terça-feira, março 26, 2013

“Não, ainda está vivo”


Foram a enterrar os restos mortais de Alfredo Tivane assassinado por um agente da Polícia da República de Moçambique (PRM) na passadatTerça-feira (19) no bairro T3, na cidade da Matola. Pouco depois das 23 horas de terça-feira  após de fazer a sua última viagem de transporte de passageiros, entre o Museu até ao mercado de T3, Alfredo - que em vida exercia a profissão de motorista de um mini-bus de transporte semi-colectivo de passageiros (vulgo chapa-100) – acedeu transportar até um pouco mais longe uma jovem cliente que não reside na sua última paragem dessa dia. Antes de transportar a passageira até as cercanias do bairro de Ndlavela, Alfredo deixou o seu cobrador e decidiu parar no bazar para comprar um rebuçado, de mentol. Segundo uma testemunha ocular, assim que imobilizou a sua mini-bus de marca Toyota Hiace, uma viatura ligeira conduzido por um cidadão que estava detido na esquadra, e com matrícula estrangeira, fechou o seu caminho e três polícias rodearam a sua viatura, um do lado do motorista, outro do lado da passageira e outro posicionou-se na frente do minu-bus. Pensando estar mal estacionado Alfredo Tivane tentou recuar o veículo que conduzia quando o polícia que estava do lado da sua porta apertou no gatilho. A bala entrou pelo lado direito da sua região lombar e saiu do lado esquerdo tendo ainda ferido, de raspão a jovem passageira. Alfredo, pai de duas crianças, tombou sobre o volante. A sua viatura ainda deslizou em marcha trás e danificou um barraca. Os polícias acercaram-se, abriram a porta e o jovem de 31 anos de idade caiu inanimado no chão, de barriga para baixo, aos pés dos agentes da PRM que até a altura não pronunciaram uma única palavra, segundo a passageira que acompanhava o finado. Ainda de acordo com a jovem, os polícias, usando os pés, tentaram ver se Alfredo ainda estava com vida. “Este gajo morreu” questionou um dos agentes ao que outro respondeu “não ainda está vivo”. Posteriormente os agentes da PRM agarraram no corpo de Alfredo “um policia de um pé, outro de outro pé e outro pelos braços” e, “atiraram para baixo do banco da carrinha” da corporação que entretanto apareceu.A testemunha ocular, e também vítima dos agentes da polícia, foi aconselhada por alguns populares que entretanto se acercaram do local e conheciam a vítima para procurar um dos irmãos de Alfredo. A jovem localizou Beto, irmão da vítima, e ambos dirigiram-se à 7ª esquadra. Aí contactaram o proprietário do “chapa” que prontamente acorreu ao local. Na busca pelos polícias algozes Beto resolveu telefonar para o telemóvel do seu irmão e do outro lado atendeu um agente da PRM, ao que tudo indica do grupo dos três, e afirmou que estavam no Hospital Geral José Macamo com o corpo de Alfredo.Transportados pelo patrão do finado dirigiram-se ao Hospital indicado onde um enfermeiro informou-lhes que Alfredo, e os polícias, já não se encontravam no local pois a vítima chegou já sem vida e foi reencaminhada à morgue do Hospital Central de Maputo. Na casa mortuária encontraram o corpo já sem vida de Alfredo Tivane, segundo de várias irmãos contudo único a produzir sustento para a sua família cujo patriaca é inválido. Os três regressaram ao bairro do T3 onde dirigiram-se a esquadra e quiseram saber onde estavam os três agentes que estiveram envolvidos no assassinato. Não os encontraram e os agentes de serviço não se dispuseram a ajudar. Já com o sol a raiar Beto foi ter com o seu pai e deu-lhe a triste notícia.  Na sequência de mais esta morte, protagonizada por mais um agente da polícia da 7ª esquadra, os residentes do bairro T3 querem, primeiro, que lhes seja entregue o agente, identificado por algumas testemunhas oculares pelo nome de Pasmir, e que tirou a vida Alfredo, para fazerem-nos sentir na pele o mesmo que aconteceu com o finado e querem também acabar com esta esquadra pois não os protege. Depois da cerimónias fúnebres, os residentes de T3 dirigiram-se pacificamente à 7ª esquadra para exigirem justiça e foram recebidos com agentes da polícia de armas em punho que dispararam, balas de borracha, sobre jovens e adultos de ambos os sexos. Os jovens ripostaram com pedras e durante algumas horas os confrontos tomaram conta da rua 4 de Outubro, ironicamente data em que se celebra a Paz em Moçambique. Há poucas semanas a casa dos padres, próxima a esquadra foi assaltada, e segundo uma residente que connosco presenciou a chegada de um reforço de três viaturas com pelo menos seis agentes da PRM cada, “um dos padres ligou-me para ir pedir ajuda à polícia, cheguei lá e disseram que não tinham efectivo nem carro. Mas agora como é para nos matarem há reforços”.

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