terça-feira, junho 09, 2015

Crime e incoerência

                                    Há duas coisas que não vão acabar bem nos próximos dias/meses. Senhor Khalau, actual Comandante-geral da PRM e a Renamo, com suas exigências excêntricas.O primeiro porque será “livrado das suas funções”, apesar da resistência até agora em o PR proceder a remodelação das chefias dos ramos da defesa e segurança. O que está a acontecer, julgo eu, é que a própria polícia está interessada em mostrar ao mundo e ao PR o grau do seu envolvimento no mundo do crime como forma de “incitar” mudanças por dentro. Duvido que o PR resista às evidências que diariamente são apresentadas pela própria polícia em noticiários. Terá que fazer algo, pelo menos do que dele depender. E seguramente Khalau será a válvula de escape. Temo que depois desta onda de denúncias siga a onda de queima de arquivos. É isto já aconteceu no passado. Recordem-se da Brigada Anticrime que desapareceu toda ela. Brigada Mamba a Rio, etc.
                                         A Renamo por sua vez, não para de se enrolar em promessas embaraçosas. Há mais de seis meses que anda de ultimato em ultimato, de ameaça em ameaça. Pior, são ameaças de difícil realização, que só servem para a satisfação individual. Este conselho nacional será mais um malogro, não trará nada de novo se não contemplar a continuação das conversações com o governo. O que está mal no país não é o governo ou a Frelimo.É a forma como a Renamo formula seus problemas e propõe as suas soluções.
Dois exemplos:
1. A Renamo propõe a despartidarização do Estado mas como solução avança a partilha dos cargos de chefias militares a todos níveis, ou seja, a divisão das chefias militares entre membros do governo e da Renamo!
2. A Renamo formula e muito bem que a desmilitarização das suas forças é, ao abrigo da Lei de Cessação das hostilidades, um imperativo. Mas para tal ela propõe como condição a decisão sobre o regime de integração que é na verdade, a divisão das chefias nas hostes militares, da segurança e da polícia, por dois.
3. Bacela. A proposta da Lei para a criação das Autarquias Provinciais. A Renamo sempre quis convencer o público da existência de um ACORDO VERBAL com o Presidente Nyusi que o projecto das autarquias deveria passar tal como a Renamo apresentara. Tendo sido chumbada, a Renamo nem cogitou na possibilidade de encetar negociações para voltar a submeter outra versão, acomodando algumas inconstitucionalidades. Rompeu com o diálogo e embarcou em ultimatos. Desde quando um Estado celebra acordos verbais com entidades políticas ou públicas?
                                        Olha, não voltar a guerra não é um favor que a Renamo faz ao povo. É o que deve fazer. Algumas das reivindicações que a Renamo levanta são legítimas e tem aprovação popular. Mas como sempre, falha na proposta de soluções porque amiúde, são soluções que não resolvem o problema mas sim encobre-os. Alguém pode dizer que sem as armas não haveria democracia em Moçambique. Até pode ser verdade, mas também as mesmas armas da Renamo não preveniram que nos últimos 20 anos pessoas morressem ou com as armas da polícia, ou com as armas das FADM ou com as armas dos bandidos. E as suas armas também matam inocentes em momentos de tensão político-militar.
PS: Acabo pensando que as armas são o principal factor do subdesenvolvimento político deste partido pois o MDM sem armas consegue avançar e estar tão perto das aspirações dos cidadãos que a Renamo, que mesmo arrastando as massas, acaba não fazendo nada. É por isso que digo que este conselho nacional não vai acabar bem. Vai acabar como se nada tivesse acontecido. No mesmo discurso e na instrumentalização da violência. Começa a ficar fora de moda.
PS1: É possível resolver o diferendo eleitoral, com mútuas vantagens para as partes e para o povo moçambicano. Mas isto é só possível se os assuntos forem tratados com alguma ciência e diplomacia.
PS2: E deixe-me dizer-vos mais. O Conselho Nacional da Renamo, à semelhança das reuniões do MDM, são autênticos talkshop; ou seja, LOJA DE ORAÇÃO. Lá só se fala e muitas vezes, só um orador, neste caso, o Presidente do Partido, é queM domina a cerimónia. Não há documentos muito menos consequência sobre o que se decide.
                                     Ao contrário da FRELIMO, que tem documentos para análise, enviados muito antes da reunião, discutem-se os documentos e produzem-se documentos finais, na Renamo não há memória escrita. Apenas há memória, memorizada. As pessoas apenas se recordam do que o líder dissera. Não há referência, menção de documentos publicamente disponíveis para consulta! Enfim, para quem não acompanhar as notícias à saída desta conferência, corre o risco de perder por completo a informação sobre o que de lá se decidiu, à semelhança das outras conferências nacionais.

Desafio quem tiver as decisões dos últimos congressos, conferências ou outro tipo de encontros da Renamo, a apresenta-los para que também possamos consultar.(Dr. Egidio Vaz in facebook)

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