terça-feira, maio 03, 2011

"Quando é o último filho todos gostarão ti"

O Ministro da Informação do Governo do Sul do Sudão, Barnaba Benjamin, afirma que as recentes declarações do Presidente al-Bashir nas quais ameaça não reconhecer a independência do Sul caso a tribo 'misseriya' seja proibida de participar no referendo não periga o saldo do Acordo Compreensivo de Paz (ACP).O histórico Acordo Compreensivo de Paz foi rubricado em 2005 na instância turística de Naivasha, Quénia, entre o Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM), do Sul, e o Governo de Cartum, do Norte, pondo termo a uma das mais prolongadas guerras civis no continente e estabeleceu os alicerces sobre o referendo de Janeiro último.

Benjamin, que é também porta-voz do governo, deu a informação no fim da audiência concedida pelo Presidente moçambicano, Armando Guebuza, em Maputo no qual além de passar em revista a situação política naquele pais entregou um convite do líder Salva Kiir a Guebuza para participar nas celebrações da independência do Sul a ter lugar em Julho próximo.


'A região de Abye era parte do Sul com nove chefaturas da etnia dinca, mas que o regime colonial decidiu pela sua transferência, em 1905, para o Norte, por razões administrativas', explicou Benjamin, apontando que o Protocolo de Abyei consagra que as nove chefaturas da etnia ‘ngok dinca’ terão direito a um referendo, onde deverão escolher entre a reintegração no Sul ou permanecer no Norte.O governo de Cartum, segundo Benjamin, pretende incluir os homens da tribo misseriya , que são seus vizinhos no Norte, mas o Protocolo de Abyei consagra que apenas as nove chefaturas ‘ngok dinca’ é que vão decidir o futuro da região. O assunto, segundo a fonte, foi igualmente abordado na audiência com o Presidente Guebuza. O ex-Presidente sul-africano, Thabo Mbeki, lidera uma delegação de alto nível da União Africana (UA) de implementação, que deverá garantir a concretização do Protocolo de Abyei. 'Falamos sobre o assunto com o presidente e queremos o seu apoio na sua qualidade de membro proeminente da União Africana (UA). O conflito armado de Moçambique serviu de lição para a conquista da independência do povo do Sudão', disse a fonte.O reconhecimento do Sul do Sudão é fruto do ACP que o próprio Al-Bashir é signatário e além disso ele disse, bastas vezes, nas visitas que efectuou ao Sul que reconheceria a República do Sul do Sudão, afirmação que reiterou na UA perante outros líderes e em outros fóruns.'Acreditamos que a ameaça ao Sul do Sudão por causa da questão de Abyei está fora de hipótese', reiterou Benjamin.Na audiência, passou –se em revista as eleições que o SPLM venceu com uma maioria esmagadora, os resultados do referendo em que 99 por cento dos sudaneses votaram a favor do nascimento do seu próprio estado. No dia nove de Julho o mundo vai testemunhar o nascimento do 54 estado membro da União Africana. Barnaba Benjamin disse, por outro lado, que é vontade do Sul do Sudão estabelecer relações bilaterais com o povo e o governo de Moçambique, porquanto o novo estado africano quer aprender das experiências do país em relação aos enormes desafios que vai enfrentar na edificação da nova nação que é a República do Sul do Sudão.'Na tradição africana, quando é o último filho todos gostarão de ti incluindo os teus inimigos, por isso esperamos que todos gostem de nós', disse Benjamin.A delegação liderada pelo ministro da informação já escalou outros países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), nomeadamente África do Sul, Angola, Lesotho, Namíbia, Swazilândia e Zimbabwe. Em resumo: o sul do Sudão (dono de 75% das reservas petrolíferas do país) votou, em um referendo realizado em janeiro de 2011, pela sua independência, que deverá ocorrer oficialmente em julho desde mesmo ano. Nascerá oficialmente a nação numero 193 e uma das mais pobres do mundo, porém banhada pelo petróleo que puxou o grande crescimento econômico sudanês e o boom imobiliário de Khartoum, a futura ex-capital. O Sudão do Sul já apresentou o plano urbanístico para sua nova capital, que será construída a 15 km da actual, a favelizada Juba.Não só a nova capital, mas pelo 3 novas cidades serão construídas no novo país, ao custo estimado de 10 bilhões de dólares. Os planos iniciais seguiam ridículos planos urbanísticos zoomórficos: a nova capital teria forma de um rinoceronte e a cidade de Wau, forma de girafa. De onde tiraram essas idéias ninguém sabe, mas parece que a idéia foi descartada, já que o plano apresentado para a nova capital segue o datado modelo de cidade-jardim, com ruas curvas, setorização e amplas áreas verdes.A localização da nova capital ainda não foi determinada, mas o governo do novo país já sonda possíveis investidores e empresas para construir a nova cidade. Oficialmente, o governo do Sudão do Sul afirma discutir a localização e o plano urbanístico da nova capital de forma democrática, já que seria uma conquista coletiva de um povo que lutou coletivamente pela independência do novo país. Mas, observando as grandes reformas urbanas em curso na Ásia e mesmo no Sudão, a tendência é que decisões geográficas, urbanas e macro-econômicas sejam decididas por grandes empresas privadas, de forma não-democrática.

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