sexta-feira, junho 17, 2016

Divórcio na velhice

Quando Eduardo Mondlane (foto1)era vivo ele costumava dizer que a Frelimo só se destruiria se fosse atacada a partir de dentro dela; e não de fora. Mondlane morreu em 1969 e, desde lá ate cá, o Partido ultrapassou vários testes de resiliência. Suplantou o colonialismo, resistiu a Ian Smith e viu o Apartheid se desmoronar a seus pés.
Cedeu ao “banditismo armado” da Renamo, um empecilho que adia o percurso do Pais. Na verdade, a história da Frelimo mostra que ela também se renova por dentro, nomeadamente quando suas franjas de alianças entram em disputas. 
Antes de morrer em Mbuzine, Samora Machel(foto2) era um homem isolado, completamente só na ponta vermelha, como ilustram vários depoimentos espalhados nos escaparates da história não oficial.
Hoje com a crise da dívida e outras mazelas, a Frelimo encarna a figura de um casamento a beira do divórcio. Seus integrantes se vão digladiando em público, e o final do drama contínua difícil de adivinhar. Jorge Rebelo dispara para todos os cantos mas internamente parece incapaz de organizar um coro que siga harmoniosamente os gestos de sua batuta.
Sérgio Vieira pede uma “lava jato” sem se importar com o risco perceptível dos efeitos que isso tem de desintegrar o Partido, trucidando o Estado-Nação. Pior, em vez de usar os foros internos, ele sai cantando a retórica da oposição. Quando ele diz que a Frelimo corre o risco de perder as próximas eleições, ele não fá-lo como quem lança um alerta para que o pacto social seja renovado.
Ao invés de lançar os fundamentos para uma reconciliação interna, SV coloca mais estrume em ódios que se recalcam, subindo mesmo para cima do muro do vizinho, maldizendo com o vizinho, o seu próprio casamento. Tal como Jorge Rebelo, ele investe num divórcio na velhice. Nem a perspectiva de os fundadores da Frelimo deixarem um legado funesto não lhes atrai.

Há qualquer coisa de inverosímil na actual narrativa da Frelimo. Mas o pior ‘e que os filhos seguem a trilha do silencio. Ninguém se arrisca a surgir com um novo discurso, uma proposta de reconciliação interna entre os mais velhos. A Frelimo (foto3) parece estar a precisar de um conclave que reúna os seus fundadores ainda vivos e encontre uma plataforma de consenso para salvar o casamento. Essa ideia de divorcio na velhice não fica bem! Os bons filhos sempre se bateram contra um divorcio na velhice.(M.Marcelo)

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