quinta-feira, maio 08, 2014

Os desfavorecidos estão numa situação crítica

Ivone Soares, deputada pela bancada parlamentar da Renamo na Assembleia da República, considera que, com a provação do pacote eleitoral, não há mais motivos para se continuar a ouvir tiros no país. A também presidente da Liga da Juventude do partido de Afonso Dhlakama, diz não compreender os contínuos confrontos militares porque a Renamo, que foi proponente das negociações, conseguiu a revisão do pacote eleitoral, que considera ser um dos quatro pontos mais sensíveis do conjunto das reivindicações desta formação política.“Com a porta de diálogo que está já aberta, há toda a possibilidade de se encontrar consensos. O calcanhar de Aquiles que existia entre os quatro pontos, que levaram o Governo e a Renamo à mesa de diálogo, foi, primeiro, o pacote legislativo eleitoral. Senti-me extremamente satisfeita quando vi que este ponto, o mais sensível, já era consensual. Não há motivo de continuarmos a ouvir som das armas; não há motivos para ouvirmos que a população está deslocada das suas zonas devido a este conflito militar”, disse. Relativamente aos outros três pontos, nomeadamente a desmilitarização; o desarmamento dos homens da Renamo; e a revisão da política nacional de defesa e segurança, Ivone Soares diz que, não sendo assuntos novos, acredita também ser possível entendimento à volta dos mesmos.“Acredito ser possível que as duas partes cheguem a entendimento. Se conseguiram numa matéria muito sensível que era o pacote eleitoral, não acredito que seja difícil se chegar a consenso nestas matérias”, acrescentou. Em jeito de apelo, a jovem deputada exortou as partes para que ponderem sobre o que é importante a bem do país, dos moçambicanos, dos jovens, idosos e das crianças.“Não acredito que haja alguém interessado na guerra neste país, porque ela só vai retroceder ainda mais aquilo que são as expectativas de todos nós, como moçambicanos, de podermos circular pelo país inteiro sem obstáculos, termos a possibilidade de estudar, de ter emprego, de construir as nossas habitações e de prosperar e formar famílias, que é o sonho de qualquer jovem”, disse a dirigente da Liga da Juventude da Renamo. Para que este sonho seja realizado é necessário, segundo a nossa entrevistada, que haja paz.“Não pode haver situações em que o exército esteja em confronto com guardas da Renamo. 
Que se revisite o que tem de ser revisitado, que se façam as cedências naquilo que é possível fazer e que naturalmente possamos encontrar consensos. A palavra de ordem que gostaria de deixar é a busca incessante de consensos, porque na medição de forças, vamos acabar colocando os desfavorecidos numa situação mais crítica”, lamentou Ivone Soares.Questionada sobre o que leva a Renamo a protagonizar ataques armados, numa altura em que está em diálogo com o Governo, a nossa interlocutora afirmou que isso se devia a falhas de estratégia de comunicação no Centro de Conferências Joaquim Chissano, local onde decorre o diálogo. “As partes não estão a se entender. Ninguém entende o outro. Se estivessem a escutar o que cada um diz, certamente haveria diálogo produtivo. Quando há posições extremadas fica difícil haver consensos”, considerou. Sobre a possibilidade de os ataques da Renamo contra alvos civis e militares serem uma medida de pressão para conseguir ganhos na mesa de diálogo com o Governo, Ivone Soares foi categórica: “sempre que possível, acho que devíamo-nos empenhar no uso de todos os recursos (pacíficos), e a guerra ser a última alternativa porque não só semeia luto, dor, incertezas quanto ao futuro, como acaba criando feridas, deixa mágoas, ressentimentos e marcas profundas. Sempre que for possível encontrar outras formas mais criativas de criar consensos, de ultrapassar qualquer querela, temos usá-las, sempre com a paciência, até esgotarmos todas as formas de resolução dos problemas.


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