quarta-feira, novembro 06, 2013

“Soldados rasos” recebem até 75 mil dólares de um resgate

Desde 2005, a captura de navios rendeu aos piratas na zona do Corno de África receitas entre os 339 e os 413 milhões de dólares (251 a 306 milhões de euros), de acordo com uma estimativa conjunta do Banco Mundial, das Nações Unidas e da Interpol. O relatório nota a “ausência de dados credíveis”, mas diz ter conseguido fazer uma “análise significativa” da actividade entre Abril de 2005 e Dezembro de 2012, na zona do Djibuti, Etiópia, Quénia, Seicheles e Somália . O estudo analisou a actividade de 59 financiadores das actividades de pirataria para chegar àqueles valores e para estabelecer o funcionamento do modelo de negócio da pirataria e o circuito do dinheiro envolvido. Cerca de 179 navios foram capturados durante aquele período. O estudo aponta vários tipos de organização das actividades. Alguns piratas estão envolvidos num modelo “artesanal”, que consiste em operações de pequena dimensão. Noutros casos, vários financiadores juntam-se para uma operação de maior escala. E alguns criminosos com mais recursos financeiros bancam toda uma operação. Depois de os custos estarem pagos, os “soldados rasos” recebem, em conjunto, entre 30 mil e 75 mil dólares de um resgate, cujo valor médio foi de quatro milhões de dólares em 2012, uma descida face ao pico de cinco milhões atingido no ano anterior. Em 2005, o resgate médio era de 390 mil dólares. Porém, como têm de pagar aquilo que comeram e, em alguns casos, também devido a um sistema de multas (por exemplo, por desobedecer a ordens), vários dos "soldados rasos" acabam por receber muito pouco dinheiro, fazendo com que frequentemente reincidam na actividade.
Já os financiadores ficam com um valor que pode ir dos 25% aos 75% das receitas, consoante o modelo de organização da operação.
Uma parte significativa do dinheiro flui para as populações
locais, que vendem vários bens e serviços de apoio à acção dos piratas. “Na costa, outra milícia, diferente do grupo de piratas, guarda o navio [capturado] e surge toda uma economia para o sustentar”, lê-se no relatório. Estes serviços vão desde a reparação de partes do navio até à alimentação, tanto dos piratas, como da tripulação refém. Há ainda o negócio do fornecimento de álcool, de khat (uma planta estimulante, considerada uma droga pela Organização Mundial de Saúde e que é tradicionalmente mascada naquela região) e de prostitutas.  Os pequenos piratas usam o dinheiro que ganham sobretudo em prostitutas, carros caros, droga e álcool. Os piratas financiadores também incorrem neste tipo de gastos, mas estas depesas consomem apenas uma pequena parte do que recebem. O resto do dinheiro é usado tanto noutras operações ilegais (como o tráfico de pessoas e armas), como em actividades legítimas, que vão da exploração petrolífera ao investimento em hotéis.   Num comunicado, um dos autores do relatório, Stuart Yikona, apela a medidas internacionais para travar a circulação do dinheiro proveniente da pirataria. "A comunidade internacional mobilizou uma força naval para lidar com os piratas. Um esforço multinacional semelhante é preciso para interromper e parar o fluxo de dinheiro ilícito que circula no seguimento das actividades deles".

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