
No encerramento da reunião magna, que decorreu na
cidade da Matola entre os dias entre os dias 13 e 16 de Abril, o partido
Frelimo, que dita as acções que o Presidente de Moçambique deve encetar,
encorajou Chefe de Estado “a continuar incansavelmente o diálogo e pragmatismo
que sempre o caracterizou, alargando a outras forças vivas da sociedade”.
Em entrevista o professor de Ciência
Política da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), João Pereira, afirmou que
partilhava da expectativa que muitos moçambicanos tinham para “ver quais eram
as medidas concretas do Comité Central especialmente sobre os assuntos de
importância para o país, que é a questão da estabilidade política e questão da
situação económica. Praticamente todos nós partíamos do princípio que iria sair
dali algumas soluções concretas mas infelizmente não vimos qual é o plano que o
presidente (Nyusi) vai adoptar, ou o Governo vai adoptar, no sentido de avançar
com a questão do diálogo”.
Relativamente ao alargamento do diálogo a outros
actores Pereira destaca que a questão que se impões é como alargar e quem serão
esses actores. “Porque os actores também têm diferentes interesses e muitos
desses interesses são também contraditórios. Então se for a alargar para outros
actores quem seriam, a igreja católica, a igreja protestante, a comunidade
muçulmana, a sociedade civil, os doadores? Não se sabe muito bem quem vão ser
esses actores e como serão envolvidos nesse processo todo”.
“Muita das vezes o alargamento para outros actores não
significa encontrar uma solução para o problema, significa também trazer a mesa
de negociações mais actores pode ainda complicar mais porque não conhecem bem
os dossiers, estes novos actores não tem uma dimensão muito profunda sobre as
exigências do partido Renamo e por outro pela resistência do Governo. Então
trazer novos actores para a mesa de negociações só se for para serem
observadores, porque ao fim ao cabo quem tem que encontrar a solução é o
Governo e o partido Renamo”, explicou o académico.
Como dialogar estando simultâneamente em guerra?
Pereira esclareceu que “(...)se o Governo não põe
forças para diminuir, por exemplo, a acção da Renamo em termos de controle do
espaço geográfico significa que vai perder grande parte do território. Perdendo
território, mesmo quando for a mesa de negociação significa o quê, significa
que a Renamo vai com um espaço já controlado e terá muito mais força e
legitimidade para controlar sob aquele mesmo espaço. Não é por acaso que em
todo o processo negocial grande parte dos actores envolvidos na guerra quando
está quase a terminar tentam ocupar o maior espaço possível para lhe dar a tal
força, porque o exercício de poder não se faz por exemplo fora de um espaço
geográfico. Faz-se pela ocupação de um espaço geográfico”.
Ademais, “quem tiver maior controle do território tem
maior força e capacidade de negociar quando estiver na mesa de negociação.
Então faz sentido que o Governo por exemplo este tipo de discurso que é a única
forma de mostrar que também tenho controle de 70% do território e você aí só
tem se calhar 10%. É por isso que a gente vê esta questão parecer uma
contradição entre o discurso sobre a paz e acção militar, e a Renamo também
está a fazer a mesma coisa”, explicou o docente da UEM.
Dhlakama ganhou, as Eleições Gerais, em mais
províncias do que o partido Renamo
“A Renamo está a dizer queremos paz mas também sobre
fogo, porque só assim é que vai acelerar o processo da negociação e vai dar a
possibilidade de a Renamo ter maior força na mesa de negociação, porque se a
Renamo consegue por exemplo ocupar toda zona Centro e Norte do país, por
exemplo, significa que vem à mesa de negociação já com um território controlado
e dificilmente vai aceitar a sua perda. Mas se vem à mesa de negociações sem
operacionalizar grande parte das usas promessas, em termos de ocupação de
espaço, também vem um pouco fragilizada porque não tem controlo sobre o
território”, acrescentou o nosso entrevistado.
Entretanto o polítógo chama atenção para o que mostra
uma análise mais profunda dos resultados das Eleições Gerais de 2014, “o
presidente Dhlakama ganhou em mais ou menos seis províncias, como presidente,
mas a Renamo só ganhou em duas províncias (Zambézia e Sofala)”.
“A questão que se coloca é se nas outras províncias
não votaram à favor da Renamo como é que se justifica por exemplo o argumento
da ocupação desse território? Há aqui também algumas contradições em termos
daquilo que a Renamo pede na questão do seu próprio espaço”, analisou João
Pereira.
Filipe Nyusi ainda precisa de tempo para mexer no
partido Frelimo
Relativamente a instruição da Comissão Política do
partido Frelimo para “aprofundar o processo de descentralização e
desconcentração política e administrativa no quadro da Constituição, incluindo
os ajustamentos legais e/ou constitucionais que se mostrem necessários” o
professor Pereira explicou que não é uma novidade.
O docente de Ciência Política que no início do ano,
depois de Filipe Nyusi dirigir pela primeira vez o Comité Central como
presidente do partido, afirmou que o Presidente de Moçambique não dispunha de
capital político para fazer grandes reformas dentro do seu partido declarou que
o estadista moçambicano continua a precisar de tempo para mexer na máquina
partidária.
O nosso entrevistado explicou que “Se você não tem um
controle forte dentro do partido e nem tem um apoio forte então você procura os
apoios que tem fora mas que são membros do partido e, ao nível das
oportunidades que são criadas lá, pôr os seus pontos de vista. E assim o
partido também se apercebe que não é só aquele posicionamento que os seus
membros defendem, há outras formas de pensar e há outras correntes no partido
que é preciso também por na balança e ver também qual é a melhor alternativa”,
concluiu o professor Pereira.
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