segunda-feira, junho 27, 2011

“ Deveríamos ter um banco agrário"

O presidente da República, Armando Guebuza, decidiu quebrar o silêncio e defender que todo o esforço de investimento na agricultura só será complementado com a criação de um banco cujo foco será o financiamento à actividade agrícola.Guebuza referiu-se ao assunto na cidade de Lichinga, capital do Niassa, durante o balanço definitivo da “Presidência Aberta e Inclusiva” que acaba de efectuar àquela província.A ideia não é nova. O que acontece é que as instituições financeiras têm mostrado relutância por causa das garantias do próprio sector que, para o caso moçambicano, depende da chuva, infertilidade dos solos e pragas. A par da imprevisibilidade dos sucessos da agricultura moçambicana, está o facto de a própria actividade ser desenvolvida, na maior parte, em regime de subsistência. O grande medo das instituições financeiras são “os altos riscos” que o financiamento acarreta, não obstante o facto do sistema de escoamento, compra e agro-processamento, que a princípio devia ser assegurado pelo Governo através do ministérios da Agricultura e da Indústria e Comércio, em parceria com o sector privado, não funcionar.Mas Armando Guebuza diz que o Governo propõe-se a continuar a dialogar com as instituições financeiras que operam no País de modo a persuadi-las a prestarem mais atenção ao sector da agricultura no que concerne à concessão de crédito comerciais e com taxas razoáveis para melhor beneficiar os produtores agrícolas.“Eu penso que para além disso tudo, deveríamos ter um banco agrário. Nós, como Governo, estamos a trabalhar no sentido de conseguirmos estimular investidores a instalarem um banco agrícola e abandonarmos essa história de que financiar este sector comporta muitos riscos”.O chefe de Estado diz que já é altura de a banca nacional começar a olhar com mais atenção para o sector agrícola, e acima de tudo, apostar nele sem os receios que tradicionalmente se têm apresentado e que se resumem nos famosos “riscos incomportáveis e imprevisíveis que este tipo de serviço bancário representa”.Aliás, Guebuza referiu que alguns bancos comerciais já começaram a emitir sinais de mudança radical na sua filosofia de abordagem ao mercado, ao passarem, por exemplo, a apostar – ainda que timidamente – na provisão de serviços que outrora eram rotulados como sendo de alto risco, tais como concessão de créditos agrários, razão pela qual o volume de créditos comerciais, destinados à agricultura, não têm sido proporcionais ao peso e importância que este sector tem para a nossa economia.Esta viragem vem acontecendo há dois ou três anos e – como salientou Guebuza – já começaram a despontar alguns resultados, embora os mesmos se mostrem ainda incipientes e, por conseguinte, “não satisfazem aquilo que são as nossas expectativas”.Na óptica de Armando Guebuza o processo de bancarização rural ora em curso no País está a provocar uma verdadeira revolução na economia nacional, sobretudo ao nível dos distritos, eleitos como “Pólo de Desenvolvimento”, embora o ideal fosse que a par das implantações de mais agências nos distritos os bancos comerciais procurassem também prestar atenção particular ao sector agrícola.
“Há riscos, sim, mas a comida é necessária para a população e, por conseguinte, não seríamos o primeiro País do mundo a descobrir e a liderar com tais riscos”, disse Guebuza no Niassa.
É mais um desafio do presidente da República. Aguarda-se agora pelos resultados.O estado das vias rodoviárias e as dificuldades de escoamento têm estado nos anos diversos anos agrícolas a frustrar as iniciativas dos agricultores. Muita produção tem apodrecido nas mãos dos agricultores por falta de mercado. Isso tem levado os agricultores a dedicarem-se apenas às culturas de subsistência.(Matias Guente)

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