quinta-feira, março 14, 2013

Alunos despromovidos


Sempre clamamos pela qualidade do ensino, todavia, eu defendo, como académico, que a qualidade não se encomenda. Até se criou, lá no Ministério da Educação, uma direcção que se ocupa da qualidade do ensino. Sim, para dar emprego aos nossos concidadãos, tudo bem, porém, que algo se está fazendo para se melhorar a qualidade, acredito nem tão pouco. Eu defendo que a qualidade do ensino passa por ter um professor de qualidade desejada, um docente que esteja na sala de aula porque é a sua vocação, um docente que se sinta motivado e estimulado na sua profissão. E como pressuposto, que os melhores graduados nas classes de conclusão de um nível académico sejam devidamente encaminhados. O que se verifica aqui na praça é que, por exemplo, um petiz com inclinação de mecânica é encaminhado à enfermagem, já que, relativamente, é mais fácil, depois de concluído o curso, obter afectação/colocação. O que se pretende é ganhar-se qualquer coisa que se diz ser remuneração. Mesmo assim, nesta profissão que se tem como alternativa, não existe motivação, ninguém é estimulado, dado que os salários são de fome. Há poucas semanas, a comunidade estudantil da capital moçambicana foi sacudida com o “regresso” de alguns graduados da 10ª classe para 11ª, para que retornem à classe anterior. Isto só é possível em Moçambique. Como foi possível que cerca de 119 alunos tenham entrado no esquema de corrupção, assim, de forma deliberada?
Curiosamente, o aluno e o seu encarregado de educação é que foram penalizados. Não ouvi de detenções, nem que a procuradoria tenha feito alguma investigação. Para quê tanta maçada, se isso é o nosso “modus vivendi”? Para nós, a corrupção apenas é condenada quando se está perante um financiador externo, quando estamos com um forasteiro que não pactua com estas práticas. Os alunos foram “despromovidos”, entretanto, os mentores, aqueles que forjaram todo o esquema para que isso pudesse ser possível, estão são e salvos da silva. Nada que se faça. Nem mesmo a direcção da escola tugiu. Afinal de contas, quem mandou aos encarregados de educação para darem dinheiro aos seus educandos para alimentarem a corrupção? Bem feito para vocês! A sorte não sorriu para vocês, pois, sabemos que há tantos outros que não caíram na malha. Uma anarquia total, em que cada professor que se julga capaz de vender as notas, fá-lo num relaxe, que o seu chefe pedagógico só fica à espera da “massa” ou “tcheda” para forjar a aprovação. Ninguém fica responsabilizado por estes actos que mancham, sobremaneira, a educação pública no país. Como é que a sociedade poderá confiar nas nossas instituições de ensino público? Uma autêntica inércia, uma anarquia total, completa e íntegra. Que os alunos envolvidos se arranjem. Um ano perdido, assim como o seu dinheiro, seguiu o mesmo rumo. De punição, nada se diz. Só um peixe miúdo é que visitará qualquer esquadra policial, para se simular alguma investigação. Como o tempo passa, a PIC vai meter-se em copas e pronto. Tudo termina como começou. Ninguém responde a ninguém, ninguém é culpado. Apenas pessoas honestas é que lamentam o facto, que para outros é normal. (Arlindo Oliveira)

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