domingo, dezembro 12, 2010

Espécies protegidas matam a fome

Algumas espécies marinhas de Moçambique extinguem não por causa da ignorância das pessoas que as matam, mas porque quem os devia proteger diz não aguentar com a fome.Esse é caso de alguns jovens que vendem artigos de decoração na Praia Fernão Veloso, em Nacala-Porto, Norte de Moçambique, alguns dos quais manufacturados a partir de animais aquáticos protegidos, como são os casos de tartaruga marinha e estrela-do-mar.“Sabemos que são espécies protegidas, mas como não temos emprego nem outras formas de sobrevivência, temos que aproveitar esses recursos porque são nossos”,disse João Mussa, vendedor de peças de artesanato feitas a partir de seres marinhos. Mussa e outros companheiros vendem peças diversas, dentre conchas e seus derivados, incluindo de tartarugas marinhas, estrelas-do-mar, corais do mar, entre outros seres marinhos.Alguns desses animais são encontrados já mortos, mas outros são trazidos para o continente ainda vivos. Depois de mortos, são preparados e depois vendidos nas bancas montadas ao longo da praia apelidada com o nome do português Fernão Veloso.Os vendedores capturam parte destes animais pessoalmente e outros são trazidos do alto mar pelos pescadores. Dos animais trazidos pelos pescadores constam tartarugas marinhas, uma das espécies protegidas por lei.Algumas dessas espécies já são raras até para os pescadores que mergulham no alto mar. Por exemplo, durante todo o mês passado, os pescadores não conseguiram trazer nenhuma tartaruga.Mussa disse que a Polícia moçambicana (PRM) já alguma vez esteve naquele local e apreendeu todos os bens que eles vendiam, mas não desistiram da actividade porque não têm outras fontes de rendimento. Aliás, em Abril passado, oito pescadores artesanais foram detidos acusados de pesca ilegal de tartarugas marinhas.O grupo de pescadores tinha sido detido pela Polícia na posse de nove tartarugas, graças à denúncia feita pela população local que dava conta da captura, pelos pescadores artesanais, de um total de quarenta animais daquela espécie.
“Nós sabemos que é proibido capturar algumas dessas coisas. É por isso que só apanhamos um pouco para assegurar a nossa sobrevivência… e mesmo assim é difícil viver. Muitos dias não vendemos nada, mas há dias em que posso vender 500 meticais (14 dólares americanos”, acrescentou Mussa, que se dedica a este negócio desde 1989 e agora tem quatro filhos por sustentar.A busca da sobrevivência foi também a razão porque Assamo Momade abraçou esta actividade há três anos, quando o seu pequeno barco de pesca afundou no alto mar. Sem meios para adquirir um novo barco, Momade decidiu vender conchas e seus derivados.“Na verdade, o negócio não é melhor que a pesca, mas estou aqui porque tenho de fazer alguma coisa na vida”, disse ele, admitindo que, mesmo assim, consegue sustentar os seus dois filhos com o dinheiro resultante da venda das conchas.A semelhança de Mussa, Momade também diz que costuma ouvir falar “sobre essa coisa de espécies protegidas, mas não tem como abandonar a sua nova principal actividade económica”.No entanto, Momade afirma que se conseguisse um novo barco e o respectivo material de pesca, ele abandonaria de imediato o seu actual negócio.Questionado porque não recorre ao fundo distrital de investimento em iniciativas locais, os vulgos Sete Milhões de Meticais, ele disse ter tentado seis vezes, mas não teve nenhum sucesso.“Aquele dinheiro só se dá a aqueles que já têm dinheiro. Nós sabemos que se dão entre eles… eu tentei seis vezes, mas não consegui, chegaram a pedir-me galinhas e três mil meticais de suborno, onde é que vamos apanhar isso. Os chefes dos bairros só se dão entre eles, aos filhos, familiares e amigos”, rematou.

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