segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Artilharia , deserções e sequestros

Na capital, milhares de manifestantes entraram em confronto com apoiantes do líder, Muammar Khadafi, na Praça Verde, no centro, noticiou a estação Al-Jazira. “Há manifestações. Ouvem-se slogans contra o regime e tiros”, disse à AFP uma testemunha residente num bairro popular. "Estamos em Trípoli, e há cânticos, dirigidos a Khadafi: 'Onde estás? Onde estás? Aparece se és homem'", relatou à televisão Al-Jazira um manifestante, por telefone. Ainda antes dos protestos nocturnos, dezenas de advogados participaram num protesto contra a repressão e foram identificados pela polícia. Ao longo do dia, segundo a AFP, numerosos residentes afluíram às lojas para comprarem alimentos.A contestação ao regime, que tem decorrido longe da capital, começou no fim-de-semana a fazer-se sentir mais perto de Trípoli. Informações recolhidas pela AFP referem confrontos no sábado em Musratha, terceira cidade do país, 200 quilómetros a leste da capital. De Zaouia, 60 quilómetros a ocidente, chegaram também notícias de violência. Muito graves são os relatos que ontem chegaram de Bengasi. Braikah, uma médica que falou à BBC, não tem dúvidas: na segunda cidade do país aconteceu “um verdadeiro massacre”. Mais de 200 pessoas foram mortas e cerca de 900 ficaram feridas nas brutais acções de repressão dos últimos dias, disse. Na morgue do hospital de Jala deram entrada 208 cadáveres e para outra unidade médica foram levados 12, afirmou a médica. “Noventa por cento dos ferimentos de bala [foram] principalmente na cabeça, no pescoço, no peito, também no coração.”O Departamento de Estado dos EUA informou saber que há “centenas” de mortos e feridos na Líbia. Só na tarde de domingo foram mortas cerca de 50 pessoas em Bengasi, disse fonte hospitalar à Reuters.O termo “massacre” para descrever o que se tem passado na cidade surgiu também noutros testemunhos. “Foram mortas dezenas de pessoas... estamos a meio de um massacre”, referiu uma testemunha contactada pela Reuters. O advogado Fethi Tarbel, cuja detenção temporária na terça-feira deu origem aos primeiros tumultos, referiu-se igualmente a Bengasi como teatro de “massacres”. “Lembra uma zona de guerra aberta entre os manifestantes e as forças de segurança”, referiu à televisão Al-Jazira.A organização Human Rights Watch, que diariamente actualiza o número de mortos, corrigiu domingo à tarde o balanço matinal e calculou que tinham já morrido, pelo menos, 173 pessoas.“É um número ainda incompleto, baseado em fontes hospitalares”, disse à AFP o director da organização em Londres, segundo o qual os ferimentos descritos por fontes médicas são característicos de “armas pesadas”. “Temos fortes inquietações [...] de que esteja em curso uma catástrofe em matéria de direitos do Homem”, acrescentou Tom Porteous.Os piores actos de violência terão ocorrido precisamente em Bengasi, cidade de tradição oposicionista, a mil quilómetros de Trípoli, durante o fim-de-semana, quando armas pesadas teriam sido usadas contra a multidão que acompanhava funerais de vítimas de confrontos anteriores.Num diálogo mantido na noite de sábado pela BBC com outro médico de Bengasi, eram audíveis tiros que, segundo esta fonte, estavam a ser disparados para o ar, em direcção a edifícios, mas também “contra civis”.O líder da tribo Al-Zuwayya, do Leste da Líbia, que vive a sul da cidade de Bengasi, ameaçou entretanto, segundo a Reuters, cortar as exportações de petróleo no prazo de 24 horas se não parar a "opressão dos manifestantes". Outra tribo, a Warfala, ter-se-á juntado já aos protestos.As informações sobre a situação na Líbia são escassas devido às restrições das autoridades. Desde o início dos levantamentos não entraram no país jornalistas estrangeiros, a deslocação dos que lá se encontram tem sido dificultada e as comunicações telefónicas sofrem perturbações frequentes.Sabe-se, no entanto, que Beyida, também no Leste, tem sido outro dos cenários da violência. Relatos de sábado indicavam que 23 pessoas tinham até então sido mortas na cidade, onde o centro estaria ocupado por manifestantes e as forças do regime controlavam entradas e saídas.Um alto responsável líbio afirmou à AFP, sob anonimato, que um “grupo de extremistas islamistas”, auto-intitulado Emirado Islâmico de Barka [antigo nome da região nordeste da Líbia] mantinha sequestrados na cidade membros das forças de segurança e cidadãos. O grupo, disse, “quer o levantamento do cerco imposto para não executar os reféns”.O Emirado, cujo núcleo duro seria composto por islamistas libertados nos últimos meses na Líbia, terá assaltado na quarta-feira um arsenal do Exército em Derna, a leste de Beyida, disse a mesma fonte, segundo a qual um coronel, Adnana al-Nouisri, se juntou ao grupo. O representante da Líbia na Liga Árabe, Abdel Moneim al-Honi, anunciou também ontem a demissão para se juntar “à revolução”.A Liga Árabe e diferentes governos apelaram ao fim da violência e a Líbia ameaçou suspender a cooperação sobre migração ilegal com a União Europeia, se os países comunitários continuarem a encorajar os protestos pró-democracia.

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