domingo, fevereiro 10, 2013

Esteira e cama, tudo está na água...


Daniel Macamo dorme hoje no interior do camião  da empresa para a qual trabalha à beira da estrada de Chehaquelane, principal  centro de refugiados no sul de Moçambique, depois de perder a casa com as  cheias que assolam o país. Enquanto não regressa ao trabalho, o camionista de profissão espera, num pequeno arbusto, pelo abrandamento da água de chuva que invadiu a sua propriedade na região de Chókwé, para retomar a sua vida normal. A situação "vai levar, pelo menos, dois meses", diz convicto, quando questionado sobre o tempo necessário para que o nível da água  baixe na sua zona de origem. Ao lado de uma tenda, onde uma mulher arruma bacias e roupas que sobraram das enxurradas, Daniel Macamo contempla o movimento de carros, mas parece estar mais atento aos seus dois veículos parados no meio da mata, um dos quais já avariado, na sequência da chuva de 15 de janeiro."Tinha duas carrinhas, mas todas entraram na água. Uma está a andar, mas outra não", conta Daniel Macamo, sentando numa cadeira plástica, um dos poucos bens que as cheias não arrastaram. A eventual queda de chuva também é que mais o preocupa, porque esta  pode estragar tudo resto. "Nem dá para dormir. Só se dorme no chão. Esteira e cama, tudo está na água. Todas as coisas que ficaram em casa estão estragadas", diz sobre a situação de milhares de pessoas que se encontram ao longo da estrada que  liga Chókwé a Lionde. Na região de Chihaquelane está montado o maior centro de refugiado das cheias, com 140 mil famílias, que diariamente têm de lutar por um novo tipo de vida que parece não ter fim à vista. E alguns já admitem voltar às suas antigas residências. "Para apanhar água é difícil. Há tanque de camião que passa com água para distribuir a população. Quando acaba fica-se dois ou três dias à espera do novo abastecimento. A água só dá para tomar banho uma vez por dia", refere Daniel Macamo. De resto, conseguir tendas, água e comida constitui agora principal luta de milhares de pessoas que estão lá albergadas, tal como Lázaro Filimão que se queixa de "dormir de qualquer maneira" e nem sabe quando terá uma tenda. Enquanto isso, vai dependendo da boa vontade das outras vítimas das cheias para partilhar tenda. "Porque a relação daqui é feita de conhecidos. Muitas pessoas nesta rua estão à rasca. Quando chove molham, principalmente as crianças, que também dormem fora, com mosquito. Dizem que vão dar tenda, mas são muitas pessoas. Durmo de qualquer maneira", refere Lázaro. O administrador do Chókwé, Alberto Libombo, afirma à Lusa que as autoridades reconhecem essa situação, mas, garante, "os responsáveis dos bairros ainda estão a fazer o levantamento do número de famílias sem tendas". "Hoje vamos iniciar a distribuição de cinco mil talhões", assegura Alberto Libombo. O governo de Chókwé iniciou um processo de parcelamento de novos lotes de terrenos numa zona alta. "Neste momento, o Conselho Municipal foi orientado no sentido de evitar mais parcelamento de talhões na zona da cidade baixa, porque não queremos  que se repita uma situação destas, para não se criarem mais centros de acomodação. Não é fácil gerir mais de 70 mil pessoas, que vivem em condições não muito boas", afirma o dirigente distrital. 




















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