quarta-feira, junho 05, 2013

Senhores, são 22 milhões também carentes!

Naquilo  que constituí a sua primeira reacção  pública à greve dos médicos e outro  pessoal de saúde que já se arrasta  há mais de duas semanas, o Chefe  de Estado Moçambicano, Armando Guebuza, disse  que “não há como resolver as exigências dos médicos”. Para responder à preocupação  dos médicos, que paralisaram por  completo quase que todas as unidades sanitárias, Guebuza diz que  “o País é pobre”. O chefe de Estado de visita a Coreia de Sul, depois vindo do Japão, reconhece a legitimidade das preocupações dos médicos mas diz que  “não há como resolver as exigências dos médicos, dado que o País  é pobre e não pode dar mais, porque não são só os médicos que estão a exigir o aumento salarial, mas,  sim, quase todos os moçambicanos”, eis a explicação do Presidente moçambicano.

Os médicos e alguns outros profissionais de Saúde que em Moçambique têm estado em greve desde o passado dia 20 manifestaram-se (4) por algumas das ruas da capital do país, tendo reiterado a sua vontade de continuar a dialogar com o governo, para que se encontre uma solução e assim possam voltar a prestar assistência ao público.Esta sua predisposição foi expressa na Praça da Paz, onde a sua marcha foi desaguar, pelo porta-voz Associação Médica de Moçambique (AMM), Paulo Samo Gudo. A marcha começou na sede da AMM, ao longo da Avenida Eduardo Mondlane, continuando depois pelas avenidas Karl Max, Marien Ngouabi e, finalmente, Milagre Mabote.Eles voltaram a se queixar que os actuais negociadores do governo não são, segundo eles, pessoas certas para se chegar a um entendimento, alegando que ao cabo de três dias de diálogo, pouco ou nada se conseguiu, dai que exigem que se troque essa equipa.

“As pessoas que o Governo mandou para efectuarmos o diálogo não são pessoas certas para tal. Passamos três dias a manter conversações, mas não surtiram nenhum efeito”, defendeu Paulo Samo Gudo.
Ele alegou que há certas pessoas no seio do Governo que ainda hostilizam a causa dos médicos e que isso dificulta as negociações entre as partes.“Há pessoas que até hoje chamam-nos vândalos, marginais. Se as coisas continuarem assim, será difícil resolver este problema”, defendeu.Ele alegou que a AMM assinou, há coisa de um ano, um memorando de entendimento com o Ministério da Saúde, mas que para a infelicidade da AMM, os compromissos que terão sido feitos não foram concretizados. Samo Gudo não foi específico sobre o que não terá sido cumprido, mas o governo diz que os médicos são os que tiveram o maior reajuste salarial na função pública. Com efeito, os médicos tiveram 15% contra 7% que se deu aos restantes funcionários, como os professores que para alguns são os que formam os médicos que agora são vistos como sendo os mais exigentes ou que não entendem que o país não tem recursos suficientes para poder pagar salários condignos a todos os servidores públicos.Para eles, os 15% não são nada e exigem um aumento de 100%, o que faria com que os seus salários duplicassem. Apesar de que os números que têm sido veiculados pelos grevistas situarem o salário dos médicos em 18 mil meticais, o governo refuta isso como não sendo verdade. O ministro da saúde, Dr. Alexandre Manguela, diz que nenhum médico recebe abaixo de 27 mil meticais, e que os 18 mil são apenas o salario base antes de se adicionar os outros subsídios, como o de risco e o de turnos.
“Nós assinamos um memorando de entendimento com o Ministério de Saúde, mas nada que foi acordado ali foi realizado. O exemplo disso foi a punição dos estagiários", disse Samo Gudo.
Neste aspecto da penalização dos estagiários, há discórdia porque o MISAU diz que não foi ela quem os penalizou, mas sim a universidade em que estão vinculados como estudantes, e que o estágio era parte da sua formação pratica, dai que nunca deviam ter aderido à greve do ano passado que deu lugar a essa penalização.Eles alegam também que o aumento de 15% tiveram conhecimento dele através da imprensa, o que para alguns é compreensível, porque não seria fácil comunicar a todos os funcionários da saúde e doutras áreas sem recorrer aos Media.“ Nós soubemos do aumento de 15 por cento salarial através da imprensa. O Governo anuncia coisas relacionadas a saúde através da imprensa, porque não nos contactou”, alegou Paulo Samo Gudo.Contudo, Samo Gudo instou a população a deslocar-se aos hospitais, “Existem serviços nos hospitais, não há 100 % de serviços. As pessoas estão com medo de ir aos hospitais, acho que devem ir. Serão tratadas”, disse em tom de quem sente já que estão a penalizar pessoas que não tem nada a ver com os salários baixos que dizem estar a receber.Refira-se que a marcha dos médicos grevistas sofreu algumas alterações, nos últimos minutos antes do seu arranque, no que respeita ao itinerário. O que antes estava programado era que iriam marchar em direcção ao Centro de Manutenção Física António Repinga. Este centro fica nas imediações do gabinete do Primeiro-Ministro, onde o Conselho de Ministros se reúne todas as terças-feiras.Segundo Adolfo Baúle, um dos porta vozes, estas alterações resultaram de uma conversa mantida entre os profissionais da saúde e a Policia moçambicana (PRM). A polícia teria pedido a mudança do destino por crer que naquele rumo criar-se-iam distúrbios as diversas instituições públicas que encontrariam no percurso.“A polícia da quinta-esquadra contactou-nos e pediu-nos para não nos deslocarmos ao Repinga, pois a caminho de lá encontraríamos diversas instituições públicas. Nós aceitamos”, disse Baúle.Estima-se que pouco mais de 300 médicos e profissionais de saúde participaram na marcha, que foi pacífica e ordeira e mesmo o público limitou-se a vê-los a passar, alguns mirones saudando-os.Alguns deles estavam de bocas seladas com fita-cola, no que é visto como simbolismo de que não se lhes tem dada a liberdade de falar, mas tal não parece verdade porque todos os dias tem falado a imprensa e mesmo esta marcha foi coberta pela imprensa pública e privada.Alguns dos grevistas empunhavam dísticos em que se podia ler “juramos salvar vidas, não juramos morrer de fome”.No final do encontro, o presidente da AMM, Jorge Arroz, disse que a greve é de todos os profissionais da saúde “Não queremos riqueza, mas sim pobreza com qualidade”, referiu.

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