quarta-feira, novembro 10, 2010

Indianos comprometem brasileiros

A mineradora brasileira Vale revelou, estar a enfrentar dificuldades nas negociações com a concessionária indiana RITES, para usar a linha de Sena no escoamento do carvão de Moatize, na província de Tete, previsto para o primeiro semestre de 2011. De acordo com o presidente da Vale, Roger Agnelli, “há má vontade” por parte dos concessionários da linha-férrea de Sena. “Estamos a conversar com o Governo. O presidente Guebuza tem conhecimento, o Ministro dos Transportes tambem esta informado das negociações difíceis com a empresa concessionária (RITES)”, avançou Agnelli, em exclusivo ao “O País”, quando saía do encontro mantido entre o presidente brasileiro, Lula da Silva, e representantes de empresas brasileiras com investimentos em Moçambique.O presidente da Vale reconheceu que a falta de consenso nas negociações com a empresa indiana pode comprometer o início de operação do projecto de exploração de carvão, na medida em que, numa primeira fase, só a linha de Sena estará disponível para o escoamento da produção de Moatize. Mas espera que prevaleça o bom-senso, de modo a que o mega-projecto não seja inviabilizado.“Espero que a gente termine logo as negociações, de forma a que a pequena parte, que é a questão da ferrovia, não atrapalhe o projecto no seu todo, porque pode comprometer o início de operação do empreendimento”, realçou Roger Agnelli. Os dados da Vale mostram que a exploração de carvão em Moatize vai significar entre 600 milhões e um bilião de dólares de divisas anuais para Moçambique. “Portanto, muda a médio e logo prazos a perspectiva do país, e não é uma questão de concessão ou negociação que tem sido levada sob ponto de vista técnico, de forma duvidosa, que possa vir a comprometer ou atrapalhar todo o projecto”, desabafou o gestor.A Vale importou, em Outubro último, uma locomotiva moderna para usar nas suas operações em Moçambique, mais concretamente no escoamento de carvão através da linha de Sena. Sucede, porém, que a concessionária indiana da linha de Sena recusa que a companhia use esta locomotiva na linha sob sua gestão. “A gente trouxe uma locomotiva moderna, e a concessionária indiana disse que esta locomotiva não passa pela linha-férrea. É uma coisa que não tem sentido, pois a Vale opera e administra mais de 11 mil Km de ferrovia, com mais de 1 500 locomotivas rondando no Brasil e no mundo inteiro, por isso, não faz sentido o que eles estão colocando”, realçou, visivelmente agastado. “O que acontece é que a gente quer andar rápido, mas não tem conseguido nestas negociações”, acrescentou.Questões ligadas às tarifas nas operações de escoamento de carvão de Moatize têm também criado crispação nas relações entre a RITES e a Vale, na medida em que a companhia brasileira não concorda com a proposta avançada pelos indianos, alegadamente por ser incomportável. “A gente não vai ratificar uma tarifa que vem afectar todas as outras operações de carga, a geral, por exemplo, e outras cargas, simplesmente porque o concessionário acha que o retorno dele tem de ser extraordinário. O retorno tem de ser compatível com a operação e viabilize o resto dos investimentos na ferrovia, mas que não se tenha vontade de extrapolar ganhos numa operação em que os interesses de todos nós e, sobretudo, de Moçambique estão em jogo”, disse Agnelli.

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