segunda-feira, outubro 19, 2015

Pressentimentos!!!!

A fúria de Jorge Rebelo na Conferencia da ONJ não teve nenhum impacto perceptível nas relações de Carlos Cardoso com o Presidente Samora Machel. Em 1986, Cardoso foi chamado varias vezes ao palácio presidencial para briefings off the recorde com Machel. Durante estas conversas, ele ficou com a nítida impressão de que o Presidente era cada vez mais uma figura solitária. Anos mais tarde Cardoso recordou uma ocasião, quando Machel o chamou a ele e a Alves Gomes ao palácio. Os pormenores desvaneceram-se com o tempo mas Cardoso recordou duas frases espantosas usadas pelo Presidente. “Não tenho estratégia” e “estou perdido”. Mais tarde, Cardoso chegaria a conclusão de que esta conversa era “mais uma indicação de que, por detrás da encenação de unidade na direcção da Frelimo, Samora Machel estava completamente isolado no topo”.
(…)
Machel também perguntou aos jornalistas o que achavam da situação corrente. “(…) Eu disse ao Presidente que a conclusão que eu tinha tirado era a de que eles vão mata-lo”. Machel sorriu. Cardoso mal tinha acabado de falar e ele dizia:” já tentaram. Em Novembro do ano passado (1985), meterem bazucas em Moçambique para me assassinar. Eu sou o obstáculo. Não tenho compromisso. Estou limpo”.
(…)
A 15 de Outubro, Carlos Cardoso escreveu o artigo “Samora: um alvo possível”, no qual ele defendia que, se os militares sul-africanos levassem a cabo as investidas que ameaçavam, então o próprio Presidente podia ser um dos alvos”. O artigo foi submetido a revista Tempo para publicação na edição que sairia justamente a 19 de Outubro. A Tempo amenizou: não eh especulativo, aterrorizador, alarmista? E não publicou.
(…) Uma das primeiras coisas escritas por Cardoso, depois da tragédia de Mbuzine, foi uma homenagem a Aquino de Bragança.”O seu cabelo grisalho contrastava com a juventude das suas ideias e com a permanente inquietude do seu intelecto. Aquino era um anti-conservador por excelência, não cabia sequer nas dicotomias fáceis, esquerda-direita, radical-conservador".

In E Proibido Por Algemas na Palavras. Uma biografia de Carlos Cardoso| por Paul Fauvet e Marcelo Mosse

0 comments: