segunda-feira, outubro 28, 2013

A nossa capulana

Foi isso mesmo! A passagem dos 55 anos de elevação de Pemba à categoria de cidade foi três vezes mais animada, igual ao número de dias que durou, do que em todas as ocasiões em que, uma vez ao ano, temos de nos preparar para o que vier no dia 18 de Outubro. As razões podem ser reunidas num saco chamado coincidência, noutro de nome organização, bem como numa algibeira que os mais optimistas poderiam dar o nome de crescimento.Admitindo que o facto de o dia 18 de Outubro ter calhado numa sexta-feira se possa considerar coincidência (como se fosse possível colocá-lo numa quinta-feira, como no ano passado ou num sábado, como será no próximo) a localização da data teve o condão de encontrar citadinos que tinham à sua frente um fim-de-semana prolongado para trás (e não para frente como tem sido habitual), tendo a coisa fervido desde a montante.Não parecia que houvesse festa, porque, estranhamente, o executivo autárquico havia feito tudo aparentemente às escondidas, quase todos os viventes da zona de cimento gritavam a pés juntos que “desta seria uma vergonha”, na explicação errada de que cidade seja simplesmente essa parcela urbana e na mania de que festa poderia ser ver muitos cartazes a anunciarem o que iria acontecer e quem viria da estranja ou das outras paragens do nosso país.Ninguém se lembrou que os bairros estariam, todos, envolvidos numa preparação sem paralelo, organizados para três festas, como a seguir nos poderemos aperceber. E foi o que aconteceu. Ao fazê-lo, a edilidade terá inovado essa maneira de ser cidade, principalmente município, principalmente autarquia…
E no dia 18 aqueles que esperavam pelos cartazes foram surpreendidos pela festa, vinda de todos os bairros, que encheu os recintos públicos existentes e ela (a festa) foi sendo distribuída pelas alamedas, tendo regressado incompleta à sua origem (de novo aos bairros), onde tudo estava feito, incluindo o tradicional arroz e carne de vaca.Esta festa iria contagiar uma outra a seguir: lembrar Samora Machel, na terra onde ele gostava de gozar as suas férias e, por essa ocasião, o festival da Capulana, que, não fosse a forma como o Conselho Municipal voluntariamente assumiu o evento, corria o risco de ser um fiasco.
Todos ouviam falar de 15.000 mulheres com capulanas a desfilar. Todos ouviam gratuitamente a palavra mundial ou internacional e todos ouviam que Pemba seria apenas hospedeira, e por aí participante privilegiada.Ninguém sabia que, para lá da publicidade, estava a verdade de que tudo poderia ser Pemba, desde os participantes até ao uso e abuso dos termos mundial e internacional. Ninguém chegou de fora das fronteiras, para desfilar no festival, nem de outras províncias para o mesmo fim.Como que a sonhar e habituados às manias de coisas pensadas e dirigidas a partir de Maputo, o município desconfiou em absoluto e organizou-se a ponto de assumir a totalidade do festival, entanto que festa.Por isso, preparou-se para que todos os bairros fossem ao festival, nem era necessário pedir que fossem de capulanas – sempre estão! Espontaneamente lá estiveram quantas capulanistasquanto os olhos não puderam mais! Por isso, as cerca de 7000 beldades no desfile.
Vimos capulanas feitas de tudo aquilo que a imaginação conseguiu, cobrindo as diferentes formas de ser bela, diferentes e exuberantes traseiras, vistosos e gingadores peitos, a elegância da mulher na sua mais íntima vaidade e estilos, tanto tradicionais, quanto modernos, outros ainda forçados a coabitarem com a era informática, a caminhar para a digital. Capulana!
Na verdade, a capulana é muita coisa: é beleza, é riqueza, é alegria, é traição, é tradição e de facto é cultura, para o que não foi necessário algum seminário com algumas apresentações empower point, para que ela aparecesse em cheio e enchesse todo o perímetro chamado Pemba, principalmente, a bela praia do Wimbe.
Acabou sendo a nossa festa, de tal ordem que da próxima contemos connosco mesmos. Samora foi celebrado da melhor maneira, que contagiou o dia seguinte, em que entrámos na terceira festa: apuramento do Ferroviário de Pemba para o Moçambola/2014, donde poderemos não voltar cedo, se a razão for a falta de um campo relvado, segundo garantem as autoridades.
É dos sucessos que, por causa dos quais, não merece elogios, a quem quer que seja, porque devia ser sempre assim… (P.Nacuo)

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