quarta-feira, setembro 03, 2014

Cimentar a paz e viver com dignidade

A implementação de uma solução político-militar que se assemelhe à que foi adoptada em Angola, em que a eliminação de Jonas Malheiro Savimbi forçou a um acordo de paz ou fim de hostilidades, com o chefe do executivo de Luanda no poder, não pode ser ignorada em Moçambique.Por realismo e responsabilidade, por coerência, os líderes até aqui beligerantes devem encontrar-se e dar sinais inequívocos de que a guerra é coisa do passado. Mas não tenhamos ilusões sobre determinados aspectos. Se, de um lado, temos um PR que ganhou fama de arrogante e prepotente, do outro lado temos um líder da Renamo que se pode vangloriar de ter vencido cercos e tentativas de captura ou assassinato.O cenário real de derrotas ou quase nenhuma vitória para apresentar ao comandante-chefe é deveras perigoso, do ponto de vista de potencial de aventuras de última hora. Algum militar ou policial especialmente treinado como ”sniper” pode tentar eliminar o líder da Renamo com uma bala certeira de última hora. Equacionar tal cenário deve estar presente e constituir preocupação do executivo de Maputo e de toda a liderança da Renamo.  Não queremos mártires que provoquem o reacender do espectro da guerra, qualquer que seja a agenda dos políticos em presença.Nesse sentido, convém que se coloquem todos os potenciais executantes de acções de provocação afastados dos cenários em que circulará Afonso Dhlakama em Maputo ou em qualquer outro lugar do país. O tempo não está para “brincadeiras” de última hora nem para cumprimento de instruções de células estranhas ao poder.Vivemos num país real e sabemos que nem todos são do nosso agrado, mas isso é um daqueles “sapos” que se tem engolir. Ninguém escolhe o vizinho que tem, e a história política do país não é uma linha recta preenchida por gente correcta e alinhada com uma suposta linha correcta. Com tantos interesses em jogo e com a possibilidade real de o poder mudar de mãos, muitos pensarão que eliminar AMMD é prestar serviço a um partido.
É infantilíssimo e perigoso tecer estratégias como essa, mas a história recente de alguns países africanos ensina que a eliminação de adversários políticos tem sido seguida e implementada. Com ou sem sucesso, alguns julgam que tais actos são necessários para se manter ou conquistar o poder. Outra coisa que convém esclarecer e que é necessária no quadro dos esforços para estabilizar o país é não se correr atrás da galinha com sal nas mãos. Existem “dossiers” que devem merecer tratamento acelerado, sério e responsável. A reestruturação das Forças de Defesa e Segurança constitui um daqueles factores dissuasores da violência pré- e pós-eleitoral. É preciso alcançar um patamar irreversível da paz, e isso faz-se com as forças militarizadas aquarteladas e apartidárias.Os ânimos quentes que possam existir no seio dos comandos das forças até agora beligerantes devem ser acalmados através de acções concretas de reintegração e reestruturação. Aquele exército único apartidário a construir deve ser colocado fora do comando dos partidos políticos, através de um executivo sério e de um parlamento actuante. Dizer uma coisa e depois fazer outra não deve ser permitido nem promovido como política de Estado. Moçambique precisa de um figurino de Forças Armadas e da Polícia que se enquadrem naquilo que são os preceitos de uma república moderna. Não se pode ter tranquilidade política e económica quando as forças militarizadas obedecem a comandos partidários. Os acontecimentos violentos das eleições no passado foram protagonizados por forças militarizadas instruídas por comandos partidários.Haja seriedade e responsabilidade, haja contenção viva e quotidiana.
Não se faz política eleitoral com grupos de choque.
Não se faz política republicana e de interesse nacional com agendas feudais.

Um encontro ao mais alto nível entre a Renamo e o Governo de Moçambique deve ser o prenúncio de uma era de paz e de respeito escrupuloso das leis da República pontificadas na Constituição vigente.Compatriotas, dar uma oportunidade à PAZ requer que nos coloquemos ao lado dela e tudo façamos para que não haja derrapagens e instrumentalização de sensibilidades. Moçambique continua a ter capacidade de acolher todos os seus filhos sem discriminação de espécie alguma. Que o protagonismo político seja feito em prol de um novo país, vibrante e respeitador dos direitos políticos e económicos dos moçambicanos. Sem ambiguidades nem subterfúgios, é possível cimentar a paz e viver com dignidade neste país que, afinal, é de todos os moçambicanos. (N.Nhantumbo)

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