terça-feira, janeiro 21, 2014

Um crime contra todos nós

Acabou a tese da “tensão político-militar numa área circunscrita”. Quando se começa a falar de mais de 20 mil famílias deslocadas, em Inhambane e de uma enorme quantidade delas em Sofala, não há tensão político-militar, há guerra, gostemos ou não da palavra. E temos já o Governo do Japão a oferecer-se para apoiar esses refugiados...

Quando se registam combates em Homoíne e em Funhalouro, na província de Inhambane, a tese da área circunscrita vai para as urtigas. Fomos novamente empurrados para uma guerra civil e é essa a situação que temos que enfrentar, com todas as suas péssimas consequências. A época turística na província de Inhambane, talvez a mais procurada do país, foi muito má, com as unidades hoteleiras às moscas, porque é óbvio que ninguém vem passar férias para uma zona de guerra. E agora vai ser cada vez pior. Com a Renamo a atacar em Homoíne e Funhalouro (por enquanto...) não vai tardar a que se tenha que andar em coluna mais umas centenas de quilómetros, o que representa um desastre em termos de segurança dos cidadãos e em termos económicos. E o que mais choca é que isto não cai como uma surpresa. Foram muitos, e repetidos, os avisos de que o caminho que estávamos a seguir só poderia desembocar no que estamos a viver hoje. E tudo leva a crer que, se não mudarmos de rumo, a situação vai agravar-se, cada vez mais, até se tornar insuportável. A Renamo, como qualquer movimento de guerrilha, é quem escolhe onde ataca e como ataca. E nem os melhor preparados exércitos do mundo (o que não é, de forma nenhuma o nosso caso...) são capazes de defender efectivamente cada centímetro quadrado dom território. Não tem equipamento nem efectivos para isso. Daí que se esteja a mandar para as zonas de guerra jovens mal formados e sem qualquer experiência de combate que ou desertam ou acabam mortos num campo de batalha onde não estão a defender os interesses do país mas sim obscuros interesses de grupo, num e no outro lados da barricada. E digo isto porque, embora concorde com a reivindicação da Renamo de uma revisão da forma de constituição dos órgãos eleitorais, estou longíssimo de aceitar que esse pretexto chega para lançar o país, de novo, numa guerra civil. Ao contrário de mim, os dirigentes do Governo e da Renamo acham que sim, que chega. O que é um crime contra Moçambique. Um crime contra todos nós.(Machado da Graça)

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