quinta-feira, novembro 07, 2013

Análise fria (6)

As redes escolar e sanitária expandiram-se rapidamente, o ensino superior deixou de ser privilégio das grandes cidades e as duas maiores universidades públicas, nomeadamente a Universidade Eduardo Mondlane e a Universidade Pedagógica “invadiram” os distritos, permitindo que um número cada vez maior de moçambicanos tivesse acesso ao ensino superior. Igualmente, foram criadas outras instituições de ensino superior públicas, como são os casos dos Institutos Superiores Politécnicos e as Universidades Lúrio e Zambeze. Questiona-se hoje sobre os cursos profissionalizantes, mas se assim é, significa que existe uma base de comparação.O que se pode questionar é a qualidade de educação, desde o primário até ao superior. As passagens semi-automáticas são vistas como servindo os interesses alheios ao país, com o único objectivos de cobrir metas. No entanto, o livro de distribuição gratuita é um dado adquirido, beneficiando até a quem dele não precisa. Ao nível do ensino superior foi ensaiado o modelo de Bolonha que fracassou, tendo levado o padre Filipe Couto e, talvez, o Doutor Firmino Mucavele, a perderem o protagonismo na arena académica nacional. Enquanto isso, os Professores Ferrão da Unilúrio e Utui da UP vão demonstrando alta capacidade de liderança nas suas respectivas instituições.A capacidade financeira das escolas vai melhorando gradualmente com a descentralização dos fundos, através do FASE (Fundo de Apoio ao Sector de Educação) e, mais concretamente, do programa ADE (Apoio Directo às Escolas), mas a classe docente continua a reclamar de turmas numerosas, insuficiência de pessoal e horas extraordinárias não pagas.O ensino privado também ocupa um lugar de destaque e Moçambique pode orgulhar-se de, num futuro não muito distante, poder exportar mão-de-obra qualificada para outros quadrantes de África e do mundo, desde que se resolva a questão da qualidade, que passa também por melhorar as condições de trabalho e salariais dos docentes.
Em relação ao Serviço Nacional de Saúde, este regrediu qualitativamente desde as medidas impopulares e tsunamistas de Paulo Ivo Garrido, mais preocupado em agradar ao povo do que em resolver os reais problemas do sistema. Garrido procurou sempre culpar os funcionários pelos erros do sistema e facilmente a verdade veio à tona, cujas sequelas se fazem sentir até ao presente momento.Não se pode negar que a cobertura dos serviços de saúde aumentou e muito mais gente tem acesso ao tratamento anti-retroviral, devolvendo a esperança de toda uma nação, mas falta o básico nas unidades sanitárias, muito por culpa da redução do Orçamento do Estado para este sector. Alia-se a tudo isso o descontentamento generalizado dos funcionários, desde médicos até aos demais profissionais de saúde, de que as greves de Janeiro e Maio últimos são disso exemplo.A moral do pessoal está muito baixa, faltam condições habitacionais, não há manutenção de infra-estruturas, não há fardamento e calçado, não há promoções e progressões, há muito que não se admite novos serventes, o orçamento de funcionamento é exíguo, os motoristas não recebem ajudas de custo e, mais grave, não há medicamentos essenciais. No tempo do ministro Garrido a culpa era dos funcionários, mas hoje todo o mundo compreende que a culpa é do próprio sistema, que está à beira do colapso.

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