segunda-feira, março 07, 2011

Ditadura Joseduardizada

Vinte pessoas terão sido detidas durante a madrugada, entre as quais os três jornalistas que procuravam cobrir os acontecimentos preparados para a Praça 1.º de Maio e o conhecido rapper Brigadeiro Mata Frakus. Esta primeira ação repressiva das autoridades angolanas levou o Movimento para a Paz e Democracia – que acabou por assumir a rédea do protesto - a exigir a libertação imediata sob ameaça de colocar em marcha "medidas repressivas que poderão pôr fim a diplomacia angolana no exterior". A confirmação de que foram entretanto colocados em liberdade os jornalistas detidos chegou à Agência Lusa pela mão de Gustavo Costa, diretor adjunto do Novo Jornal, órgão para o qual trabalham aqueles profissionais: "Vou agora falar com eles para saber mais detalhes", explicou depois de indicar que já tinha falado com o jornalista Pedro Cardoso, um dos três detidos. Há pouco, ainda num contacto com a Lusa, Ana Margoso, igualmente integrante do grupo de jornalistas que estiveram presos, indicou que todos os manifestantes estão neste momento em liberdade. A repórter apontou terem sido detidas 17 pessoas, incluindo quatro repórteres do Novo Jornal.Num contacto com Lisboa a meio da manhã, o jornalista da RTP Paulo Catarro relatava um ambiente sereno na capital angolana.As autoridades angolanas tinham feito saber que não iriam permitir a manifestação e esta acabou por não ser autorizada pelas entidades oficiais de Luanda.Foi neste sentido que, face ao apelo para um protesto anti-governamental, o Executivo do Presidente José Eduardo dos Santos respondeu com prontidão ao início da madrugada com uma série de detenções cirúrgicas na capital angolana: vinte pessoas foram levadas pela polícia, entre as quais três jornalistas que procuravam cobrir os acontecimentos preparados para a Praça 1.º de Maio.Os membros do Executivo de Luanda já tinham avisado para esta possibilidade, garantindo que estavam preparados para pôr em prática qualquer opção com vista a impedir que os angolanos saíssem à rua: "Quem tentar se manifestar será neutralizado, porque Angola tem leis e instituições e o bom cidadão cumpre as leis, respeita o país e é patriota" – o aviso é deixado por Bento Bento, primeiro secretário provincial de Luanda do MPLA (partido de Eduardo dos Santos).Bento Bento falava após a realização da “marcha patriótica da paz” promovida pelo MPLA, no passado sábado, para garantir que a manifestação marcada para esta segunda-feira não se vai realizar: "Segunda-feira será dia normal de trabalho, somente os estudantes se encontram em pausa pedagógica devido ao carnaval. As lojas, os mercados, as instituições públicas e privadas vão funcionar normalmente".Há várias semanas que estava a ser preparado o protesto em Luanda contra o Governo de José Eduardo dos Santos. "Manifestação Contra a Ditadura Joseduardizada. Angola diz basta. 32 anos de tirania e má governação" é o que se pode ler nos cartazes disponibilizados num dos sítios da Internet que promove esta contestação. A manifestação foi marcada – como sucedeu na Tunísia e no Egito - através das novas redes sociais (SMS e em vários sítios da Internet), inicialmente de forma anónima para contestar o regime de muitas décadas e a exigir, numa segunda fase através do MPDA, “mais democracia e liberdade para que haja mudança".Dias Chilola, um dos activistas deste movimento, espera que o próprio governo "desperte e os outros partidos políticos e a sociedade civil tenham mais intervenção". Às ameaças de Bento Bento, Chilola dizia que eram “discursos para meter medo”, mas garantindo que “o que já não há agora é medo. Com cada dia que passa, as pessoas vão perdendo o medo, porque com medo não se vai a lado nenhum"."Queremos viver a democracia, mas também que a democracia chegue a nós. Que as pessoas escolhidas nos expliquem quais os passos que estão a dar no sentido de melhorar essa democracia. E é por isso que vamos marchar", avisou este contestatário, lembrando que a manifestação é "um direito democrático", razão pela qual acreditava que o povo iria responder à convocatória de "forma pacífica e em liberdade".

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