quarta-feira, maio 11, 2011

Peixe trocou almoço por anti-retrovirais

Araújo Peixe Almoço, cidadão de 47 anos, pai de sete filhos, residente na cidade do Dondo, detido anteontem pelo Gabinete de Combate à Corrupção em Sofala, em virtude de ter sido surpreendido na posse de grandes quantidades de medicamentos, alguns dos quais de uso exclusivo do Sistema Nacional de Saúde, afirmou que vende os fármacos e trata de doentes para sobreviver. Os medicamentos em referência foram encontrados numa clínica clandestina que funcionava na sua própria residência, no bairro de Nhamaiabuè. Sem papas na língua, o indivíduo, que reconheceu o seu crime, afirmou ontem a jornalistas que o negócio que o levou a ser detido pela segunda vez (a primeira aconteceu em 2008, tendo na altura sido condenado a um ano de prisão) iniciou em 1986, na altura em que o país vivia o conflito armado.No decorrer da entrevista, Araújo Almoço contou que tudo começou quando foi convidado pelas tropas zimbabweanas, na altura estacionadas no distrito do Dondo, a servir de socorrista, tendo, segundo suas palavras, a partir daí aprendido a tratar de doentes e a administrar vários medicamentos. “Quando os zimbabweanos deixaram o país, eu era já conhecido no Dondo como quem sabe tratar de doentes e assim comecei a socorrer pessoas e a vender medicamentos. A comunidade até já gostava dos meus serviços”, disse o cidadão ora detido na cadeia do Dondo, acrescentando que em princípio os medicamentos que usava na sua clínica clandestina eram provenientes do vizinho Zimbabwe. Ele afirmou que hoje em dia os fármacos que usa para tratar dos doentes e para vender são trazidos até si por singulares que já o conhecem como vendedor de medicamentos.Quando questionado sobre a proveniência dos medicamentos que recebe dos seus fornecedores, Araújo Peixe Almoço respondeu: “Não sei nem procuro saber de onde saem esses medicamentos, apenas compro o que preciso e que acho que posso vender”.Entre os medicamentos encontrados na sua clínica ilegal figuram anti-retrovirais, será que administra também este tipo de remédios? - perguntamos ao entrevistado, ao que negou que estes estivessem à venda: “Pessoalmente não estou bem de saúde, eu é que tomo aquele remédio, incluindo um outro de diabetes”.A uma outra pergunta sobre a prescrição de fármacos, Araújo Almoço afirmou que a dosagem e venda dos medicamentos (incluindo a aplicação de injecções) é determinada mediante a descrição da doença por parte dos pacientes. Temos informações segundo as quais o senhor já terá sido detido e condenado pelas mesmas razões que o levam agora a ser novamente detido. Pode contar-nos como é que foi? — indagamos, ao que explicou que a sua anterior detenção aconteceu em 2008, quando foi indiciado de venda ilegal de medicamentos, tendo na altura sido sentenciado a um ano de cadeia. “Quando saí da cadeia mudei de negócio e comecei a vender peixe, mas as pessoas pressionavam-me a voltar ao negócio antigo. Então, por amor à minha comunidade, tomei a decisão de regressar à venda de medicamentos, apesar de saber que é ilegal e punível por lei”, referiu.Entretanto, antes de os jornalistas entrevistarem Araújo Almoço, a Procuradoria Distrital do Dondo exibiu os medicamentos encontrados na posse do detido, alguns dos quais de uso exclusivo do Ministério da Saúde, como é o caso de anti-maláricos denominados por Amocol.Refira-se que a operação que culminou com a neutralização de Araújo Almoço foi coordenada pelo Gabinete de Combate à Corrupção em Sofala e pela Procuradoria Distrital do Dondo, na sequência de denúncias populares, através da linha verde, relativas à existência de uma clínica clandestina no bairro de Nhamaiabuè, cidade do Dondo.

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