quinta-feira, setembro 23, 2010

É ainda cedo para festejar

Para os nossos interlocutores, não era necessário que houvesse uma revolta popular para o Governo se aperceber que a vida estava a tornar-se insuportável. Alguns deles são de opinião que as medidas deixam algumas “lacunas”, alegadamente porque há outros sectores que mereciam especial atenção, como os da saúde e educação. No tocante aos transportes, referem que o que está em causa não é a tarifa aplicada, mas a desordem que reina nos chapas, uma vez que estes aproveitam-se da exiguidade dos autocarros da TPM (Transportes Públicos de Maputo) para ditar as suas regras, prejudicando os utentes. Quanto à educação e saúde públicas, os nossos entrevistados realçaram a necessidade de se operarem mudanças profundadas nestes sectores vitais, prestando-se maior atenção à componente salarial dos respectivos funcionários. Lázaro Magaia, do Bairro de Magoanine B, pedreiro de profissão e pai de três filhos, diz que a resposta do Executivo pode ser um alívio para a população moçambicana, «mas é preciso que haja fiscalização para que não se repita o que aconteceu depois das manifestações do dia 5 de Fevereiro de 2008, quando os chapas quiseram aumentar a tarifa». Segundo Magaia, depois dessas manifestações os operadores dos semi-colectivos mantiveram os preços, mas os utentes continuam a ser penalizados através do encurtamento de rotas e outros desmandos. «Acaba por sair mais caro, porque muita gente é obrigada a fazer ligações», frisa. Por seu turno, e também em alusão às últimas medidas de choque, Helena Nhaca disse ao nosso jornal que só vai acreditar quando chegar a uma loja e comprar arroz ou outros produtos a um preço mais baixo. «Ainda tenho alguma dúvida, porque o Governo pode dizer que baixou o preço e na prática isso não se fazer sentir no bolso do cidadão comum. Por exemplo, quando chega o mês de Dezembro os preços dos produtos sobem, incluindo os nacionais, mas na véspera há sempre avisos de que não deve haver especulação». Para Delfina Mhula, vendedeira no mercado informal do Xiquelene, «há muito tempo que o Governo devia ter feito isso, porque a vida está difícil. Já imaginou comprar um pão a sete meticais? O tomate custa 500 meticais a caixa, no mercado do Zimpeto, e um saco de arroz de 25 quilos está a 700 meticais. O saquinho de batata de 10 quilos é vendido a 260 ou 290 meticais. E ainda não estamos em Dezembro...»! Francisco Xavier, um jovem que diz ter participado nos tumultos dos dias 1 e 2, afirma que «apesar de ser um pouco tarde, o Governo tomou uma decisão aceitável. As pessoas já estavam cansadas. Onde é que já se viu pagar a taxa de lixo sempre que se vai comprar energia para Credelec? ». Quanto ao papel da juventude na fase que Moçambique atravessa, Xavier sublinha que «é preciso saber que os jovens de hoje não são os mesmos de ontem, têm outra visão. Eles (Governo) chamaram-nos de marginais por estarmos a protestar contra o elevado custo de vida, mas esquecem-se que somos nós que votamos neles». Fonte: imensis.co.mz

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