculos de “patriotismo”, falsos espectáculos como o mais recente de evocação de Samora Machel para desviar as atenções do Povo dos problemas reais que afecta a esmagadora maioria da população. Se Samora estivesse vivo morria por saber onde chegou o descaramento dos seus velhos camaradas. De tantos “chairmen” que assassinaram, só porque queriam o capitalismo, que nunca roubaram como hoje se rouba, o que faria Samora se fosse vivo?
Se Samora hoje fosse vivo, fuzilava os “chairmen” ou os seus camaradas?
São muitos os exemplos que poderíamos citar. Basta olharmos para a primeira página do jornal diário, o oficioso “Notícias”, para concluirmos que vivemos num País de futurologistas e de constantes falsas promessas. É comum, é vulgar, é corriqueiro lermos que se vai investir aqui e acolá tantos milhões de dólares ou euros – agora até às vezes yenes – mas depois pouco ou nada acontece e o pouco que acontece nunca acaba bem, como por exemplo o já famoso Estádio Nacional do Zimpeto que não tem condições para num jogo de futebol se poder marcar um canto…
Compare-se isso ao custo do empreendimento no Zimpeto e pergunte-se mais uma vez como se pergunta relativamente à Linha de Sena: onde andou o governo quando a obra estava em curso? Com problemas em cada metro de balastragem, nas várias centenas de quilómetros da ferrovia, como agora se propagandeia, onde andavam todos ceguinhos que agora querem transferir toda a culpa para os indianos? É apenas xenofobia?
Um ministro e um vice-ministro do Desporto é pouco para evitar o que aconteceu ao estádio? O Ministério das Obras Públicas não é para tratar das Obras do Estado? Porque razão existe um Ministério das Obras Públicas e depois cada Ministério trata das suas obras. É para ninguém comer no prato do outro?
Quanto se terá gasto em fiscalização para depois o resultado ser tão cómico?
Responderão depois da asneira feita que ainda há tempo para se corrigir o que está mal antes dos Jogos Africanos. Mas isso é custo adicional. Quem restitui o que se gastou a pagar a pessoas que andaram distraídas a tal ponto que deixaram chegar ao ponto ridículo a que chegaram as características da obra do Estádio Nacional do Zimpeto? O governo aceitou, sem que ela esteja em conformidade com as exigências das regras desportivas e a culpa é dos chineses? Quem aprovou o projecto? Mais uma vez xenofobia?
De tantas promessas de investimentos que se ouve, se acontecesse tudo o que se anuncia, talvez “Sua Excelência”, que anda sempre com a “marrabenta” do “combate à pobreza absoluta” na boca, sempre ajudado por um coro de “papagaios”, bons de retórica mas muito maus concretizadores, teria placas com o seu nome gravado por tudo o que fossem realizações e não cairia tanto no ridículo como está a suceder. Em resumo, empreendimentos que só têm alimentado o role de promessas falsas para fazer o povo viver sempre na expectativa de que vem aí dias melhores, mostra bem que não temos um governo que faz. Temos, um governo de autênticos “negociantes de missangas”, de “vendedores de escravos”, que querem enriquecer à custa das oportunidades que surgem pelo facto de controlarem o poder político. Poder político esse que até é sustentado por instituições a quem a lei incumbe de realizar eleições com base no legislado e depois nem sequer cumprem com o que aos membros da CNE a lei impõe ficando o País à mercê de leituras que pouco diferem do que está a levar os povos de vários países à rua em acções de protesto que só esmorecem quando de facto os algozes, os ditadores, são afastados do seu reino.Voltando a nós, ao custo benefício dos ditos “investimentos” que a maior parte das vezes não passam de números de circo, o que vemos essencialmente é certos moçambicanos aparecerem como figurões, “nomes sonantes da praça”, como “grandes empresários” e vai-se ver são todos eles apenas muletas frágeis, accionistas tesos à espera que os investidores estrangeiros e os outros invistam para eles mamarem. Serão esses senhores empresários? Não serão chulos? Vamos continuar a permitir que esta farra prossiga?
A cidadania exige de cada um de nós uma melhor reflexão.O país não pode continuar a ter de lidar com casos como o da Linha de Sena, como o do Corredor de Nacala, onde os superiores interesses do Estado andam a ser postos em causa pelos próprios senhores que agindo em representação do Estado acabam baralhando tudo por forma a que a melhor parte fique para eles pessoalmente ou seu séquito.Todos temos de passar a saber que estamos a ser governados por pessoas que nos andam a Nacionais e estrangeiros que ainda se interessam por Moçambique, temos todos de perceber de uma vez por todas que a promiscuidade entre os negócios de Estado e os negócios privados de certos governantes, tem de acabar um dia. Está a ficar tarde para que se evite uma explosão social.Nunca mais haverá emprego para os moçambicanos se nada fizermos para acabar com a trupe de gente que passa mais tempo a tratar dos seus interesses privados enquanto se faz passar por alguém que está a tratar de negócios do Estado, do que a tratar do futuro do País.Moçambique precisa de um Governo de gente séria, com a máxima urgência. Salvaguarde-se, no entanto, o bom nome dos poucos que ainda o são. (Canalmoz / Canal de Moçambique)

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