sexta-feira, setembro 11, 2009

Ovo: de pata ou galinha?

Há quem prefira o ovo de pata porque é melhor.Mesmo assim , todos preferem o de galinha. Qual o motivo desta, digamos, contradição alimentar? Vamos fazer uma viagem e buscar a "explicação" no marketing político. A pata “liberta” o seu ovo e mantém-se em silêncio , ninguém fica a saber o que ela fêz. Já a galinha, mal termina a sua “postura” imediatamente entoa um forte cacarejar, a anunciar que acabou de dar ao mundo mais um fruto da sua produção. Com esta comparação, tento aqui ilustrar a maneira como a Comissão Nacional de Eleições se comportou no momento de dar a conhecer os motivos que levou a exclusão de alguns partidos politicos . No episódio da galinha e da pata, a CNE agiu como a pata: realizou um produto de alguma qualidade, mas não se preocupou no devido momento em divulgá-lo. Está certo que o mais importante para este Orgão Eleitoral sempre foi cuidar da qualidade da seu trabalho o que é fundamental. Mas, diante das dúvidas que agora os diplomatas europeus e dos Estados Unidos acreditados em Moçambique apresentam, e que deverão ser maiores nos dias que se avizinham, não seria o caso de a Comissão Nacional de Eleições partir para a divulgação do trabalho executado ? Cacarejar um pouco, como faz a galinha. Evidentemente, a situação actual não é de completa mudez. O que se ouve lá fora, vindo da CNE, ainda é um leve sussurro (ou um "piu", para mantermos as comparações zoológicas), o que reflecte um contínuo equívoco com as suas sentidas consequências.

O grande equívoco é o de não se ter cuidado as acções de comunicação, via “mídia”, como estratégicas para a CNE no seu relacionamento com a sociedade. E a questão não se resume a uma prestação de contas.A exigência é mais ampla. A CNE precisa de têr a sociedade como sua aliada nos embates, que agora se tornaram incontornáveis. A divulgação das coisas que se fazem na CNE por meio dos veículos de comunicação constitui um indispensável instrumento para atingir e sensibilizar a opinião pública. Se antes os Partidos politicos manifestavam aqui e ali, isoladamente, e limitavam-se apenas ao discurso de uns poucos e maus oradores, hoje ganharam unidade, representatividade e até práticas articuladas. O que fazer, como fazer para que as causas da CNE, tenham a força política e a legitimidade social como têm as causas da saúde, da habitação, da segurança etc? Não há outra forma que não o de mostrar para a sociedade a importância da CNE. Sem a ajuda de um coro popular,os nossos pleitos, mesmo que justos, dificilmente sensibilizarão os ouvidos do dos eleitores. Como não há na opinião pública uma idéia formada sobre o que se faz na CNE , abriram-se flancos para as correntes políticas que se opõem à sua estrutura e quem tecnicamente a representa. O exemplo mais sentido é a maneira, arrogante, como os diplomatas acreditados na República de Moçambique colocaram as suas dúvidas ao trabalho do Orgão Eleitoral.

Em resumo: por deficiência de comunicação, a CNE não só deixa de construir uma aliança utilíssima com a sociedade, como passa a ter a oposição da opinião pública.Um erro estratégico e um suicídio político. Não se pode dizer que as pessoas, os leigos na sua maioria, não têm interesse pelas coisas feitas na CNE.Existe na sociedade moçambicana um crescente interesse por notícias ,mas, ao mesmo tempo, ela revela pouco saber sobre quem produz, como produz e porque razão o seu produto revela-se como tal. A postura de "torre de marfim" perdura em parte por causa da ausência na CNE de uma cultura sobre a importância da comunicação como recurso estratégico de aproximação com a sociedade. Aliás, foi um êrro crasso o Presidente da CNE admitir no encontro com os embaixadores a presenças dos “mídia”. Pode até ser fatal.

Exige-se a Comissão Nacional de Eleições, acções coerentes com a sua natureza e com o seu papel social. Por isso, é imprescindível que a importância da comunicação esteja presente na consciência do seu Presidente e os pares que o acompanham e passe a fazer parte do espírito do Orgão. Assim, dotada de uma cultura de comunicação, a CNE poderá concluir que, aos olhos e ouvidos da sociedade que a mantém, fazer coisas boas não basta. É preciso, também, anunciá-las antes que as meias verdades e mentiras triturem todo um trabalho meticuloso de horas, dias, semanas e meses.

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