segunda-feira, junho 04, 2012

Espiritos desaconselham investidores

Um grupo de empresários moçambicanos pretende ocupar para fins turísticos a Ilha Lipulula, nas proximidades da vila de Mocímboa da Praia, na provincia nortenha de Cabo Delgado, e o Conselho Municipal local não vê com bons olhos a pretensão, em razão da sua história, daí que tem estado a pedir opiniões autorizadas para decidir em definitivo.De repente, nasceu um movimento silencioso contra a pretensão de tais investidores, independentemente das razões que evocam porque, localmente, a ilha é considerada sagrada e qualifica-se como uma grande ousadia pretender ocupá-la. 
A Ilha Lipulula está próximo do porto de Mocímboa da Praia.
Segundo o “Noticias” de hoje, os fins turísticos, designadamente edificação de infra-estruturas de acomodação de hóspedes, fazem levantar uma série de questões que desaconselham tal iniciativa, em virtude da sua importância história, mitológica, ambiental, assim como económica, no sentido de que está praticamente encostada ao porto.O pedido ainda não obteve resposta, mas o presidente do Conselho Municipal, Fernando Neves, em face das dificuldades que encontra no terreno, decorrentes de desaconselhamentos vindos das várias forças da sociedade local, pelo seu lado aparentemente mitológico, histórico e ambiental, bem assim, de alguma forma, económico, achou por bem encomendar um estudo.Na sequência disso, conforme dados em poder do “Notícias”, o Prof. Doutor Yussuf Adam, do Departamento de História da Universidade Eduardo Mondlane, fez um memorando que acaba desaconselhando a sua ocupação para um complexo turístico, sugerindo que o município ou a administração do distrito encontrem lugares alternativos para o investidor.
Na verdade, conforme o estudo feito pelo historiador, a Ilha Lipulula faz parte de um banco de areia e fornece ostras e outros bivalves e os serviços de regulação por ela prestados têm a ver com a purificação da água, bem assim os sedimentos deitados na bacia pelo rio Ndjama, que desembocam bem perto são retidos por ela.Por outro lado, segundo o estudo do professor Yussuf Adam, os serviços culturais prestados pela ilha são evidentes, a partir do facto de que se trata de um lugar de culto, assim como o seu sistema de suporte do ecossistema inclui a formação de solos e a reciclagem de nutrientes.
“A ilha é uma vida que se está a formar. A floresta existente nela inclui sete a oito embondeiros, acácias etc. No lado norte existe um pequeno mangal, na praia, devido à água doce que escorre da ilha, cresce um capim que é utilizado pelos patos em migração”, escreve Yussuf Adam.Na verdade, diz o jornal, são visíveis na ilha, normalmente, grupos de aves que o estudo diz atingirem, às vezes, 1000, nomeadamente patos bravos, o que sugere parecer, nas palavras de Yussuf Adam, uma jóia para ser estudada por ecólogos, zoólogos e outros cientistas.
Os mitos à volta da Ilha Lipulula são reforçados pelo facto de existir um túmulo sem inscrições legíveis, uma construção de cimento armado que provavelmente fazia parte de algum sistema de sinalização marítima.
Em 2008, houve quem tenha construído uma estrutura de ferro, pretensamente ligada a alguma religião fixada no terreno e foram encontrados cestos feitos de palmeira verde, geralmente utilizados em cerimónias mágico-religiosas.Acredita-se que o túmulo seja de um rei importante da região que ali foi sepultado. Outros alegam que, ali foi enterrada uma mina submarina que terá aparecido na baía por alturas da II Guerra Mundial.É com base nessas histórias, mais ou menos imaginárias e sobre as cerimónias que se realizam nela, que o estudioso responde a uma pergunta que lhe é dirigida de forma recorrente:
“A minha resposta é que não deve ser instalado nenhum acampamento na ilha, parece mesmo um absurdo que alguém queira fazer tamanha barbaridade. Para além de tudo, a ilha está situada muito perto do porto de Mocímboa, uma rota das lanchas que saem daqui para Malindi e outros lugares. Tem um ecossistema valioso e frágil a qualquer ocupação humana”, diz Yussuf Adam.
Pelo contrário, aquele académico propunha que na ilha fosse colocada uma placa com o nome da mesma e com a indicação de que se trata de um lugar protegido, entre outras iniciativas que visassem a sua conservação, de modo a que de Lipulula não se remova pedra para a construção ou os seus bancos de ostras não sejam usados de forma destrutiva.
“Certamente que os biólogos e ecólogos poderão apreciar ainda mais a importância da ilha, muitos deles passam por aqui e ou estão a viver ou a trabalhar nas ilhas adjacentes, como por exemplo, Vamizi. Poderia ser solicitada uma colaboração deles para fazer um levantamento ecológico da ilha”, disse Yussuf Adam.

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