segunda-feira, janeiro 20, 2014

Ignorados 170 triliões de gás natural

A revisão do plano de energia da África do Sul, um projecto que deverá ser implementado ao longo dos próximos 20 anos, ignora “de forma chocante” as descobertas massivas de gás natural na Bacia de Rovuma, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.Esta é a posição de Johan de Vos, Presidente da Comissão Executiva da Gigajoule, uma empresa sedeada em Pretória e que integra o consórcio da Gigawatt, responsável por um projecto de geração de energia a partir do gás natural em Ressano Garcia, sul de Moçambique.Segundo escreve o jornal sul-africano “Business Day”, esta posição de Johan de Vos surge pelo facto de as descobertas da Bacia do Rovuma constituírem o quarto maior depósito de gás natural do mundo, que pode resolver a crise imediata da energia da Eskom e evitar custos “dispendiosos” de construção de uma terceira nova central eléctrica a carvão.A Gigajoule diz ter realizado estudos que demonstram a viabilidade económica de um gasoduto com 2.450 quilómetros de comprimento e que parte de Cabo Delgado, norte de Moçambique, a Richards Bay, na África do Sul.Segundo de Vos, este gasoduto custaria cinco biliões de dólares americanos. Um estudo encomendado pela Gigajoule a empresa de consultoria VGI, refere que seriam construídos dois clientes âncora na forma de centrais de eléctricas a gás: um em Maputo e o outro em Richards Bay, com uma capacidade combinada para a geração de cinco mil megawatts e, para o efeito, seria necessário um investimento de outros cinco biliões de dólares.
“Trabalhámos dois anos nesse estudo de viabilidade e sabemos que se construirmos uma central eléctrica de cinco mil megawatts no fim do gasoduto este projecto é um bancável”, disse ele.
Com um custo estimado em 10 biliões de dólares, o investimento numa central térmica movida a gás seria “mais barato que o Medupi e irá custar menos a operar se forem acrescidos os respectivos juros”, acrescentou. 
Medupi é um projecto da Eskom, empresa produtora e distribuidora de energia eléctrica na Africa do Sul, para a construção de uma central eléctrica a carvão, um investimento orçado em 17 biliões de dólares. Esta central está em construção próximo de Lephalale, província de Limpopo.“Nós (África do Sul) não precisaríamos de construir a Coal 3”, disse a fonte, referindo-se ao plano do governo para a construção de uma terceira central eléctrica a carvão, além das de Medupi e Kusile.O fornecimento de energia na África do Sul tem sido precário desde 2008, quando a rede de energia da Eskom começou a se ressentir devido a sua incapacidade de suprir a demanda. Os grandes investimentos da Eskom em duas novas centrais eléctricas a carvão têm sido afectadas por longos atrasos de origem técnica e financeira.Os custos dispararam em flecha e a energia ainda não chegou à rede. O tempo e os custos associados aos projectos como o Gasoduto do Norte ao Sul de Moçambique (Gasnosu) mostram que se a construção arrancasse no próximo ano, o projecto estaria concluído até finais de 2018.“Os japoneses estão em tudo isso”, disse de Vos, referindo-se aos projectos de gás em curso na Bacia do Rovuma. “O Primeiro-Ministro japonês esteve em Moçambique esta semana (semana passada) para assinar acordos com o governo na área da energia. Nós (África do Sul) não fazemos nada”, acrescentou. “É tecnicamente viável e terá um impacto social massivamente positivo. Se estivermos todos alinhados, isso pode acontecer, é uma janela de oportunidade que temos agora e não devíamos desperdiçar, não podemos enveredar pelo Coal 3 quando existe esta oportunidade logo à porta”, disse ele.Para Cornelis van der Waal, director da unidade de energia na Frost & Sullivan, uma empresa de consultoria na área de pesquisa de mercado, disse que o gasoduto é a coisa mais “interessante e sensata” que ouviu sobre o desenvolvimento dos depósitos da Bacia do Rovuma.
Segundo referiu, o Plano Integrado de Recursos (IRP) encontra-se em revisão e não é muito tarde considerar o gás natural de Moçambique para o plano de electricidade da África do Sul.
“As companhias sul-africanas e o governo estão realmente a perder uma grande oportunidade em Moçambique, com o gás deles na equação, o debate sobre a necessidade de energia nuclear cai no vagão”, disse ele.“A beleza de um gasoduto é que, se for bem feito, pode replicar uma outra Sasol e reduzir seriamente a nossa dependência em importações de crude. Existem muitas companhias e indústrias que poderiam beneficiar disso, tirar-lhes da rede e fornecer-lhes gás barato e limpo. Rovuma devia absolutamente estar no IRP”, disse ele.Segundo o “Business Day”, a única menção de Rovuma no IRP - e que até foi erradamente escrito Romvula - é o facto de não ter sido considerado no cenário alargado de gás natural devido a distância e os custos envolvidos no transporte de gás natural liquefeito.
Pesquisas em curso na Bacia do Rovuma revelam a existência de reservas de gás natural na ordem de 170 triliões de pés cúbicos, uma magnitude que a Gigajoule considera capaz de responder a todas as necessidades energéticas da África do Sul, estimadas em cerca de 40 mil megawatts, nos próximos 170 anos.

0 comments: