quinta-feira, outubro 13, 2011

Ao estilo dos democratas americanos

Um avião cargueiro militar da Força Aérea dos Estados Unidos da América (EUA), “Galaxy C-5”, aterrou ao princípio da tarde de domingo, na Base Aérea das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) localizada no Aeroporto Internacional de Maputo, e deixou no local material que a representação diplomática dos Estados Unidos em Maputo diz ser material de funcionamento da própria embaixada, mas fonte ‘oficiosa’ da Polícia da República de Moçambique, no comando geral, diz ter sido material bélico para a Swazilândia. A Reportagem do "CM" apurou no aeroporto de Maputo, que o aparelho descolou duas horas depois, ou seja, perto das 16 horas, para destino desconhecido.Fontes das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas, garantiram que o avião militar americano transportava material bélico. No entanto, fonte oficial da embaixada americana tem outra versão e diz que é costume aviões militares americanos virem a Maputo trazer coisas para uso exclusivo da embaixada.Um outro oficial superior, dessa vez da Polícia da República de Moçambique (PRM) disse, entretanto, também no domingo, que “o avião Galaxy C-5, militar, traz material militar de cooperação que está de passagem”.No Aeroporto Internacional de Maputo, foi vedada o acesso à placa. Mesmo assim conseguiu-se captar de longe a imagem do aparelho quando se preparava para levantar voo.O adido de Imprensa e Cultura da Embaixada dos Estados Unidos da América em Maputo, Tobias Bradford, refuta a versão das duas fontes moçambicanas, uma militar e outra da Polícia da República de Moçambique. Diz que “o avião já veio a Maputo várias vezes trazer material de uso corrente pelo pessoal da embaixada”.“Os materiais que vieram é para a embaixada mesmo. Os materiais que vêm nunca vão para outro país. São mesmo para uso só da embaixada. Então aquilo não é nenhum material bélico”.“Sobre o suposto suporte do governo americano para a Renamo devo dizer que não tem propriamente base. Devo dizer que nem foi o governo que fez essa acusação mas deixe-me repetir que nós não apoiamos nenhum partido político nem nenhum movimento que queira para além de paz e estabilidade em Moçambique. Nós queremos um Moçambique bem, estável, com progresso económico e político. Então nós refutamos quem diz que nós temos essas intenções.”Mas quem diz que aquilo é equipamento para a Swazilândia são fontes da Policia e Forças Armadas de Defesa de Moçambique, insistiu-se na conversa com a fonte da embaixada americana que ouvimos a respeito do caso. “Aquilo não é material para nenhum país, nem para a Swazilândia nem para outro país. É material para uso da embaixada e neste caso os equipamentos são aparelhos de exercício de ginástica”, afirmou Tobias Bradford, adido de Imprensa e Cultura da representação diplomática de Washington em Maputo.Note que as fontes foram contactadas depois de visto o avião a aterrar. São fontes oficiosas, digamos assim, não oficiais porque não quiseram dar a cara, mas são fontes militares e policiais, insistimos com Bradford.“Isso pode dar uma ideia muito diferente do que era a situação. A situação era muito simples. Esse tipo de avião vem de vez em quando segundo os tipos de necessidades da embaixada. Os materiais que vêm nunca vêm para outro país. São para uso da embaixada.”Mas as fontes disseram que aquilo era material bélico para a Swazilândia. E Bradford respondeu: “Aquilo não é nem para a Swazilândia nem para nenhum outro país. Foi material exclusivamente para uso interno da embaixada e neste caso os equipamentos são para exercícios de ginástica”.“Mas note ainda que quando se fala em material de cooperação não quer dizer que seja material bélico. Nós não trouxemos nada de material bélico”.“Os factos podem dar uma ideia do que era a situação. A situação era muito simples.”“O avião vem de vez em quando para suporte administrativo da embaixada. Não vem com uma regularidade fixa. Depende das necessidades da embaixada e da disponibilidade de um avião daquele tipo”.Contactadas de novo, na terça-feira, as fontes moçambicanas. Reiteraram o que no disseram no domingo. A fonte policial disse, inclusivamente, que no sábado, véspera do avião ter estado em Maputo, houve um encontro com a Polícia para tratar do assunto, tendo estado presentes elementos americanos.Recentemente, no porto de Maputo, um contentor foi apreendido pelas autoridades moçambicanas, porque alegadamente continha armamento que era levado para a Swazilândia. Mas tarde, as próprias autoridades moçambicanas vieram a público dizer que o contentor não continha armamento, mas, sim, “brinquedos para crianças da Swazilândia”.Na Swazilândia a monarquia local está a abraços com a oposição política (civil) que exige reformas constitucionais, políticas e a realização de eleições livres justas e transparentes.Em Moçambique, o líder da Renamo – o segundo maior partido político com representação parlamentar, na oposição – vem ameaçando realizar uma revolução para derrubar o governo da Frelimo. Recentemente, o governo moçambicano acusou os Estados Unidos da América de estar a apoiar militarmente a Renamo para levar avante as suas pretensões de derrubar o executivo do presidente Armando Guebuza, uma acusação também na altura prontamente refutada pela representação diplomática dos EUA em Maputo, que as considerou de “infundadas”.Afonso Dhlakama tem vindo a dizer que o seu partido tem homens fortemente treinados e equipados militarmente capazes de “atirarem em caso de necessidade”, ao que o ministro da Defesa, Filipe Nyussi, respondeu que as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) estão preparadas para actuar “em caso de ameaça à soberania”. Sabe-se de fontes seguras que o exêrcito moçambicano está a concentrar, por prevenção, material bélico não especificado na provincia central da Zambézia, onde a RENAMO está a agrupar os seus sexagenários guerrilheiros.A Embaixada Americana em Maputo emitiu um comunicado nos seguintes termos que passamos a transcrever na íntegra: “Um artigo recente na imprensa sugeriu que um avião militar dos E.U.A. trouxe equipamento militar destinado a Moçambique e/ou Suazilândia. Para esclarecimento, o avião descarregou equipamento de apoio administrativo não-militar, para o uso dos funcionários da Embaixada dos E.U.A. em Moçambique. Nenhum material foi entregue para qualquer outra finalidade ou para uso por qualquer outro país, incluindo Moçambique e Suazilândia. O vôo utilizou o espaço aéreo da Suazilândia na rota para e de Maputo, mas o avião não aterrou naquele país. Como é o caso com todos os vôos, este vôo de rotina de apoio administrativo foi coordenado com o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moçambique. Qualquer sugestão de que este equipamento de apoio administrativo pudesse ser usado por qualquer outro grupo ou para qualquer outro propósito é absolutamente falsa”.“O governo dos E.U.A. é um parceiro forte do governo e povo de Moçambique e apoia programas nas áreas de saúde pública, segurança marítima e alimentar, educação, e desenvolvimento de infra-estruturas. Como demonstra o seu compromisso com estes programas, os E.U.A. estão interessados num Moçambique económica e politicamente forte”.“O porta-voz da Embaixada está disponível para comentar sobre qualquer assunto envolvendo o governo dos E.U.A.” (F. Veloso e B. Álvaro)

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